Prêmio Educador Nota 10: conheça os três vencedores da categoria inovação e tecnologia
Propostas, que se apoiam em recursos tecnológicos, desenvolvem ações inovadoras para mobilizar saberes e estimular a aprendizagem
24/10/2023
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Jornalismo
24/10/2023
Em 2023, o Prêmio Educador Nota 10, uma das maiores premiações do país, chega a sua 25ª edição com duas novidades: a participação do Instituto Somos na realização do Prêmio, ao lado da Fundação Victor Civita, e o alinhamento com a Agenda Global 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). O documento inclui os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) para que as nações possam erradicar a pobreza, assegurar direitos, proteger o meio ambiente e combater as mudanças climáticas, entre outros desafios. De acordo com esses valores, neste ano, as temáticas do Prêmio foram categorizadas em três eixos: Direitos humanos, Sustentabilidade e Inovação e tecnologia.
Nove educadores serão homenageados no evento, que acontece em São Paulo, no dia 25 de outubro. Os premiados em terceiro lugar de cada categoria receberão um vale-presente no valor de R$ 10 mil, uma bolsa integral de pós-graduação e 12 meses de acesso à plataforma Profs, de formação de educadores.
Os que ficarem em segundo lugar, além desses benefícios, ganharão mais R$ 5 mil no vale-presente, totalizando R$ 15 mil. Já os vencedores de cada categoria vão receber o vale-presente no valor de R$ 25 mil, bolsa de pós-graduação e acesso a 24 meses da plataforma Profs e concorrerão à categoria Educador do Ano. O ganhador do melhor projeto receberá R$ 25 mil adicionais para o investimento em serviços, produtos e infraestrutura na escola em que o projeto foi realizado.
Na categoria Inovação e Tecnologia, três mulheres venceram com práticas pedagógicas que fizeram uso da tecnologia para promover a aprendizagem.
Elciane de Lima Paulino, da EEEM John Kennedy, em Guarabira (PB), é a idealizadora do projeto “Introspecção poética de Augusto dos Anjos nos eus do século XXI”. Elenjusse Martins da Silva Soares representa a EMEF Benedita Torres, de Canaã dos Carajás (PA), com o “Projeto Institucional Ler Conecta”. Por fim, Francieli Carvalho Taborda, do Núcleo de Educação Infantil Taquaras, em Balneário Camboriú (SC), apresenta “O que se faz na Educação Infantil? A documentação pedagógica como estratégia para tornar visível o trabalho com intencionalidade pedagógica e o protagonismo da criança pequena”.
Conheça, a seguir, cada uma dessas iniciativas vencedoras.
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Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (1884-1914), também conhecido como o “poeta da morte”, nasceu no município Pau d'Arco (atual Sapé), no estado da Paraíba. Suas poesias tratam de temas mórbidos e sombrios e foram publicadas em uma única obra, intitulada Eu (1912). O projeto da professora de Língua Portuguesa Elciane Paulino, “Introspecção poética de Augusto dos Anjos nos eus do século XXI”, faz referência ao livro e se conecta ao contexto dos últimos anos no município de Guarabira e no mundo – pessoas tomadas por fortes sentimentos diante das mortes, do isolamento social e do sofrimento causados pela pandemia de Covid-19.
“O momento exigiu da Educação formas inovadoras de diálogo e reflexão com os alunos para continuar desenvolvendo competências de leitura e escrita”, considera Elciane. Por isso, o objetivo central do projeto foi aproximar os estudantes e a comunidade escolar da poética de Augusto dos Anjos ao destacar a arte como forma de leitura do mundo. “[A ideia era] produzir textos poéticos que refletissem as subjetividades dentro do contexto socioambiental de cada um”, completa.
Alunos do 1° e 2° anos do Ensino Médio fizeram uma imersão na obra Eu e em outras poesias a partir de várias atividades. Na etapa da motivação, houve a leitura de poemas diversos pela professora, a fim de aproximar as turmas do gênero literário. A fase da introdução apresentou o poeta, em uma interlocução com o projeto da Secretaria de Estado da Educação da Paraíba, cujo tema em 2022 foi “Augusto presente – avatares do eu no metaverso criativo”. Depois, os alunos se aprofundaram no estudo das rimas, figuras de linguagem e outros elementos. Então, nas fases seguintes, eles puderam interpretar as obras, estabelecer diálogos com o presente e produzir textos, que foram publicados no site canalbuskas.com.
Segundo a educadora, a última etapa foi a mais desafiadora. “Os alunos pensavam que não conseguiriam escrever com a maestria do poeta, mas eu mostrei que a inspiração pode surgir de um momento banal – como já aconteceu comigo”. Ela realizou também uma prática coletiva, na qual montou no quadro um esquema de rimas para um soneto e pediu que os estudantes indicassem palavras do universo de Augusto dos Anjos. “Quando ficou pronto, eu solicitei que eles escrevessem uma frase terminada com ‘morte’ e avisei que já tínhamos o primeiro verso. [Deu certo] e eles logo já estavam planejando seus próprios poemas.”
Ela explica que o projeto continua rendendo frutos. Hoje, se chama “Jornalismo, letramento digital e midiático” e abrange formas de comunicação, leitura e escrita de gêneros textuais literários ou não. O canalbuskas.com se tornou um espaço para publicação de textos autorais não apenas dos alunos, mas também dos professores, melhorando a interação com a comunidade escolar.
Educadora: Elciane de Lima Paulino
Escola: EEEM John Kennedy
Cidade: Guarabira (PB)
Por que o projeto é inovador?
A partir da poesia, a professora estimulou a reflexão dos alunos sobre as vivências do período pandêmico e os incentivou a trabalhar a criatividade em suas próprias produções.
