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Jornalismo

Educador Nota 10: conheça os vencedores da categoria Sustentabilidade

A 25º edição do Prêmio reconheceu práticas que integram o currículo escolar aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU

PorThais Paiva

25/10/2023

Conheça os trabalhos de educadores que foram destaque na categoria Sustentabilidade. Foto: Getty Images

Mudança climática, pandemia, desmatamento, desperdício de recursos naturais são alguns temas e desafios que as novas gerações já se deparam em sala de aula quando o assunto é a sustentabilidade de nosso planeta. Nada mais oportuno, portanto, que a 25º edição do Prêmio Educador Nota 10, que reconhece professores e gestores escolares da Educação Infantil ao Ensino Médio de escolas públicas e privadas de todo o país, elegesse essa como uma das suas três categorias, ao lado de Direitos Humanos e de Inovação e Tecnologia.

Dada a urgência que esses temas representam, este ano, o Prêmio - uma correalização do Instituto Somos com a Fundação Victor Civita e apoio da NOVA ESCOLA - incorporou os valores da Agenda Global 2030 das Nações Unidas, que envolve 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) para combater a pobreza, assegurar direitos e combater mudanças climáticas.

Ao todo, nove boas práticas de aprendizagem idealizadas por professores e gestores escolares foram reconhecidas. Os premiados em terceiro lugar de cada categoria receberão um vale-presente no valor de R$ 10 mil, uma bolsa integral de pós-graduação e 12 meses de acesso à plataforma Profs, de formação de educadores. Os que ficarem em segundo lugar, além desses benefícios, ganharão mais R$ 5 mil no vale-presente, totalizando R$ 15 mil. Já os vencedores de cada categoria vão receber o vale-presente no valor de R$ 25 mil, bolsa de pós-graduação e acesso a 24 meses da plataforma Profs e concorrerão à categoria Educador do Ano. O ganhador do melhor projeto receberá R$ 25 mil adicionais para o investimento em serviços, produtos e infraestrutura na escola em que o projeto foi realizado.

Abaixo, conheça cada uma das três iniciativas premiadas na categoria Sustentabilidade.

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Otimizando o uso da água em solo nordestino

De Juazeiro do Norte (CE), Francisco Rodrigo de Lemos Caldas, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, partiu de uma problemática comum à realidade nordestina, a estiagem, para desenvolver com seus alunos do 2º ano do Ensino Médio Integrado ao curso de Eletrotécnica o projeto de um purificador de água. “Embora estejamos no Cariri, uma região privilegiada nesse aspecto, muitos alunos têm parentes na zona rural ou que convivem com o sistema de cisterna (sistema que consiste em um reservatório que armazena água da chuva)”.

Além da relevância da solução para as comunidades do entorno, outro propulsor da iniciativa foi o interesse de um estudante. “Ele me procurou para entender melhor como funcionava um purificador”, lembra o professor. O interesse desse aluno motivou Francisco a implementar algo que ele estudava há muito tempo: a abordagem da Aprendizagem baseada em Projetos e da Educação STEAM.

“A partir da definição do tema, pensamos na questão norteadora: como podemos reaproveitar a água para ajudar no seu uso racionado?”. Assim nascia o projeto Ecopuro: purificador sustentável, que convocou os estudantes a construírem protótipos de purificadores que possibilitassem o reuso de águas cinzas, isto é, das águas residuais das edificações que já foram utilizadas em chuveiros, lavatórios de banheiro, tanques e máquinas de lavar roupa e que podem ser aproveitadas em diversos usos não potáveis. “Não era sobre produzir o filtro em si, mas todo o caminho metodológico que o aluno tinha que desenvolver: a ideação, a ancoragem, o planejamento a partir do materiais, a prototipagem mão na massa e, por fim, o uso na comunidade”.

Além de dialogar diretamente com o ODS 6, “Água potável e Saneamento”, que tem como intuito garantir a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento básico para toda a população, a questão também interage com o ODS 3 (saúde e bem-estar: assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos), o ODS 11 (cidades e comunidades sustentáveis: tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros e sustentáveis), o ODS 12 (consumo e produção responsáveis: assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis) e o ODS 13 (ação contra a mudança global do clima). 

“A partir da ideia de produzir o filtro, fomos investigar os materiais mais apropriados. Um protótipo foi construído a partir de resíduos disponíveis no laboratório de construção, usado pelo curso de Edificações. Outro aluno teve a ideia de trazer cascas de maracujá de um restaurante para ver se funcionava como filtro. Então, montamos dois filtros diferentes: um com material de construção e um orgânico. Mas o primeiro filtro se mostrou mais eficaz”, conta.

