Contexto (letra da música "A Carne")
Plano de Aula
Plano de aula: A comercialização de pessoas em diferentes tempos e espaços
Plano 2 de uma sequência de 5 planos. Veja todos os planos sobre Transformações ocorridas com o deslocamento de pessoas e mercadorias
Este plano é um dos prioritários. Veja agora
Sobre este plano
Este slide em específico não deve ser apresentado para os alunos, ele apenas resume o conteúdo da aula para que você possa se planejar.
Este plano está previsto para ser realizado em uma aula de 50 minutos. Serão abordados aspectos que fazem parte do trabalho com a habilidade EF04HI06 de História, que consta na BNCC. Como a habilidade deve ser desenvolvida ao longo de todo o ano, você observará que ela não será contemplada em sua totalidade aqui e que as propostas podem ter continuidade em aulas subsequentes.
Materiais necessários:
Projetor ou quadro e pincel para quadro.
Impressão do material complementar.
Caixa de som para audição de clipe da música “A carne”.
Material complementar:
HIS4_06UND02 Contexto (letra da música “A carne”)
HIS4_06UND02 Contexto (Jean-Michel Basquiat)
HIS4_06UND02 Problematização (Tráfico Negreiro)
HIS4_06UND02 Problematização (Documentos do século XIX)
HIS4_06UND02 Problematização (Anúncios da atualidade)
HIS4_06UND02 Sistematização (Notícia sobre a Líbia)
Para você saber mais:
A ideia central deste plano consiste em problematizar junto aos alunos as práticas de comercialização de pessoas, existentes de forma legalizada no passado e encontradas, ainda que de forma ilegal, no presente. Não é um plano focado na diáspora africana, ainda que fale dela, e nem na escravidão africana, ainda que esse seja o exemplo trazido. O objetivo maior do plano é, então, o de mostrar que alguns processos históricos foram capazes de transformar pessoas em mercadorias e que isso foi feito em prol de um objetivo mercantilista e de um projeto dito “civilizatório”. Procuraremos mostrar também como essa prática gerou profundas consequências para os povos que assim foram tratados, perpetuando desigualdades, racismos e discriminações. Dando continuidade à proposta de trabalhar com a ideia da relatividade dos valores mercantis propomos trazer um tema complexo mas necessário que é o da comercialização, tráfico e exploração de pessoas. O intuito é fazer com que os alunos reflitam e critiquem essa prática colonizadora e compreendam que desigualdades existentes hoje em dia ainda são reflexo e reprodução dela.
A aula está dividida em três partes, na contextualização trazemos alguns exemplos de grandes artistas contemporâneos que usam da sua arte para denunciar as relações desiguais e racistas praticadas socialmente. Na segunda parte buscamos diferenciar alguns tipos de escravidão e analisar fontes históricas que comprovam como as pessoas escravizadas no Brasil eram tratadas como mercadorias. Por fim propomos aos alunos que analisem um caso contemporâneo de venda de pessoas na Líbia à luz dos conceitos e ideias debatidas na aula. Quando tratar do tema da escravidão é muito importante que não naturalize-se a condição da pessoa escravizada chamando-a de “escravo”, pois assim estaríamos desumanizando-os reduzindo-os à uma condição. Por isso quando for inevitável o uso faremos colocando a expressão entre aspas.
- Música “A carne” Seu Jorge, Marcelo Yuka e Ulisses Cappelletti. LInk para o videoclipe oficial https://www.youtube.com/watch?v=yktrUMoc1Xw acesso em 22/03/2019.
- Música “Todo camburão tem um pouco de navio negreiro” Link para o videoclipe oficial https://www.youtube.com/watch?v=x_Tq34rysAc acesso em 22/03/2019.
- O filme “Quanto vale ou é por quilo?” de Sérgio Bianchi, 2005, faz uma analogia entre o antigo comércio de “escravos” e a atual exploração da miséria pelo marketing social, que formam uma solidariedade de fachada. O filme critica ONGs e suas captações de recursos junto ao governo e empresas privadas. Não é um filme apropriado para as turmas de 4º ano mas é uma boa indicação para os professores que irão debater o tema. https://pt.wikipedia.org/wiki/Quanto_Vale_ou_%C3%89_por_Quilo%3F acesso em 22/03/2019.
