Mês dos professores: conheça quatro docentes que transformam seu entorno
Dia após dia, educadores impactam alunos, comunidades e outros professores; é hora de celebrá-los
11/10/2023
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Jornalismo
11/10/2023
O professor é quem faz a Educação brasileira acontecer diariamente. Seu trabalho impacta a vida dos alunos, das comunidades escolares e promove mudanças na sociedade. Isso pode acontecer de diversas formas, dentro ou fora da sala de aula.
Por isso, neste Dia dos Professores – mas não somente em outubro – é necessário reconhecer, valorizar e celebrar a profissão docente. A seguir, conhecerá quatro docentes que, de sua forma, transformam positivamente seus contextos, seja por meio do contato com outros professores, crianças ou adolescentes.
“Eu me tornei uma mulher negra”. É assim que a professora de História Lavini Castro descreve sua descoberta sobre os temas raciais, que passou a levar para a sala de aula com mais intencionalidade ao longo dos últimos anos. “Sem ter a consciência política do posicionamento antirracista, o meu corpo já sentia alguma coisa que eu não sabia denominar. A princípio, eu não me dei conta de que o que atravessava o meu corpo era uma questão racial”, conta.
Mesmo antes de saber os termos acadêmicos, Lavini sempre levou os temas para suas aulas desde que começou a lecionar, ainda em 2004. Inquieta com as questões raciais, voltou à universidade em 2017, quando passou a estudar o assunto no mestrado e, mais recentemente, no doutorado.
“A prática veio primeiro. Depois, ela foi fortalecida com as teorias. Esse despertar foi incrível”, comenta. Além de se tornar uma mulher negra, esse processo fez também com que Lavini se tornasse uma professora antirracista.
“Eu comecei a ter consciência de que aquilo era um problema racial e que eu poderia, através da Educação, dar conta de refletir, problematizar e chegar a um entendimento junto com os outros que convivem na sociedade”, afirma.
Em sala de aula, enfrentando resistência, Lavini aborda as temáticas raciais “de pouquinho em pouquinho”. A recepção, porém, nem sempre é das melhores. Logo no início da sua carreira, a professora já sentia que os alunos se incomodavam ao ouvirem ela falar sobre temáticas raciais. Ainda que tenha melhorado, a relutância ainda existe. "Às vezes eu tenho que acolher um discurso hipócrita, supremacista, racista, para trazer uma construção de questionamento e devolver para a pessoa. E ela resolve se vai querer manter aquele pensamento ou não”, explica.
Frases como “tinha que ser a Lavini, ela só fala disso” ou “cuidado, não fala isso perto da Lavini” são bastante comuns para ela, assim como alunos inquietos em suas carteiras quando o tema é racial. Apesar da visão que os outros têm sobre ela, a professora não se considera insistente na pauta. “É que quando a ausência é demais, qualquer comentário é muito”, argumenta ela.
Para que a pauta não fosse uma ausência, Lavini acredita que ela deveria extrapolar as aulas de História e ser abordada em todos os componentes curriculares. Afinal, “essa é uma questão da sociedade brasileira, uma questão humanitária”.
Esse foi um dos motivos pelos quais, em 2020, Lavini se uniu com a também professora Cássia Lopes para criar a Rede de Professores Antirracistas. “A gente reuniu um público que queria pensar a prática da educação contra o racismo”, resume ela.
O primeiro ano do projeto, muito intenso e cheio de atividades online por conta da pandemia de Covid-19, rendeu bons frutos. Em 2021, a Rede recebeu o prêmio “Sim à Igualdade Racial”, do Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) na categoria Educação.
De lá para cá, a comunidade se tornou um canal para professores de todo o Brasil descobrirem como adotar práticas antirracistas em suas aulas. “O compromisso com o fim do racismo abre espaço para que esses professores possam pensar também em outras questões, como a de gênero, porque ele já se abriu para uma questão-problema da sociedade brasileira”, afirma Lavini.