Também professor no Ensino Superior do Instituto, Francisco pôde ainda contar com a ajuda valiosa de um aluno da iniciação científica do curso de Engenharia Sanitária Ambiental, que orientou os colegas em relação aos aspectos mais técnicos da empreitada. “A monitoria desse aluno foi fundamental para o sucesso do projeto”, avalia o professor.

Os resultados obtidos pelos alunos foram dois protótipos de filtros para tratar águas cinzas de uso doméstico. Após o tratamento, pode-se fazer o reúso dessas águas, dentro das residências, para lavagem de pisos, descargas, regar plantas ou para lavar o quintal. 

Para Francisco, é urgente que o uso responsável dos recursos hídricos e a educação ambiental adentrem as sala de aula. “O mais interessante do projeto foi preparar o aluno para resolver um problema concreto, vê-lo ter a percepção dos conhecimentos que ele precisava mobilizar para sua vida palpável”, conta.

Projeto "Ecopuro: purificador sustentável"

Educador: Francisco Rodrigo de Lemos Caldas

Escola: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará

Cidade: Juazeiro do Norte (CE)

Por que o projeto é inovador?

O projeto usa a experimentação, com forte embasamento teórico, para a resolução de um problema pertinente ao seu território. O trabalho do professor é inovador na medida em que sua metodologia pode ser aplicada em contextos diferentes dentro da área. A atividade experimental realizada com protagonismo dos estudantes, e não como simples exposição e verificação observável de conteúdos teóricos, deve ser valorizada. As etapas de avaliação, bem como o uso de uma rubrica, também são pontos importantes e diferenciais do projeto desenvolvido, e que podem ser aplicadas, com as adaptações necessárias, em outros contextos por professoras e professores da área. 

Aprender com o mundo lá fora

 

As áreas externas do Centro de Educação Infantil  Nazaré, em Blumenau (SC), foram o grande campo de pesquisa e experimentação das práticas infantis realizadas no âmbito do projeto Do barro ao papel: a natureza como lugar de pertencimento e desenvolvimento.  A iniciativa fomentou as aprendizagens de crianças de 2 a 3 anos por meio da compreensão da importância de respeitar a natureza e do desenvolvimento de práticas que se valeram dos elementos naturais disponíveis no entorno para fazeres cotidianos como pintura, desenho e colagem. 

Tudo começou em 2022, quando a professora Nadine de Andrade foi contratada como parte da equipe de apoio pedagógico para observar as crianças, em especial, uma aluna com Síndrome de Down. “Ela gostava de ficar embaixo da pia e da mesa e, ali, ficava sozinha. Então, pensei em construir uma barraca com galhos do bosque que há no terreno da escola para que as outras crianças interagissem com ela e todos pudessem participar das narrativas brincantes”, conta. 

Quando chegou à área verde, no entanto, Nadine se deparou com um ambiente riquíssimo, repleto de possibilidades de pesquisa e interação, porém, abandonado. “Temos no terreno da escola a Trilha do Tatu, um barranco, árvore de amoras e até um galinheiro, mas eram espaços pouco explorados e sem cuidados”, lembra. 

Com essa constatação, a professora conversou com colegas e gestores e fez a seguinte provocação: e se, ao invés de trazermos a natureza para dentro da sala, nós levássemos as crianças até ela?

Com o projeto de pé, os espaços foram revitalizados e os pequenos  passaram a frequentá-los para realizar explorações, brincadeiras, pesquisas e coletas de materiais. “Um dia estávamos brincando no barranco e uma criança optou por não subir e descer. No lugar disso, pegou galhos próximos e começou a empilhá-los. Quando perguntei o que ela estava fazendo, ela disse que estava fazendo uma fogueira. Daí surgiu a ideia de fazer uma fogueira com as crianças lá fora e comer marshmallows. Depois, utilizamos as cinzas para fazer a tinta que elas usaram em suas obras de arte”, conta a educadora.

As orientações da professora para a coleta de materiais na natureza são respeitosas à vida das plantas e animais. Por exemplo, elas são orientadas a não arrancar flores e coletar apenas o que já está caído no chão. Também não devem retirar animais do habitat natural para observação.