- O filme “Vista minha pele” de Joel Zito Araújo, 2008, conta sobre uma história invertida, os negros são a classe dominante e os brancos foram escravizados. Os países pobres são Alemanha e Inglaterra, enquanto os países ricos são, por exemplo, África do Sul e Moçambique. Maria é uma menina branca, pobre, que estuda num colégio particular graças à bolsa-de-estudo que tem pelo fato de sua mãe ser faxineira nesta escola. A maioria de seus colegas a hostilizam, por sua cor e por sua condição social, com exceção de sua amiga Luana, filha de um diplomata que, por ter morado em países pobres, possui uma visão mais abrangente da realidade. Este filme é apropriado para as turmas de 4º ano. https://filmow.com/vista-minha-pele-t21065/ acesso em 22/03/2019.
- O filme “O menino 23” de Belisário Franca, 2003, conta a história de meninos que foram adotados e depois escravizados em uma fazenda no interior de São Paulo em meados do século XX. http://www.menino23.com.br/menino-23/ acesso em 22/03/2019.
- O portal Geledés é uma fonte importante de informações sobre as populações negras no passado e no presente. Trata-se de uma organização civil que luta pelos direitos de igualdade dos negros, e pauta questões contemporâneas importantes. Portal https://www.geledes.org.br/ acesso em 22/03/2019.
- https://www.geledes.org.br/o-lado-africano-do-trafico/ acesso em 22/03/2019.
- https://www.geledes.org.br/sobre-o-trafico-negreiro-serie-rotas-da-escravidao-estreia-no-brasil/ acesso em 22/03/2019.
- site https://www.geledes.org.br/precisa-se-de-meninas-para-trabalho-infantil-e-escravo/ acesso em 22/03/2019
- No livro Souza, Marina de Mello. África e Brasil Africano. São Paulo: editora Ática, 2008, a autora traça um amplo panorama do continente africano, com suas diversas sociedades locais, sua história e cultura antes e depois da escravidão. E retrata as conseqüências da importação de quase 5 milhões de africanos escravizados ao longo de mais de 300 anos de história do Brasil, mostrando as marcas de um legado cultural que até hoje exerce grande influência em nossa sociedade. https://www.travessa.com.br/africa-e-brasil-africano/artigo/002410b4-16db-48ba-a546-530d1ef2b7e1 acesso em 22/03/2019. Para saber mais acesse: https://www.geledes.org.br/resenha-do-livro-africa-e-brasil-africano-para-a-sala-de-aula/ acesso em 22/03/2019.
- Os documentos trabalhados nesta aula referem-se a um anúncio em busca de um “escravo crioulo fugido” e um contrato de compra e venda de um “escravo”, ambos de meados do século XIX. https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=30662603 acesso em 23/03/2019 https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=28840983 acesso em 23/03/2019
- Texto sobre a obra de Jean-Michel Basquiat: https://www.geledes.org.br/basquiat-no-ccbb-8-coisas-que-voce-precisa-saber-sobre-o-pintor-antes-de-ver-exposicao/ acesso em 22/03/2019
Objetivo
Tempo sugerido: 5 minutos
Orientações: Apresente o tema aos alunos escrevendo-o no quadro ou lendo-o para a turma. Se estiver fazendo uso de projetor, apresente esse slide e faça uma leitura coletiva. É provável que alguns termos sejam desconhecidos dos alunos. Procure esclarecer dúvidas e promova uma discussão que faça-os falar sobre qual será a temática da aula. Sugestões de perguntas que podem ajudar nessa mediação:
- O que é comércio?
- E comércio de pessoas, o que poderia ser? Alguém tem alguma hipótese ou já ouviu falar em algum caso de alguma pessoa que tenha sido vendida ou comprada? (Faça a pergunta de modo a provocar estranheza nos alunos. Muito provavelmente eles sabem e já ouviram falar algo sobre o processo de escravização, mas talvez nunca tenham colocado nesses termos de compra e venda)
- Como será que é possível se estabelecer o preço que cada pessoa custa? (Também consiste em uma pergunta provocativa, para que eles reflitam sobre o absurdo de tal prática)
Por fim, levante perguntas sobre a segunda parte do objetivo.
- Vocês sabem o que significa perpetuar? Alguém saberia dizer um sinônimo desse verbo? (Caso não tenham outras ideias, diga-os que podem substituir por manter, continuar, etc.)
- E o significado de relacionar, vocês sabem? (Nem todos os alunos têm também a noção exata do que seja relacionar, explique que o fato de as pessoas terem sido comercializadas, ou seja compradas e vendidas, as colocou em um lugar na sociedade de inferioridade, por não serem livres para fazerem suas escolhas).
- Alguém saberia dar exemplos de desigualdades e racismos vividos por pessoas hoje em dia?
