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Jornalismo

Educação Infantil: as experiências de creches que seguiram com o atendimento presencial durante a pandemia

Como forma de apoio às famílias, duas instituições contam como foi manter as portas das escolas abertas para oferecer atividades presenciais

PorPaula Salas

06/05/2021

As fotos desta reportagem foram tiradas remotamente pela fotógrafa Tainá Frota, através de videochamadas com a diretora Ceila Luíza Pastório.

Ceila Luíza Pastório, diretora da creche Baroneza de Limeira, compartilha experiência de permitir o uso da área externa da escola pelas famílias durante a pandemia. Crédito: Tainá Frota/Nova Escola

Um espaço verde em São Paulo, onde se viam e ouviam crianças rindo, brincando e correndo. Na pandemia, essa cena foi rara, mas nunca deixou de existir. A extensa área externa da Creche Baroneza de Limeira, conveniada da prefeitura de São Paulo, manteve-se aberta para receber pequenos grupos durante a suspensão das atividades presenciais. Com a possibilidade de seguir os protocolos de segurança e o distanciamento social, permitir o uso do espaço foi uma decisão da escola para apoiar as famílias neste momento desafiador.

Quando as atividades foram suspensas, as professoras passaram a enviar propostas para as crianças realizarem em casa. "Em paralelo, tivemos encontros presenciais em pequenos grupos", conta Ceila Luíza Pastório, diretora da creche. Cada educadora organizava e dividia a turma. No dia marcado, os pequenos iam à escola e ficavam até duas horas realizando propostas variadas. Nesses encontros, cada turma participava de brincadeiras e de rodas de conversa e de leitura.

As crianças brincam livremente pelo espaço, com a supervisão das educadoras. Crédito: Tainá Frota/Nova Escola

Pela perspectiva que encontramos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a  Educação Infantil não se resume ao cuidado. A ele está associado um trabalho pedagógico de extrema relevância para o desenvolvimento das crianças. No entanto, sem o apoio da escola para atender as crianças, as famílias ficaram sobrecarregadas em casa. "Precisamos garantir o direito das famílias se sentirem cansadas. A escuta [de como elas estão se sentindo] não pode ser uma censura", afirma Zilma Ramos de Oliveira, pedagoga e especialista em Psicologia do Desenvolvimento Humano livre-docente pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).

Esse sentimento de exaustão foi compartilhado pelos pais e responsáveis que procuraram a creche Baroneza de Limeira durante a pandemia. "Mães chegavam e se emocionavam dizendo há quanto tempo não tinham um hora para descansar sabendo que o filho estava seguro", recorda a diretora.

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O acolhimento das famílias
Enquanto as crianças participavam das atividades com a professora, Ceila conta que também eram realizados atendimentos às famílias, como um momento de escuta e orientação. "Fomos um espaço de apoio emocional para os pais e responsáveis que ficaram perdidos". Zilma explica que é papel da escola fazer esse acolhimento das famílias, porque o bem-estar dos adultos acaba impactando a criança. "Famílias acolhidas conseguem cuidar melhor dos pequenos", complementa Ceila.

Além dos encontros marcados, as famílias tinham abertura para utilizar o espaço da creche em outros dias. "Aquelas que estavam mais desgastadas [pelo isolamento social] começaram a vir com frequência. Algumas mães vinham mais de uma vez por semana", relata a diretora.

Outro aspecto importante relacionado à escola e que pôde ser mantido na Baroneza de Limeira é que, muitas vezes, o ambiente escolar se torna um espaço onde a criança pode se distanciar dos problemas de casa. Zilma diz que os pequenos podem não conseguir entender ou nomear o que sentem, mas eles absorvem um clima tenso - o corpo contraído, por exemplo, pode ser um sinal de medo. "Precisamos orientar as famílias a estarem atentas a isso", afirma a livre-docente. Ela sugere uma atenção maior em relação ao que acontece na frente dos pequenos e na busca por construir, na medida do possível, um ambiente mais acolhedor.

Para Ceila, a decisão de manter as portas abertas foi bem-sucedida. "Preservamos o vínculo com as crianças e a sensação de pertencimento. Os encontros também aumentaram o engajamento [nas atividades remotas]".

Enquanto a criança brinca, a diretora faz uma escuta e orientação das famílias. Crédito: Tainá Frota/Nova Escola

Atendimento das famílias na linha de frente
O Centro de Educação Infantil Sonho Nosso, em São Paulo (SP), foi uma das cinco instituições escolhidas pela prefeitura de São Paulo para oferecer atendimento presencial aos filhos de trabalhadores dos serviços essenciais durante a pandemia. Com isso, as crianças deixaram de ser atendidas nas escolas que frequentavam anteriormente. Os pais e responsáveis interessados se cadastraram no site da Secretaria de Educação e foram redirecionados para uma das unidades.

Ana Paula Menezes da Silva, diretora da instituição, explica que, no início, poucas famílias aderiram, mas a procura aumentou e terminaram o ano com um grupo de 35 crianças. "Algumas já eram da escola, mas a maioria veio de bairros próximos".

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Para se organizar, a gestora conta que foi feito um rodízio entre os professores que poderiam ir presencialmente, ou seja, que não pertenciam a grupos de risco. As atividades seguiram na mesma linha do que era feito antes da pandemia, apenas com alguns ajustes. "O trabalho pedagógico foi realizado, mas trabalhamos mais no individual, prezando pelo desenvolvimento da criança", observa.

Zilma avalia que essa estratégia é ideal para esse tipo de atendimento neste momento: “criar atividades que podem ser mais autônomas e menos socializantes”. Ela também sugere que as crianças sejam divididas em grupos para as brincadeiras, em agrupamentos menores por tipos de atividade.

Seguindo os protocolos de biossegurança, a creche Baroneza de Limeira já retornou com as atividades presenciais. Crédito: Tainá Frota/Nova Escola

Novas propostas e reconhecimento
A diretora do Sonho Nosso diz que a maior dificuldade foi mudar a forma de pensar as atividades, saindo de propostas coletivas, muito utilizadas na Educação Infantil, para evitar o contato próximo das crianças. Por exemplo, antes da pandemia, para fazer uma atividade com pintura, os materiais eram colocados à disposição das crianças. Neste momento, as professoras organizaram kits individuais. "Isso só funcionou pela quantidade [de crianças que estavam sendo atendidas]. Se fôssemos atender as 200 crianças da escola, seria impossível".

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Ana Paula afirma que o retorno que recebeu das famílias foi muito positivo. "Eles estavam na linha de frente e viam em nós esse apoio". Segundo ela, um exemplo do sucesso da parceria é que das 35 famílias atendidas, 30 pediram transferência para a criança continuar na creche. "As famílias se encantaram e ficaram". Em março de 2021, quando as atividades escolares foram suspensas novamente e a creche voltou a funcionar como escola polo, a maioria das crianças já era da instituição.

Atualmente, as duas creches estão trabalhando presencialmente com 35% das crianças. "A gente mantém toda a rotina que já existia, mas com atenção aos protocolos. Adaptamos brincadeiras, e as propostas são realizadas mais na área externa", explica Ceila. A diretora Ana Paula pontua que a experiência como unidade polo os preparou para os desafios atuais. "Temos noção dos riscos que corremos, mas sabemos como lidar e o que funciona e o que não funciona. Foi um ganho de experiência".

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