Quem sou eu?
Para construir uma auto-imagem positiva e aprender a respeitar as diferenças, crianças pesquisaram a própria história de vida. E cada biografia virou livro
01/10/2002
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Jornalismo
01/10/2002
Marco Antonio Mamoré Helmann adora ir ao parque de diversões. Precoce, deixou de usar fraldas aos 9 meses. Uma de suas brincadeiras preferidas é pega-pega. Sonha viajar de avião e quer ser médico ou dentista. A vida do garoto está só começando, mas já rendeu um livro. Assim como ele, seus 47 colegas da pré-escola têm uma biografia, todas elaboradas com a ajuda das professoras Maria Auxiliadora de Oliveira e Isabel Cristina Corrêa Ribeiro. As duas trabalham na Escola Municipal de Ensino Básico Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, em Cuiabá, e realizaram o trabalho em 2000. O objetivo da dupla era levar a turminha, então com 5 anos, a conhecer a própria história, a valorizar-se e a respeitar os outros.
O tema gerador da escola ? Eu tenho valor ?, definido por toda a comunidade, foi a base do planejamento. Para trabalhar identidade, auto-estima e história de vida, elas optaram por montar diversos questionários, que eram regularmente enviados para ser respondidos em conjunto com os familiares. "Nem todos viviam com pai e mãe", lembra Isabel. "Minha filha ficou interessadíssima, principalmente em saber como o pai dela e eu nos conhecemos", conta Doris Silva Oliveira, mãe de Yanai Silva Ribeiro.
Síntese do trabalho
Tema: Construção da identidade
Objetivo: Levar a criança a valorizar sua origem e conhecer sua história e a si mesma, além de aprender a respeitar os demais
Como chegar lá: Promova um contato maior entre a criança e sua família. Organize uma pesquisa sobre a vida de cada criança por meio de relatos dos mais velhos e de documentos, como a certidão de nascimento, bem como fotos que mostrem diversas fases da vida. Construa uma linha do tempo. Promova a socialização das informações em sala e estimule a turma a registrá-las por meio de desenhos
Dica: Para produzir livrinhos como os feitos por Isabel e Auxiliadora, você vai precisar de um microcomputador para digitar os textos, um scanner para digitalizar fotos, desenhos e documentos e uma guilhotina para cortar as páginas. Se sua escola dispõe de mais recursos, a encadernação pode ser feita numa gráfica
De olho no espelho
Ao receber os papéis preenchidos, Isabel e Auxiliadora tinham um rico material em mãos. As informações eram comentadas individualmente e socializadas com a turma. Os questionários exploravam características físicas ? altura, peso e cor dos olhos e dos cabelos ? e psicológicas ? se a criança é tímida, triste, alegre, medrosa, distraída etc. Numa dinâmica interessante, um a um, meninos e meninas foram para a frente do espelho se apreciar. "Todos se conheceram melhor e perceberam que eram diferentes dos colegas", explica Auxiliadora. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, no volume referente à Formação Pessoal e Social, o espelho é um importante instrumento para a construção da identidade. "Ele permite visualizar e confirmar a imagem que construímos de nós mesmos", afirma Gisela Wajskop, uma das elaboradoras do documento.
O trabalho continuou com a exploração da história dos nomes. Plínio, por exemplo, descobriu que seus pais queriam que o dele representasse uma personalidade forte. De origem latina, Plínio significa "completo". "É importante que a criança compreenda que o nome é uma propriedade e tem história, iniciada por pessoas que gostam dela", analisa Gisela. Durante o ano, a turma aprendeu também a reconhecer o nome escrito e a escrevê-lo. "Esse foi um dos momentos em que a sala percebeu que podemos representar com palavras o que dizemos e ler textos, estabelecendo uma relação entre fala e escrita", lembra Isabel.
Os gostos de cada um, relatados nos questionários, deram origem a várias atividades. Algumas das brincadeiras favoritas, como pular corda, pega-pega e jogar bola, foram reproduzidas, desenvolvendo a expressão corporal. Depois de conversar sobre as comidas que achavam ou não saborosas, por exemplo, todos desenhavam suas preferências. "Assim, registravam o trabalho", conta Auxiliadora. "As duas acertaram ao utilizar o desenho, linguagem que é familiar nessa faixa etária", emenda Gisela.
Um dos maiores méritos da utilização dos questionários foi levar a sala a conhecer melhor a família. Quem eram os avós, como os pais se conheceram, qual a profissão deles e de onde vieram os antepassados eram algumas das questões levantadas. "Os relatos ouvidos em casa devem ser compartilhados em sala", ensina Auxiliadora. Para Gisela, a experiência valorizou as famílias. "Dessa maneira, as crianças se sentiram importantes também pelo que são fora da escola."
Livros exclusivos
Às informações trazidas nos relatos e discutidas em sala foram agregados documentos, como certidão de nascimento e carteirinha de vacinação, além de fotografias que registravam vários momentos da vida das crianças. Tudo para compor as biografias. Os textos, escritos, organizados e digitados pelas professoras, mereceram tratamento de livro, com imagens e desenhos. Os exemplares são motivo de orgulho para crianças e pais ? até hoje. Para Isabel e Auxiliadora, os resultados do trabalho ultrapassaram o objetivo inicial, de começar a construir noções de autoconhecimento. "As crianças aprenderam também a ser críticas e a expressar sentimentos", comenta Auxiliadora. "Essa turma fez muitas descobertas, agregou conhecimentos e ainda pôde sistematizá-los, com a produção do material impresso, que transformou todos em protagonistas", elogia Gisela.
Quer saber mais?
Escola Municipal de Ensino Básico Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, R. Piratininga, 101, CEP 78048-630, Cuiabá, MT, tel. (65) 642-3289
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