Para ela, a grande força de um educador antirracista está em ser questionar. “O professor não está em sala para cumprir a meta de uma fábrica, para a escola se tornar uma fábrica de conteúdo. Ele está ali para refletir, questionar, interrogar. O professor provoca essas novas gerações a refletir sobre seus comportamentos através dos conteúdos que estão sendo estudados: um compromisso com o planeta, com o ser humano, com seu próprio corpo.”
Foi com apenas dois anos de magistério e muita vontade de mudança que Felipe Nóbrega assumiu a direção da EM Walmir de Freitas Monteiro, em Volta Redonda (RJ), cargo que ocupa há mais de 11 anos. Nessa época percebeu a necessidade do gestor escolar ser, antes de mais nada, um professor.
Logo de cara, Felipe identificou necessidades formativas entre a equipe. E foi nisso que ele focou, assim como em promover um ambiente de trabalho saudável. Hoje, toda a escola colhe os frutos.
“Muitos sonhos que eu tinha quando assumi a direção da escola, que pareciam muito distantes, começaram a se concretizar. Hoje, em primeiro lugar, as pessoas aqui são felizes. Eu acho que o primeiro passo para qualquer transformação é você se sentir bem onde você está”, comenta.
Ao longo dos últimos anos, a formação de professores foi ajudando a pavimentar o caminho até o sonho de uma escola melhor, que se envolve nos desafios da comunidade e que coloca o aprendizado dos estudantes em primeiro lugar, explorando novas metodologias. “O discurso fica muito afastado da prática se você não vivenciar a prática pedagógica. Hoje, sendo formador de professores, eu estou lecionando e construindo com eles novas ideias”, afirma.
Mesmo sentindo falta da sala de aula – e esperando voltar para ela em breve –, Felipe diz que formar professores também é uma forma de lecionar. Além de atuar nessa área como diretor, ele também faz isso como membro do Time de Formadores da Nova Escola.
Olhando para trás, Felipe tem orgulho do que construiu, junto com os colegas, na EM Walmir de Freitas Monteiro. Olhando para frente, há muita dúvida. Mas há também uma grande certeza: não se pode ser eterno em uma posição.
“Eu quero deixar a escola caminhar com novas pessoas e novas ideias, e que exista a continuidade daquilo que construímos. Que essa integração de uma comunidade educativa consiga florescer. Que os muros realmente sejam rompidos e que a escola não seja mais um lugar apartado dos desafios da comunidade. Que a gente coloque essa molecada para produzir mais do que consumir”, sonha Felipe.
Dentro e fora da sua escola, Felipe afirma que a mudança da qual a Educação brasileira precisa tem que vir dos professores. “Não tem outra pessoa”. E que, para isso, é necessário que eles sejam ouvidos para a construção de políticas públicas. Todos eles: o professor de sala de aula, o professor formador, o professor diretor. Quando isso acontecer, “é muito difícil que esse país não dê certo em termos educacionais”, acredita Felipe.
Artesãos da sociedade. É assim que a professora Tâmila Tavares enxerga o papel dos professores. Para ela, são eles quem moldam as futuras profissões, os futuros cidadãos e a futura sociedade.
No Amapá, ela e outros artesãos moldaram um lindo futuro ao produzirem materiais educacionais regionalizados, em um projeto fruto de uma parceria do governo local com a Nova Escola. Tâmila, que trabalhava com alunos da alfabetização, foi uma das selecionadas para produzir os novos livros didáticos do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental.
No início, conta Tâmila, nenhum dos professores sabia muito bem por onde começar. “Eu fui alfabetizada e letrada com materiais que vieram do Sul e do Sudeste. A gente não tinha essa referência de como fazer um material regionalizado, como fazer o material com cara do Amapá”, relata. Eles usaram a própria falta de conhecimento sobre o tema para produzir os materiais. “A gente colocou tudo aquilo que, quando criança, gostaríamos de ter visto nos livros”, conta a professora. E o resultado foi um material com comidas, músicas, histórias e lendas locais – conheça gratuitamente a versão digital.