Por fim explique que contemporaneidade se refere ao presente. É muito importante que os alunos saibam que um dos objetivos do estudo de acontecimentos do passado se refere ao fato de podermos entender melhor as relações no nosso presente.
Neste momento não é necessário aprofundar no tema e nem ter respostas precisas para todas perguntas. O intuito aqui é o de fazer com que os alunos se aproximem da temática e se preocupem com a ideia de que em algum tempo histórico, em alguma cultura, pessoas já foram vendidas.
Como adequar à sua realidade: Caso a sua comunidade esteja inserida em alguma área de grande vulnerabilidade social é provável que os alunos já tenham ouvido falar em casos de meninas e meninos que são vendidos para o exterior para serem prostituídos. Consideramos que esse assunto é bastante denso e inapropriado para crianças de 4º ano, no entanto se as próprias crianças trouxerem informações sobre ele, não deixem de comentar evidenciando a ilegalidade de tais práticas, explicando que trata-se de um caso ilegal de abuso de poder. Pode ser que eles também façam relações com o tráfico de órgãos. Do mesmo modo a orientação deve ser no sentido de repúdio de tal prática.
Contexto
Tempo sugerido: 15 minutos
Orientações: Com os alunos sentados em semicírculo apresente o slide e leia a frase-refrão da música “A Carne”. Pode ser que essa frase cause incômodo e indignação em uma parte dos alunos. Fique atento ao tipo de comentário que pode surgir nesse momento e intervenha ao sinal de qualquer fala preconceituosa. A ideia é justamente problematizar essas práticas, sejam elas silenciosas, sejam explícitas. Pergunte o que entendem pela frase e o que pensam que representa tanto a “carne” quanto o “mercado”. Pergunte se conseguem relacionar essa frase ao que leram sobre o objetivo da aula.
Em seguida pergunte se alguém conhece o compositor Seu Jorge ou a cantora Elza Soares do clipe que irão assistir. Informe-os de que ambos são artistas negros da atualidade, de grande sucesso nacional e internacional e que vieram de meios sociais vulneráveis, ou seja, tiveram uma infância pobre, sofreram racismo, discriminação, não tiveram privilégios e nem facilidades para se inserirem no meio artístico. Mostre aos alunos que esses fatos não são apenas informações biográfica mas que são muito importantes para compreender as motivações e o lugar do qual eles compõem e cantam a letra desta música. Explique que é uma música de protesto, feita em 2002 que busca denunciar algo e expor uma desigualdade vivida historicamente e ainda no presente.
Oriente-os a assistir o clipe com essas duas indagações na cabeça:
- O que essa música está querendo denunciar? (se for necessário explique que denúncia é um tipo de acusação, ou seja, estão querendo dizer que algo está errado).
- Qual é a desigualdade que a música está querendo mostrar?
Imprima e entregue a letra da música na íntegra para que os alunos possam acompanhar a sua leitura enquanto assistem o clipe. Exiba o clipe e peça para que os alunos prestem atenção tanto na letra quanto nas cenas.
A CARNE
(Compositores: Seu Jorge em parceria com Marcelo Yuka e Ulisses Cappelletti
Versão da cantora Elza Soares)
“Vamos pedir pra Santa Clara clarear
Vou pedir Santa Clara para me ajudar”
A carne mais barata do mercado
É a carne negra
A carne mais barata do mercado
É a carne negra
Que vai de graça pro presídio
E para debaixo do plástico
E vai de graça pro subemprego
E pros hospitais psiquiátricos
A carne mais barata do mercado
É a carne negra
Que fez e faz história
Segurando esse país no braço, meu irmão
O cabra aqui, não se sente revoltado
Porque o revólver já está engatilhado
E o vingador eleito
Mas muito bem intencionado
E esse país vai deixando todo mundo preto
E o cabelo esticado
Mas mesmo assim, ainda guarda o direito
De algum antepassado da cor
Brigar sutilmente por respeito
Brigar bravamente por respeito
Brigar por justiça e por respeito (Pode acreditar)
De algum antepassado da cor
Brigar, brigar, brigar, brigar
A carne mais barata do mercado
É a carne negra, negra, negra, carne negra (Pode acreditar)
A carne negra
LInk para o videoclipe oficial https://www.youtube.com/watch?v=yktrUMoc1Xw acesso em 22/03/2019.
Após assistirem o clipe, e de posse da letra da música promova um breve debate em que os alunos deverão:
- Dizer de aspectos, tanto estéticos quanto do conteúdo, da música que lhes chamaram atenção.
