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Jornalismo

Retrospectiva 2023: temas e fatos que marcaram a Educação

Ataques em escolas, ChatGPT, educação antirracista. Confira os destaques do ano selecionados pela NOVA ESCOLA

PorNOVA ESCOLA

20/12/2023

Em 2023, ataques em escolas exigiram um debate nacional sobre violência no ambiente escolar e cultura de paz. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em 2023, o debate sobre Inteligência Artificial (IA) invadiu as salas de aula, reacendendo as discussões sobre conectividade, acesso e o espaço que a tecnologia tem ou deveria ter na Educação. Porém, foi uma outra invasão, a da violência, que chocou o país. Ataques em escolas deixaram a sociedade enlutada, evidenciando a urgência de se pensar em estratégias para garantir segurança mas, principalmente, o desenvolvimento de uma cultura de paz.

Para além deste desafio, os impactos da pandemia da covid-19 persistiram nas escolas, que vêm desenvolvendo diversas estratégias para lidar com a recomposição das aprendizagens.

Confira a retrospectiva de 2023 que a NOVA ESCOLA preparou e relembre os principais temas e acontecimentos que marcaram o ano na Educação.

Sociedade em alerta: ataques em escolas

Fachada da EE Thomazia Montoro (SP), local de um dos ataques ocorridos em 2023. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Em março, a professora Elisabeth Tenreiro, de 71 anos, morreu após um ataque à faca realizado por um aluno, de 13 anos, na EE Thomazia Montoro (SP). Dias depois, o CEI Cantinho Bom Pastor, instituição particular em Blumenau (SC), também foi alvo de um ataque, que matou quatro crianças, com idades entre 4 e 7 anos. Em junho, um ex-aluno entrou armado na EE Professora Helena Kolody, em Cambé (PR), matando dois estudantes.

A escalada da violência espalhou medo pelo país, exigindo dos gestores escolares ações para tranquilizar a todos e possibilidades para evitar novos ataques, entre outras medidas como o fomento ao debate sobre extremismo, racismo e neonazismo. O quadro demandou um posicionamento da sociedade para impedir que o medo paralisasse as atividades escolares e a implementação de estratégias voltadas a uma cultura de paz nas escolas.

Reflexos da pandemia e recomposição das aprendizagens

Educadores e especialistas já tinham alertado: os impactos da pandemia de covid-19 na Educação continuariam por alguns anos. Ainda que o continuum curricular, uma das principais medidas para a recomposição de aprendizagens, tenha se encerrado em 2022, muitas escolas e redes de ensino tiveram que seguir desenvolvendo ações para atender às diferentes demandas provocadas pelo ensino remoto emergencial.

Assim, 2023 exigiu que gestores e professores pensassem em um currículo que contemplasse desafios específicos relacionados ao período da pandemia. Tudo isso somado àquela boa dose de criatividade que os educadores precisam ter, diariamente, para engajar alunos cada vez mais acostumados aos estímulos da internet.

ChatGPT, Inteligência Artificial e Educação

Há quem diga que um dia os robôs irão dominar o mundo, já outros duvidam completamente dessa afirmação. Se isso vai ou não acontecer, não se sabe, mas que esse debate surgiu com força em 2023, surgiu –  em boa medida, impulsionado por uma plataforma de Inteligência Artificial, o ChatGPT (Chat Generative Pre-trained Transformer).

No final de 2022, o ChatGPT foi disponibilizado ao público e logo se popularizou. Na prática, ele responde a perguntas em poucos segundos. Mas essa não é bem a novidade – haja vista a Siri, da Apple, e a Alexa, da Amazon. O que chama a atenção no ChatGPT é a capacidade de responder a questões mais complexas e específicas em linguagem mais fluida, como em uma conversa.

A tecnologia logo chamou atenção de professores e alunos que começaram a se questionar sobre o impacto da ferramenta nas salas de aula. Diante das inquietações, a NOVA ESCOLA ouviu as dúvidas dos professores e foi em busca de explicações e possibilidades de uso do ChatGPT na Educação. E ficou evidente que a ferramenta tem grande potencial para ajudar os professores se integrada à intencionalidade pedagógica. 

O ChatGPT pode ser usado na elaboração de aulas e na pesquisa de conteúdos. Já em sala, ele pode ser utilizado de diversas maneiras e em todas as áreas de estudo para pesquisa, revisão e comparação. A partir do seu uso, os professores também podem realizar o letramento digital e debater questões éticas sobre o uso seguro da internet.

Polêmica no PNLD: livros digitais ou impressos

Para as escolas e redes que optaram pela adesão ao Programa Nacional do Livro e do Material Didático 2024 (PNLD), agosto de 2023 foi o momento de escolher os títulos e materiais para os Anos Finais do Ensino Fundamental. Nessa etapa, educadores deveriam selecionar livros didáticos por componente curricular para apoiar o desenvolvimento de todas as competências gerais e específicas, além das habilidades estabelecidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

No entanto, uma decisão da rede estadual de São Paulo, que depois foi revertida, acendeu uma polêmica. O governo paulista chegou a anunciar que, para os Anos Finais, adotaria, a partir de 2024, um material didático 100% digital, com slides produzidos pela própria secretaria. Porém, diante de uma enxurrada de críticas, o governo voltou atrás. Ainda assim, o debate estava posto: livros digitais versus livros impressos.