A vida conduziu Tâmila para mudar de cidade, de escola e começar a trabalhar com a Educação Infantil e, por isso, ela não chegou a usar o material que ajudou a construir em sala de aula. Mas sentiu o impacto que ele teve tanto em seus colegas professores quanto nos estudantes.
Quando encontra com ex-alunos nas ruas, ele vêm contar que viram o nome dela no livro e como se sentem felizes de estarem representados ali. Dentro de casa, Tâmila também sentiu a alegria do seu filho e da sua sobrinha, que tiveram contato com o material. “Nossa, agora as crianças do livro se parecem com a gente, né?”, disseram eles. “Foi muito legal ver eles se reconhecendo no material didático, coisa que não acontecia com a gente na idade deles”, afirma Tâmila, orgulhosa.
Além de impactar professores e estudantes de todo o estado do Amapá, a produção dos livros didáticos também impactaram o trabalho de Tâmila. Depois de passar por todo o processo de construção dos materiais, ela diz que passou a prestar mais atenção em questões como objetivos de aprendizagem, intencionalidade pedagógica e protagonismo estudantil. “Hoje eu aplico realmente tudo isso com muita ênfase em minha sala”, diz.
Tâmila, que se inscreveu para produzir os materiais porque o “não” ela já tinha, percebeu sua potência quando recebeu um “sim” como resposta e pôde participar dessa experiência que impacta todo o estado. “Depois do ‘sim’ que a Nova Escola me deu, eu nunca mais aceitei um ‘não’ como resposta. Eu mudei muito o meu jeito de ser, eu floresci.”
É por meio da parceria e da proximidade entre professores que Daniele Machado acredita que a educação avança. Técnica pedagógica na Secretaria Municipal de Educação de Castro (PR), a professora já passou por sala de aula, coordenação pedagógica e direção escolar durante 17 anos de carreira. Foi unindo professores que ela chegou onde está hoje.
Em 2018, a EM Vicente Machado, onde ela era diretora, realizou um projeto de desenvolvimento da leitura dos estudantes que ganhou reconhecimento nacional e foi apresentado no V Seminário Nacional de Boas Práticas de Gestão Escolar, evento organizado pela Fundação Lemann e Elos Educacional.
No seminário, ela conheceu a Conectando Saberes, rede de professores da Nova Escola que conecta educadores de diferentes realidades brasileiras para fomentar espaços de trocas de experiências e de boas práticas.
O convite para Daniele fundar um núcleo em Castro veio cerca de um mês depois. Ela aceitou o desafio e, de lá para cá, Daniele exerce a função de coordenadora do núcleo, que já une 30 professores como membros fixos.
“Eu era uma professora que estava dentro da minha rede, conversando com professores só daqui. E, de repente, a Conectando veio e me possibilitou esse universo de professores do Brasil todo, alguns até de fora do Brasil, onde a gente pode fazer essa conexão e aprender um junto com o outro”.
Seu trabalho na comunidade abriu portas para ela trabalhar na Secretaria Municipal de Educação de Castro, que vê a Conectando Saberes como um apoio e trabalha em conjunto com a comunidade para promover formações e eventos para os professores da cidade. “É de extrema importância propor a troca entre professores. Todos nós precisamos dessa comunidade, tanto o professor que está iniciando e necessita apoio, ideias e sugestões, como também aquele que está no final de carreira, que precisa ser provocado com novas metodologias”, acredita.
Daniele carrega muita bagagem de suas experiências em sala de aula e nas escolas em que passou durante sua carreira. “Eu fico muito grata pela minha trajetória até aqui ter passado por todas essas etapas. Eu me remeto muito a todas as vivências que eu já tive para que eu possa ajudar a construir o trabalho dessas escolas que eu acompanho na secretaria”, afirma.
No dia a dia, Daniele apoia tanto gestores a exercerem seus trabalhos quanto professores a se formarem continuamente. “É tão gratificante quando você encontra um colega no início de carreira que diz: ‘você me inspira’. Isso é o que eu almejo continuar na minha caminhada, que eu seja essa professora que traga oportunidades”, finaliza Daniele.
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