Durante a pandemia, quando a EMEF Benedita Torres, em Canaã dos Carajás (PA), foi transformada em hospital de campanha, a diretora Elenjusse Soares não podia prever o impacto que isso teria na comunidade escolar. Prestes a completar 14 anos, a escola se localiza no bairro Novo Brasil, um dos mais populosos do município. “Lugar de gente simples, humilde e trabalhadora. Foi fundado em 2003 com muito sacrifício para abrigar os imigrantes que buscavam oportunidades”, descreve.
Após dois anos de ensino remoto, ela conta que, para receber os mais de 1500 alunos e a equipe de 180 profissionais, além de reconstruir o espaço físico, foi necessário tempo para que a instituição voltasse a se parecer com uma escola. Nesse cenário, surgiu o “Projeto Institucional Ler Conecta”.
“Ele veio da necessidade de resgatar a identidade e o Projeto Político Pedagógico, de reaproximar, conectar, integrar e reassumir a nossa função social”, salienta a diretora. “Ao compreendermos que aquele planejamento coletivo se tratava de um espaço de diálogo e apresentação de novas ideias, entendemos a potência do Ler Conecta para resgatar os nossos alunos e suas famílias a uma escola que não sucumbiu e mostrou que uma instituição é formada por gente”, reforça Elenjusse.
Construído a muitas mãos, o projeto contou com ações diversas a partir de 2022. As rodas de leitura virtual, por exemplo, promoveram encontros e conversas de estudantes e famílias com escritores, como Lalau e Laurabeatriz, Sônia Rosa, Ricardo Azevedo, Eva Zooks e outros. Houve a organização de uma biblioteca virtual, com um acervo digital de títulos de literatura de domínio público e disponibilizado para os estudantes. Já no clube da leitura, a proposta consistia em trocar pontos de vista a partir da apreciação e discussão das obras lidas.
Elenjusse conta que a equipe criou o Diário escolar informativo para manter a comunicação com a comunidade escolar, apresentando as ações e os movimentos da escola. “Fixamos os informes em pontos estratégicos do bairro e organizamos grupos em aplicativos de mensagens instantâneas por turma, páginas em redes sociais e salas de aula virtuais”. A escola também precisou ampliar a jornada dos professores, além de realizar plantões de aprendizagem voltados principalmente aos alunos do Atendimento Educacional Especializado (AEE), com o intuito de aumentar a abrangência do projeto e promover a inclusão.
A diretora acredita que o projeto, que permanece ativo, somado a todos os seus desdobramentos, fomenta o desenvolvimento das habilidades digitais e o uso das tecnologias de forma consciente. “Isso influencia diretamente a melhoria das condições de vida de toda a população de Novo Brasil e Canaã dos Carajás.”
Educadora: Elenjusse Soares
Escola: EMEF Benedita Torres
Cidade: Canaã dos Carajás (PA)
Por que o projeto é inovador?
Diante de um cenário tão adverso como o do pós-pandemia, a equipe pensou em ações para assegurar o acesso e a permanência dos estudantes na escola por meio da leitura.
A inspiração
Os momentos de rodas de leitura virtual ajudaram os alunos que estavam desmotivados. A interação estabelecida com escritores importantes representou uma oportunidade rica de aprendizagem.
Francieli Taborda, que é pedagoga, especialista em Educação Infantil e mestra em Educação, atua na área educacional desde 2007. No Núcleo de Educação Infantil Taquaras, que fica na Praia de Taquaras, um local de preservação ambiental em Balneário Camboriú (SC), ela está à frente da coordenação pedagógica, atenta à formação continuada dos educadores e às aprendizagens das crianças e dos profissionais. É nesse contexto que surgiu o projeto “O que se faz na Educação Infantil? A documentação pedagógica como estratégia para tornar visível o trabalho com intencionalidade pedagógica e o protagonismo da criança pequena”.
De acordo com Francieli, a iniciativa é uma oportunidade de utilizar a tecnologia como aliada para traduzir o que o próprio nome do projeto diz: a documentação pedagógica não tem fim em si mesma, pois seu objetivo é mostrar à comunidade o que é feito na escola e o lugar das crianças e das professoras como protagonistas do processo educativo.
O trabalho começou em 2021 e, desde então, vem se expandindo. A ideia partiu de um ponto de atenção que a equipe identificou em sua prática pedagógica. “Percebemos que parte da sociedade ainda tem uma visão assistencialista da Educação Infantil, como se as crianças estivessem na escola apenas para serem cuidadas enquanto os responsáveis trabalham”, explica a coordenadora. Assim, juntou-se duas questões: documentar o cotidiano das turmas e demonstrar para as famílias o fazer pedagógico.
“[Começamos a desenvolver] as mini histórias, que retratam esse dia a dia de maneira mais poética, folhetos informativos narrando as descobertas das crianças e os portfólios digitais, que se aprofundam nos projetos investigativos”, enumera Francieli. Ela aponta que esses materiais também são formativos – a partir das fotos, dos vídeos e de toda a comunicação produzida nas aulas, os educadores conseguem refletir sobre suas próprias práticas e fragilidades.
“As famílias começaram a entender melhor o que acontece dentro da escola de Educação Infantil e a participar mais de todos os processos”, afirma a coordenadora.
Educadora: Francieli Taborda
Escola: Núcleo de Educação Infantil Taquaras
Cidade: Balneário Camboriú (SC)
Por que o projeto é inovador?
Articula propostas pedagógicas, que colocam a criança como protagonista do processo educativo, ao zelo pela aprendizagem dos alunos, dos professores e da comunidade.
A inspiração
A equipe se manteve aberta ao novo, defendendo uma forma de fazer pedagógico no qual a criança pode viver sua infância de maneira leve e construir o seu conhecimento.
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