(De um tempo para que os próprios alunos digam o que chamou a atenção, em seguida mostre alguns aspectos que podem ter passado despercebido. Sugestões: no início da música a Elza Soares acrescentou dois versos pedindo para “santa clara clarear e ajudá-la” , mostre a ironia e crítica que há por detrás destes versos. Será que é mais fácil ser branco do que negro? Será que a cantora realmente gostaria de ser clareada? Espera-se que eles entendam que é uma provocação e que a Elza Soares é uma grande defensora dos direitos dos negros. Pergunte se perceberam que a primeira vez que ela canta o refrão “a carne mais barata do mercado é a carne negra” ela faz uma entonação semelhante a de um vendedor de mercado. Fale e peça para que comentem as palavras que aparecem escritas no clipe, tais como “Rico negro no Brasil é branco”/ “Pobre branco no Brasil é negro”/ “egoísmo branco”/ ”negar o negro”/ ”respeito”/ ”igualdade”/ ”educação”/ “negro forte”. Pergunte se perceberam que só há pessoas negras atuando no clipe. Pergunte o que entenderam do fato de alguns negros estarem no chão amarrados. Diga que é uma forma de representá-los como se fossem um produto que está a venda.
Aproveite para esclarecer alguma parte da música que não tenha sido compreendida.
- Tentar responder às duas perguntas lançadas antes da exibição.
(Espera-se que os alunos sejam capazes de perceber que dizer que a carne mais barata do mercado é a carne negra é uma forma de mostrar que os negros vivem em condições desprivilegiadas, tanto economicamente como de acesso a bens, informações, estudos, entre outros. Chame a atenção para o fato de que os negros têm piores condições de emprego, recebem salários mais baixos, têm menos anos de estudo, são maioria em presídios, vivem em situações de maior vulnerabilidade, etc).
- Por fim peça para os alunos refletirem e levantarem hipóteses sobre a relação entre o passado e o presente contida na música. Esse aspecto será melhor trabalhado na problematização. Nesse momento é importante perceber se os alunos são capazes de relacionar as desigualdades raciais da contemporaneidade com os processos de escravização dos povos africanos trazidos a força para o Brasil desde o período colonial.
Como adequar à sua realidade: Esteja atento para as relações étnico-raciais presentes no contexto da sua comunidade escolar. Oriente os debates e as conversas de modo propositivo e não catastrófico. Promova o empoderamento de seus alunos e alunas negras, mostrando-lhes as facetas da história em que estão incluídos, e fazendo-os pensar juntos em como resistir e desconstruir essa história de desigualdades.
Para você saber mais:
Outra música de temática semelhante que pode ser trabalhada concomitante ou em substituição à esta é “Todo camburão tem um pouco de navio negreiro” do Rappa. https://www.youtube.com/watch?v=x_Tq34rysAc acesso em 22/03/2019
Contexto
Orientações:
Após a conversa sobre a música, apresente um outro artista negro, já falecido, que obteve grande sucesso com as artes plásticas e que pautava a questão do racismo e da negritude como mote de suas obras. Não pretende-se aprofundar na obra de Basquiat nesta aula, mas caso surja o interesse, você pode orientá-los a pesquisar mais sobre o artista e sua obra. A proposta aqui é de mostrar as contradições vividas por Basquiat que, assim como Elza Soares e Seu Jorge, não veio de uma família favorecida socialmente, era filho de um porto riquenho e uma haitiana, e morava em Nova York. Apesar de ter se tornado famoso, rico e bem sucedido continuava a sofrer racismo tanto no meio social quanto no artístico. A ideia de trazer a história do Basquiat é para provocar nos alunos questionamentos sobre o valor das coisas. Após apresentar o slide e contar brevemente sobre quem foi Basquiat faça-os refletirem sobre o “valor” das pessoas, dos objetos e das relações.
Indague-os e converse sobre as perguntas do slide:
- Será que o dinheiro compra igualdade?
- Será que os negros ricos continuam a sofrer racismo?
Fonte da imagem: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=46693453 acesso em 22/03/2019
Texto na íntegra: https://www.geledes.org.br/basquiat-no-ccbb-8-coisas-que-voce-precisa-saber-sobre-o-pintor-antes-de-ver-exposicao/ acesso em 22/03/2019
Como adequar à sua realidade:
Caso haja na comunidade outros exemplos de artistas negros que lutam por direitos dos negros ou estejam inseridos em movimentos negros, traga-os para a aula acrescentando ou substituindo os exemplos apresentados aqui.
