Reunião de pais e responsáveis: como engajar as famílias
Confira formas de organizar os encontros para estreitar vínculos, favorecer as trocas e dar visibilidade às experiências das crianças na Educação Infantil
PorThais Paiva
17/04/2023
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Jornalismo
PorThais Paiva
17/04/2023
Parceria entre escola e família é permanente, porém encontros formais são ótimas oportunidades para fortalecer os vínculos, explicar a proposta pedagógica da escola e compartilhar experiências das crianças. Foto: Getty Images
Há um provérbio africano que diz que é necessária toda uma aldeia para educar uma criança. Ele se refere à máxima de que a Educação acontece em todos os lugares, não apenas dentro dos muros da escola, e que demanda participação e responsabilidade de todos. Ninguém sabe melhor disso que os professores da Educação Infantil: é notável como a aprendizagem e o desenvolvimento dos pequenos ganham proporção quando as famílias são envolvidas ativamente no cotidiano escolar.
Na construção dessa parceria, as reuniões de pais e responsáveis são momentos essenciais. Mais do que meros informes burocráticos ou repasse de resultados, são ocasiões para estreitamento de vínculos, trocas e acompanhamento conjunto do trabalho pedagógico. “As reuniões são importantes porque dão visibilidade à cultura produzida pelas crianças no ambiente escolar”, explica Tatiana Martins, orientadora educacional no CMEI Mundo Feliz, em Palmas (TO).
Daí a importância de organizar esses momentos e utilizá-los para comunicar as experiências vividas pelas crianças e suas aprendizagens, bem como para ouvir as famílias sobre seus anseios, dúvidas e expectativas.
No entanto, para que essa troca saudável ocorra, é preciso haver abertura, flexibilidade e escuta por parte dos gestores e professores. Caso contrário, pais e responsáveis podem sentir que sua presença é desnecessária, ou pior, os dois lados podem cair em um jogo de empurra. “A família pode culpabilizar a escola porque ela não a convida, e a escola pode culpabilizar as famílias porque elas não aparecem”, resume Elisiane Lippi, especialista em Educação Infantil e membro do Time de Formadores da NOVA ESCOLA.
Para não cair nessa armadilha, primeiramente é necessário pensar em maneiras de convidar e aproximar os pais e responsáveis. “Temos de individualizar esse convite porque os pais também têm suas rotinas de trabalho. Cada família funciona melhor por meio de um canal. Tem família que é por WhatsApp; com outras, [é melhor conversar] quando vão deixar a criança na escola, por exemplo”, diz Elisiane. Tatiana dá outra ideia: “Uma forma bacana de convidar as famílias é propor que as próprias crianças façam esse convite, seja verbalmente, seja por escrito”.
Segundo a observação das especialistas, as reuniões ainda ficam muito restritas ao começo e final de ano letivo, semestre ou bimestre. Quando muito, os pais e responsáveis são convidados à escola para participarem de atividades relacionadas a datas comemorativas – o que é desejável, mas não suficiente. “Penso que temos pecado enquanto professores ao não abrir tanto as portas para que as famílias entrem no dia a dia. Precisamos trazer os pais e responsáveis para perto para entender o que eles compreendem como escola de Educação Infantil, que traz um paradigma diferente do Ensino Fundamental”, avalia Elisiane.
“Como todos nós vivemos nossa infância na escola, achamos que ela ainda é daquele jeito. Se conseguimos explicar às famílias o que envolve a Educação Infantil atualmente, tudo fica mais fácil”, acredita Elisiane Lippi, especialista em Educação Infantil e membro do Time de Formadores da NOVA ESCOLA. Veja algumas dicas:
Como qualquer outra prática escolar, esses encontros exigem planejamento e intencionalidade pedagógica. Elisiane aconselha conversar individualmente com cada família antes de chamá-las para a reunião geral. “Fazer entrevistas individuais ajuda a ter um cenário do que é a realidade daquela criança, quais atividades fazem juntos em casa e como é a rotina dos responsáveis.” Esse contexto é fundamental para melhor apoiar cada criança em sua trajetória e acolher a família.
Em grupos grandes, algumas dinâmicas podem ajudar os pais e responsáveis a se conhecerem e se sentirem confortáveis para contribuir com as reuniões. “Toco uma música e passo uma caixinha com os nomes das crianças. Quando a música para, quem está com a caixinha na mão tira um nome. Então, a pessoa da família de quem o nome foi sorteado fala um pouco daquela criança.” A educadora conta que o resultado são percepções diferentes e histórias até então desconhecidas sobre os pequenos, o que possibilita diversas trocas.
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Organizar o espaço é outro ponto que faz a diferença. Uma dica é arrumar as salas para receber os pais da mesma forma que se recebe as crianças, com diferentes cantinhos e contextos investigativos. Expor murais com fotos e vídeos com falas ou interações também ajuda a narrar o trabalho realizado. “Ver recortes do dia a dia escolar – como se alimentam, brincam ou são trocados – gera comoção na família. É preciso mostrar as brincadeiras e contextos por meio dos quais as crianças estão aprendendo”, frisa a especialista.
veja o que não pode faltar na reunião de pais
Há nove anos dedicada à Educação Infantil, a orientadora educacional Tatiana Martins acredita que as reuniões devem ser, antes de tudo, prazerosas. “Quando as famílias participam e gostam das atividades culturais ou formativas, vão querer voltar. O sentimento de pertencimento das crianças e dos adultos passa por esse prazer coletivo”, defende. Ela aconselha que professores e gestores chamem os pais e responsáveis para participarem de oficinas. “Pode ser de trabalho manual, de contação de história, de poesia”, exemplifica.
Vale até organizar um momento de brincadeira em que os adultos experimentem o que a criança vive dentro da instituição. “No ano passado, tivemos um campeonato de pular corda e elástico”, conta. Segundo Tatiana, os momentos lúdicos envolvem as famílias com a escola e ajudam a estabelecer a tão necessária relação de confiança. “Depois, quando você as convida para falar de alguma dificuldade de aprendizagem, estão acessíveis”, diz.
Entre as ações prévias, estão levantar os documentos que serão compartilhados com os pais e responsáveis e organizar os materiais para o momento do encontro. Os portfólios, por exemplo, podem ser entregues para um exame mais minucioso das famílias em casa. Assim, o tempo passado juntos é investido na construção de novas experiências.
“A documentação pedagógica assume vários formatos, e nós a socializamos com as famílias às vezes de modo mais formal; outras, menos. Então, temos um relatório descritivo, mas também registros pedagógicos por meio das redes sociais, que permitem que os pais acompanhem vídeos, fotos etc.”, conta Tatiana.
Mais importante do que o formato é o objetivo desses registros: dar visibilidade à prática pedagógica da escola. Bem-informadas sobre todas as atividades, as famílias conseguem também dar devolutivas e contribuições nas futuras reuniões.
Na escola de Tatiana, no início do ano, são delineados projetos investigativos por turma a partir daquilo que observam vir da curiosidade das crianças. “As famílias ajudam com propostas e ideias dentro da temática. No ano passado, fizemos um projeto sobre a cultura e a história do Tocantins. Convidamos as famílias para um bate-papo, para contarem suas histórias. Então, aqui sabem que não estão só presentes para ouvir, mas também para acrescentar e contribuir.”
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