Para Audari Maria, professora e membro do Núcleo de Recife (PE) da Conectando Saberes, um não exclui o outro. “Para o desenvolvimento do cérebro é importante que os alunos tenham acesso a materiais de leitura nos dois formatos (impresso e digital), porque eles se complementam no desenvolvimento da plasticidade cerebral”.

Investimento federal: R$ 3 bilhões para a alfabetização

Dados da pesquisa Alfabetiza Brasil, realizada em abril de 2023 pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacion Anísio Teixeira (Inep), mostrou que apenas 43% das crianças do 2º ano do Ensino Fundamental estavam alfabetizadas em 2021 – o que representa uma queda em relação aos dados de 2019, quando mais de seis a cada dez crianças eram consideradas alfabetizadas.

Para reverter esse cenário, foi lançado em junho de 2023, o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, que tem a meta de garantir que 100% das crianças brasileiras estejam alfabetizadas ao final do 2° ano do Ensino Fundamental, além de assegurar a recomposição das aprendizagens de todas as crianças matriculadas no 3°, 4° e 5° ano, que foram afetadas pela pandemia. 

Os esforços acontecem com o investimento de recursos financeiros e apoio técnico da União, totalizando cerca de R$ 3 bilhões, que devem ser distribuídos para todo o país até 2025.

Herói sem capa?

A frase “nem todo herói usa capa” é um daqueles clichês frequentemente utilizado para definir o professor da Educação Básica no Brasil, em especial da rede pública. Peça-chave no processo de ensino e aprendizagem, sua atuação quase sempre extrapola a sala de aula, a exemplo dos anos de pandemia, quando muito se falou sobre a determinação e a resiliência desses profissionais. 

Mas interpretar o magistério como uma missão altruísta implica em negligenciar dificuldades presentes no dia a dia do professor. Por isso, os debates sobre condições de trabalho foram momentos importantes do ano, que visaram garantir a valorização da carreira docente e entender a importância da profissão para a sociedade.

Ainda assim, é sempre importante reconhecer os esforços e atuação de educadores por todo o país. Foi esse o objetivo do Prêmio Conectando Saberes e também do Prêmio Educador Nota 10, que trouxe essa visibilidade nas áreas de Sustentabilidade, Direitos Humanos e Inovação. As ações de educadores brasileiros, inclusive, romperam fronteiras e tivemos escolas do Brasil entre as melhores do mundo.

Com o objetivo de identificar projetos transformadores de escolas ao redor do planeta, o World’s Best School Prize de 2023 (Prêmio Melhores Escolas do Mundo, em tradução livre), um dos principais prêmios internacionais de Educação, premiou a EM Professor Edson Pisani, de Belo Horizonte (MG), na categoria Escolha da Comunidade; e a EEMTI Joaquim Bastos Gonçalves, de Carnaubal (CE), na categoria Apoio a vidas saudáveis.

Educação Antirracista

O trabalho pela perspectiva antirracista é positivo para todos os alunos e é caminho para uma Educação de qualidade. Foto: Lana Pinho/NOVA ESCOLA

A NOVA ESCOLA sempre trabalhou em prol da equidade e, em 2023, iniciou um movimento potente para pautar o tema junto à sociedade e ajudar os educadores a levarem práticas antirracistas para as escolas. 

O Movimento Escola de Respeito produziu conteúdos para tirar dúvidas sobre as leis 10.639 e 11.645, sobre o que é e como construir um currículo decolonial, além de explorar a diversidade por meio da curadoria de autoras negras para apresentar às turmas, brincadeiras indígenas e africanas e de etnomatemática, entendendo que a temática deve estar presente em todos os componentes, indo além das aulas de História.

Atualidades em sala de aula

O ano de 2023 também teve acontecimentos importantes que puderam enriquecer os debates dentro das escolas, incrementando o processo de ensino e aprendizagem.

Uma oportunidade foi a Copa do Mundo de Futebol feminino, que aconteceu na Austrália e Nova Zelândia. Não deu para a seleção brasileira, que caiu na fase de grupos, mas foi importante para fortalecer o futebol feminino, que ganhou visibilidade. Na escola, foi possível discutir gênero e aproximar as meninas do futebol, além de levar o esporte para as mais diversas atividades, como para as aulas de literatura, por exemplo.

Outro destaque do ano foi a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 28, ocorrida em Dubai entre o final de novembro e início de dezembro. A realização da COP foi uma ótima oportunidade para intensificar as reflexões sobre o clima nas escolas, afinal, conforme o relatório “Meio ambiente e mudanças climáticas”, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef),  “esta é a primeira vez que uma geração global de meninas e meninos crescerá em um mundo que se tornou muito mais perigoso e incerto devido às mudanças climáticas e ao meio ambiente degradado”.

Como essa retrospectiva deixa evidente, o ano de 2023 foi repleto de desafios e avanços. E, mais uma vez, atravessamos juntos, buscando a melhor Educação para todas as crianças e adolescentes do nosso país. Nosso muito obrigada e seguimos ao seu lado. Até 2024!

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