Problematização
Tempo sugerido: 20 minutos
Orientações: Após analisar as desigualdades raciais e sociais presentes na sociedade nos dias atuais, problematize a questão da comercialização de pessoas, sobretudo vindas de África, no passado. Apresente o slide e faça uma leitura coletiva com os alunos. Veja se eles são capazes de compreender a questão temporal exposta no texto. Segundo o texto a escravização e comercialização de pessoas da África se inicia no século VII, ou seja, muito antes da chegada dos colonizadores europeus, mais especificamente portugueses, neste continente. Se fizerem as contas verão que “por mais de 1200 anos” significa que até o século XX essa prática ainda era presente neste continente. O intuito dessa aula é mostrar que está comercialização colonizadora foi uma prática corrente entre povos que se consideravam superiores, dignos de subjugar, dominar e escravizar aqueles que consideram inferiores. Na teoria tal prática se deu sob a alegação e justificativa de que estariam salvando almas impuras, levando a “palavra de Deus” e trazendo a “civilização” para aquelas pessoas. Na prática fizeram parte de um dos mais lucrativos negócios mercantilistas. O tráfico negreiro, como foi chamado, tornou-se um verdadeiro negócio nos séculos subsequentes à chegada dos europeus nas Américas. Se hoje em dia Elza Soares canta que “a carne mais barata do mercado é a carne negra” podemos, ironicamente, afirmar que durante muitos séculos, a “carne negra” foi bastante “valiosa, uma vez o africano escravizado valia muito no mercado negreiro. Por outro lado, socialmente foi um momento de extrema desvalorização dessas pessoas, que é o que esse plano pretende abordar e problematizar.
Durante mais de cinco séculos, milhões de africanos, vindos de diferentes partes do continente foram levados à força para trabalharem sob o regime de escravidão em diversas colônias europeias nas Américas, conforme podemos ver no mapa.
Faça a leitura do mapa junto com os alunos e chame a atenção para os locais de onde saíram e para onde vieram essas pessoas. É importante que os alunos tenham uma visão da diversidade de etnias e povos vindos de diferentes regiões que passaram a habitar as colônias americanas. Tente desconstruir ou desnaturalizar a visão equivocada de que a África é um lugar único, homogêneo e uniforme. Nomear regiões, tratar povos de diferentes lugares em suas especificidades é uma maneira de valorizar e considerar essas diferenças. Mostre que essas populações vieram sobretudo para o Brasil e a América Central.
Pergunte aos alunos o que eles sabem sobre como era feita essa compra e venda de pessoas. Explique que a prática da escravidão já existia em algumas regiões da África antes mesmo dos colonizadores europeus chegarem, contudo tais práticas tinha sentido e significado muito diferentes, faziam parte de rituais de guerra, planos de sobrevivência, disputa por regiões entre outros. Mostre que o caráter comercial e mercantilista da escravidão é algo que surge no século XV e é dessa relação comercial que pretendemos falar nesta aula. Ou seja, o fato de já existir escravidão na África antes dos europeus não significa dizer que os próprios africanos tratavam as pessoas escravizadas como mercadorias. Evidencie essa diferença pois ela é simbolicamente muito importante.
Fonte do texto
https://www.geledes.org.br/sobre-o-trafico-negreiro-serie-rotas-da-escravidao-estreia-no-brasil/ acesso em 22/03/2019.
Fonte da imagem
https://www.geledes.org.br/o-lado-africano-do-trafico/ acesso em 22/03/2019.
Para você saber mais:
O portal Geledés é uma fonte importante de informações sobre as populações negras no passado e no presente. Trata-se de uma organização civil que luta pelos direitos de igualdade dos negros, e pauta questões contemporâneas importantes. Portal https://www.geledes.org.br/ acesso em 22/03/2019.
Problematização
Tempo sugerido: 20 minutos
Orientações: Após analisar as desigualdades raciais e sociais presentes na sociedade nos dias atuais, problematize a questão da comercialização de pessoas, sobretudo vindas de África, no passado. Apresente o slide e faça uma leitura coletiva com os alunos. Veja se eles são capazes de compreender a questão temporal exposta no texto. Segundo o texto a escravização e comercialização de pessoas da África se inicia no século VII, ou seja, muito antes da chegada dos colonizadores europeus, mais especificamente portugueses, neste continente. Se fizerem as contas verão que “por mais de 1200 anos” significa que até o século XX essa prática ainda era presente neste continente. O intuito dessa aula é mostrar que está comercialização colonizadora foi uma prática corrente entre povos que se consideravam superiores, dignos de subjugar, dominar e escravizar aqueles que consideram inferiores. Na teoria tal prática se deu sob a alegação e justificativa de que estariam salvando almas impuras, levando a “palavra de Deus” e trazendo a “civilização” para aquelas pessoas. Na prática fizeram parte de um dos mais lucrativos negócios mercantilistas. O tráfico negreiro, como foi chamado, tornou-se um verdadeiro negócio nos séculos subsequentes à chegada dos europeus nas Américas. Se hoje em dia Elza Soares canta que “a carne mais barata do mercado é a carne negra” podemos, ironicamente, afirmar que durante muitos séculos, a “carne negra” foi bastante “valiosa”, uma vez o africano escravizado valia muito no mercado negreiro. Por outro lado, socialmente foi um momento de extrema desvalorização dessas pessoas, que é o que esse plano pretende abordar e problematizar.