Para Nadine, quando se trata de crianças pequenas como a de sua turma, a melhor forma de desenvolver atitudes sustentáveis, a compreensão do mundo e das relações de respeito com a natureza é trabalhar esses temas cotidianamente de forma a fazer as crianças viverem a sustentabilidade como experiência diária. “Nós somos natureza, esse é nosso espaço de pertencimento. Falamos tanto de sustentabilidade com as crianças, mas como elas vão respeitar e cuidar de algo que não têm uma relação afetiva? Por isso, a importância de levá-las para fora para que criem essa conexão, respeitem e cuidem dela.”

Além disso, o projeto trouxe a concepção de inclusão ao possibilitar que todas as crianças participassem de tudo o que era proposto, respeitando suas características e ritmos. “Na turma, tínhamos três crianças com necessidades específicas, uma com autismo e duas com Síndrome de Down. Nossa maior preocupação foi contemplar todas elas nesses percursos que fizemos lá fora”.

Projeto "Do barro ao papel: a natureza como lugar de pertencimento e desenvolvimento"

Educadora: Nadine de Andrade

Escola: Centro de Educação Infantil Nazaré

Cidade: Blumenau (SC)

Por que o projeto é inovador?

Ocorreram aprendizagens significativas das crianças, como o desenvolvimento da compreensão de por que respeitar a natureza e relacionadas a práticas, como o aproveitamento de elementos naturais para fazeres cotidianos nas atividades de Artes (pintura, desenho, colagem). Destaque para os anedotários de cada criança, com pequenos textos que compartilham a forma como cada uma construiu relações com a natureza de uma maneira única, desenvolvendo narrativas brincantes, pesquisas intensas e ações sustentáveis, cada vez mais frequentes, com o mundo vivo que é parte do cotidiano no CEI Nazaré. 

Protagonismo que muda a cidade

 

No início, Eliana Corrêa de Araújo, professora de Educação Física na Escola Estadual de Ensino Integral Rosa Francisca Mano, em Euclides da Cunha Paulista (SP), nem podia imaginar quão concreto se tornariam os frutos do seu projeto Comunidade ativa - jogar, brincar e viver, que desenvolveu com seus alunos do primeiro ano do Ensino Médio.

Ao observar que muitos levavam skates para a  escola e não tinham um espaço específico para andar e realizar manobras, a professora idealizou um projeto que objetivava a criação de uma pista de skate na cidade. “Começamos fazendo um levantamento e estudo das áreas ociosas da cidade para pensar onde seria possível fazer a revitalização e desenvolver a pista”. Outro critério utilizado na escolha do local foi o quanto aquela construção poderia favorecer a comunidade do entorno escolar, proporcionando maior qualidade de vida. 

Com o espaço escolhido, os estudantes passaram então a estruturar as ideias em momentos de debate em sala de aula, ocasiões nas quais também discutiram o tipo de material que poderia ser usado, entre outras questões técnicas. As conclusões foram sistematizadas pela educadora em um documento e apresentado à Câmara Municipal. “Eles nos concederam uma hora de apresentação. Os alunos subiram à tribuna para apresentar para a comunidade e poder público o projeto e todos ficaram impressionados”, lembra a professora.

A emoção foi grande quando, cerca de 40 dias depois da apresentação, começaram as obras para a construção da pista de skate em um conjunto habitacional da cidade. “A voz deles teve um poder de transformação. Os alunos, em um primeiro momento, achavam impossível nossa ideia sair do papel e transcender os muros da escola. Quando a pista ficou pronta, eles foram lá para ver o resultado do trabalho. Conversei com mães do bairro e elas falaram que foi o melhor projeto que foi desenvolvido ali”, comemora Eliana.

Além de ter fomentado o protagonismo e o envolvimento dos jovens com a comunidade, hoje, a pista de skate integra um centro esportivo que conta com outros recursos e equipamentos para a prática do esporte, da atividade física e do lazer.

Projeto: "Comunidade ativa - jogar, brincar e viver"

Educadora: Eliana Corrêa de Araújo

Escola: Escola Estadual de Ensino Integral Rosa Francisca Mano

Cidade: Euclides da Cunha Paulista (SP)

Por que o projeto é inovador?

Alinhado com a matriz curricular do estado (SP) e com as competências sugeridas pela BNCC/EM, o projeto potencializa a ideia de uma educação física que contribui para que os jovens desenvolvam saberes relacionados a um projeto de vida (ativa), que contempla o movimentar-se dentro e fora da escola. Relação interessante com um currículo que realmente mobiliza os/as estudantes para o tema Projetos de Vida na Escola, incorporando os campos de atuação social – campo da vida pessoal e campo de atuação na vida pública.  

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