Durante mais de cinco séculos, milhões de africanos, vindos de diferentes partes do continente foram levados à força para trabalharem sob o regime de escravidão em diversas colônias europeias nas Américas, conforme podemos ver no mapa.
Faça a leitura do mapa junto com os alunos e chame a atenção para os locais de onde saíram e para onde vieram essas pessoas. É importante que os alunos tenham uma visão da diversidade de etnias e povos vindos de diferentes regiões que passaram a habitar as colônias americanas. Tente desconstruir ou desnaturalizar a visão equivocada de que a África é um lugar único, homogêneo e uniforme. Nomear regiões, tratar povos de diferentes lugares em suas especificidades é uma maneira de valorizar e considerar essas diferenças. Mostre que essas populações vieram sobretudo para o Brasil e a América Central.
Pergunte aos alunos o que eles sabem sobre como era feita essa compra e venda de pessoas. Explique que a prática da escravidão já existia em algumas regiões da África antes mesmo dos colonizadores europeus chegarem, contudo tais práticas tinha sentido e significado muito diferentes, faziam parte de rituais de guerra, planos de sobrevivência, disputa por regiões entre outros. Mostre que o caráter comercial e mercantilista da escravidão é algo que surge no século XV e é dessa relação comercial que pretendemos falar nesta aula. Ou seja, o fato de já existir escravidão na África antes dos europeus não significa dizer que os próprios africanos tratavam as pessoas escravizadas como mercadorias. Evidencie essa diferença pois ela é simbolicamente muito importante.
Fonte do texto
https://www.geledes.org.br/sobre-o-trafico-negreiro-serie-rotas-da-escravidao-estreia-no-brasil/ acesso em 22/03/2019.
Fonte da imagem
Banco de Imagens Nova Escola
Para você saber mais:
O portal Geledés é uma fonte importante de informações sobre as populações negras no passado e no presente. Trata-se de uma organização civil que luta pelos direitos de igualdade dos negros, e pauta questões contemporâneas importantes. Portal https://www.geledes.org.br/ acesso em 22/03/2019.
Problematização
Orientações: No segundo momento da problematização os alunos deverão analisar dois documentos históricos de meados do século XIX. Trata-se de um contrato de compra e venda de um “escravo” de 1858 e um anúncio de um “escravo” fugido de 1854.
Divida a turma em trios e diga que farão um trabalho de investigação de fontes históricas tal qual os historiadores fazem. Providencie a impressão dos dois documentos e distribua uma cópia de cada para os trios. Chame a atenção para a data em que os documentos foram feitos e que isso explica o tipo de letra e a grafia diferente da atual. Deixe que os próprios alunos decifrem e traduzam os documentos. Lance algumas perguntas que os ajudarão nessa interpretação das fontes. Essas perguntas não precisam necessariamente ser respondidas por escrito.
FONTE 1- CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE “ESCRAVO”
- Do que se trata esse documento?
- Vocês conseguiram entender tudo o que está no documento? Que tipo de dificuldade tiveram?
- Qual é a data em que foi feito?
- O que estava sendo vendido?
- Qual é o nome do comprador?
- Qual é o nome da pessoa que está sendo vendida? Ela possui um sobrenome?
- A qual nação essa pessoa pertencia?
- Por quanto essa pessoa foi vendida?
- Como foi feito o pagamento?
- Este parece ser um documento oficial?
- Esta prática de comprar e vender pessoas parece que era algo legalizado?
- O que vocês pensam sobre esta prática e a existência de um documento como este?
FONTE 2 - ANÚNCIO DE RECOMPENSA PARA QUEM ENCONTRASSE “ESCRAVO CRIOULO FUGIDO”
- Do que se trata esse documento?
- Teve alguma palavra que vocês não souberam o significado?
- Perceberam que algumas palavras estão com uma grafia diferente da atual?
- Vocês sabem qual é o significado da palavra crioulo? Que tal pesquisar?
- Qual era o nome do “Crioulo Fugido”?
- Qual eram as habilidades que ele tinha?
- Como era a sua aparência física, segundo o documento?
- Qual a sua hipótese sobre o motivo da fuga?
- Vocês percebem que a fuga poderia ser uma forma das pessoas escravizadas resistirem a essa condição de trabalho?
- Será que ele cometeu algum crime para estar sendo procurado?
- Qual era a remuneração oferecida para quem o encontrasse?
- Segundo o documento o que deveria ser feito caso alguém o encontrasse?
- Quem você imagina que era o Sr. Laemmert?
- Você já viu algum anúncio parecido com esse nos dias de hoje?
Após o momento de análise e interpretação das fontes peça para os alunos fazerem uma socialização coletiva do que foi discutido no trio. Medeie essa socialização chamando a atenção para esse trabalho de leitura de um documento histórico. É importante considerar o contexto em que ele foi produzido, as intenções de quem os produziu e o que podemos deduzir da sociedade da época por meio deles. Busque instigar os alunos para que ele percebam os absurdos de documentos e fatos como este, é importante que eles consigam se indignar, ainda que existam explicações e ou justificativas para tais fatos. Não trate a escravização e comercialização de pessoas como algo normal e natural no passado. Faça-os refletir sobre a possibilidade disso acontecer nos dias de hoje e do quão absurdo seria esta mesma situação.
Para você saber mais:
Fonte da Imagem 1 https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=28840983 acesso em 23/03/2019
Fonte da Imagem 2 https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=30662603 acesso em 23/03/2019
Problematização
Orientações:
Na terceira parte da problematização pretende-se fazer com que os alunos comparem as fontes do século XIX com estes atuais anúncios publicados em redes sociais ou jornais impressos. Peça para que diferentes alunos leiam em voz alta cada um dos anúncios. Explique que o nome das pessoas que publicaram o anúncio foram ocultados para garantir a privacidade das mesmas. A intenção aqui não é a de fazer uma denúncia pessoal dessas pessoas mas sim a de problematizar e questionar o tipo de serviço que estão oferecendo. Em seguida lance as perguntas que estão no slide, acrescente outras que achar pertinentes e promova um debate coletivo em torno delas.
- Vocês conseguem perceber semelhanças entre estes anúncios e os anúncios do século XIX que acabamos de analisar?
- O que vocês pensam sobre esses anúncios? Consegue ver algum problema neles? Qual?
- Será que estes anúncios também representam um tipo de comércio de pessoas?
- Podemos dizer que é uma forma de “escravidão moderna”?
- Será que as pessoas que publicaram estes anúncios tinham consciência de que estavam fazendo algo muito exploratório?
- Será que conseguiram pessoas para ocupar as vagas ofertadas?
Deixe que os alunos respondam as perguntas livremente, mas estimule-os a serem críticos. Deixe que eles percebam os absurdos de anúncios como esses. Pode ser que alguns alunos não associem os anúncios atuais à práticas de escravidão, uma vez que não está obrigando ninguém a aceitar ou ocupar tais vagas, poderia ser à princípio uma escolha de quem decidisse por se candidatar à vaga. No entanto é importante que chame a atenção para o fato de que existem pessoas em condições precárias de sobrevivência e vulnerabilidade e que, ocupar uma vaga dessas, estaria mantendo-os em um lugar de dependência e servidão. Chame a atenção para o fato de que os anúncios não preveem um tipo de remuneração para as pessoas, o que configura crime e exploração do trabalho infantil, de acordo com nossa legislação.
Fonte da Imagem 1 - Anúncio publicado no Diário do Pará do dia 02/05/2015 retirada do site https://www.geledes.org.br/precisa-se-de-meninas-para-trabalho-infantil-e-escravo/ acesso em 22/03/2019
Fonte das Imagens 2 e 3 - Anúncios publicado no Twitter e divulgado pela perfil público Vagas Arrombadas que é uma página de denúncia que traz anúncios absurdos que configuram em exploração de mão de obra. https://twitter.com/vagasVTNC acesso em 22/03/2019
Sistematização
Tempo sugerido: 10 minutos
Orientações: Com os alunos organizados em trio projete esse slide e faça uma leitura coletiva do mesmo. Antes de entregar uma cópia da notícia inteira para cada trio chame a atenção para alguns aspectos expostos no slide.
- Mostre que essa notícia é de novembro de 2017, ou seja, trata-se de um fato da atualidade.
- Mostre a localização geográfica da Líbia, país localizado no norte da África, no litoral do Mar Mediterrâneo. Explique que o Mar Mediterrâneo é o mar que liga o continente africano ao continente europeu e que este costuma ser uma rota de saída e fuga de pessoas que, por motivos variados, tentam sair de um continente e ir para o outro, muitas vezes de forma ilegal.
- Pergunte se algum aluno tem conhecimento sobre algum tipo de conflito político ou religioso ocorrido na Líbia nos últimos anos.
- Chame a atenção para o fato da Líbia ser um país africano, ou seja, pertencente ao mesmo continente que por séculos foi alvo da exploração de europeus na compra de pessoas que foram escravizadas.
- Indague-os sobre quais poderiam ser os motivos para acontecer um leilão de pessoas em pleno século XXI.
- Pergunte se eles imaginam quem são as pessoas capazes de vender e comprar pessoas atualmente.
- Pergunte o que eles pensam sobre as pessoas que estão sendo vendidas. Será que elas escolheram estar nesse lugar? Será que elas tem outra escolha ou o direito de não aceitar ser vendida nessa situação?
Em seguida entregue para cada trio uma cópia da notícia inteira cuja manchete é “Leilão de escravos é flagrado na Líbia” e peça para que leiam-a na íntegra e conversem sobre a mesma buscando responder as perguntas do slide.
Para finalizar peça para que apresentem para o grupo qual é a relação entre a música “A carne” e a notícia sobre o leilão de “escravos” na Líbia.
Fonte da imagem: https://commons.wikimedia.org/wiki/?????#/media/File:Libya_in_its_region.svg
Fonte do texto: https://www.cartacapital.com.br/mundo/leilao-de-escravos-e-flagrado-na-libia/ (acesso em 6 de maio de 2019)
Sugestão de adaptação para ensino remoto
Ferramentas sugeridas
- Essenciais: documentos em PDF; e-mail; Whatsapp.
- Optativas: Zoom, Skype ou demais aplicativos de vídeo chamada, Google Classroom.
Contexto
O objetivo desta aula é conhecer as práticas de tráfico humano ao longo do tempo, salientando a desigualdade, racismo e discriminação que este processo causou junto aos grupos humanos. Converse com os alunos através de uma videoconferência pelo Whatsapp do grupo da turma e faça os questionamentos que se encontram no Objetivo deste Plano. Siga a sequência de orientações proposta. Você pode optar por fazer essa etapa enviando todo o material para os alunos através da entrega na escola, do e-mail ou pelo Classroom, junto com as orientações de observação e os questionamentos para análise de todo material a ser estudado. Envie o link da música antecipadamente para que os alunos a ouçam e, no momento da videoconferência, o debate possa fluir.
Caso ache interessante, indique os links dos raps:
Pedagoginga (disponível aqui), de Thiago Elñinho. Uma música mais atual, mas que trata sobre o mesmo tema: este artista faz um trabalho de empoderamento do povo preto nas escolas pelo Brasil.
Racismo é burrice (disponível aqui), de Gabriel o Pensador.
Problematização
Siga as orientações definidas, informando aos alunos que a atividade será de buscar compreender os impactos da escravização e comercialização de pessoas na sociedade. Envie todo o material (links, documentos, orientações) para os alunos.
Encaminhe os link (disponível aqui), para ilustrar mais as explanações feitas nesta etapa.
Sistematização
Siga as orientações definidas, mas já a inicie com a leitura do texto “Leilão de escravos é flagrado na Líbia”. Envie todo o material (links, documentos, orientações) para os alunos. Promova um debate onde os alunos possam expor as próprias ideias e as possíveis respostas para o questionamento feito.
Links para conhecer as formas de utilização:
- E-mail (disponível aqui).
- Classroom (disponível aqui).
- Hangouts (disponível aqui).
Convite às famílias
Proponha que a família assista ao vídeo “Os africanos: Raízes do Brasil” (disponível aqui), para viabilizar um entendimento maior sobre o tema estudado.
Este plano de aula foi produzido pelo Time de Autores de Nova Escola
Professor: Sara Villas
Mentor: Giovani Silva
Assessor pedagógico: Oldimar Cardoso
Ano: 4º ano do Ensino Fundamental
Unidade temática: Circulação de pessoas, produtos e culturas
Objeto (s) de conhecimento: A invenção do comércio e a circulação de produtos
Habilidade(s) da BNCC: (EF04HI06) Identificar as transformações ocorridas nos processos de deslocamento das pessoas e mercadorias, analisando as formas de adaptação ou marginalização.
Palavras-Chave: Escravização; negros; Africanos; Tráfico negreiro; Comércio de pessoas; Racismo, desigualdade.