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Jornalismo

Escola segura é a que faz bem para todos

Undime-SP faz campanha para melhorar a convivência escolar, fortalecer os vínculos com a família e a comunidade e prevenir a violência

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29/04/2019

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MOBILIZAÇÃO: Cristiana Berthoud, da Undime, lança a campanha “A escola na vibe da #paz”. Foto: Christian Braga

"Se deseja ajudar uma criança, cuide dos adultos que cuidam dela.” As palavras do psicanalista britânico John Bowlby (1907-1990) inspiram a nova campanha da Undime-SP: “A escola na vibe da #paz”.

Promover a saúde e o bem-estar emocional da comunidade escolar é um dos pilares do projeto lançado pela seccional paulista da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime-SP), no dia 8 de abril, durante a primeira reunião ordinária da nova diretoria, em São Paulo.

A ideia da campanha surgiu após a tragédia na escola estadual Professor Raul Brasil, em Suzano (SP), em 13 de março, quando dois ex- -alunos mataram oito pessoas. “A Undime-SP esteve em Suzano e saiu de lá decidida a mobilizar e subsidiar os municípios com ferramentas técnicas e profissionais com experiência teórica e prática para discutir a prevenção e o que fazer depois de episódios de violência”, disse Luiz Miguel Garcia, presidente da Undime-SP e secretário municipal de Educação de Sud Mennucci.

Presente na abertura da reunião com os dirigentes municipais, o secretário de Estado da Educação de São Paulo, Rossieli Soares da Silva, parabenizou a iniciativa da Undime-SP e defendeu a necessidade de desenvolver competências socioemocionais dos profissionais de educação e dos alunos para tornar o ambiente escolar mais seguro.

“Como a gente garante isso? Esse é o debate que precisamos ter. Estados e municípios precisam juntar forças e focar em algo fundamental: o estudante. Precisamos dar mais espaço e ouvir mais os jovens”, afirmou para a plateia que lotou a sede da Undime, no Centro da capital paulista.

Alunos, professores, gestores, funcionários, família e a comunidade do entorno das escolas são o público-alvo da campanha “A escola na vibe da #paz”.

“Nossa ideia é mostrar que a educação é responsabilidade de todo mundo. A escola não pode mais ignorar a família”, disse Cristiana Berthoud, secretária de articulação da Undime-SP e chefe da pasta de Educação da Estância Turística de Tremembé. “É preciso trazer os pais e a comunidade para dentro da escola, como voluntários, para que eles conheçam os alunos. Dessa forma, o cidadão se sentirá responsável pela formação da nova geração.”

O próximo passo do projeto, após o lançamento e a sensibilização dos dirigentes, é promover reuniões e palestras psicoeducacionais nas 13 macrorregiões da Undime-SP e dar apoio e subsídios técnicos para implementação de medidas práticas, por meio da ação de tutores (escolhidos pela comunidade escolar). 

A proposta é de que os tutores, treinados numa parceria com o Instituto de Psicologia 4 Estações, atuem como disseminadores dos preceitos da campanha em todo o estado e que esses valores, de fortalecimento dos vínculos sociais dentro e fora da escola, ecoem futuramente em cada um dos 49 polos e 645 municípios paulistas.

Para ampliar a atuação do projeto, a entidade está em busca de parceiros e apoio financeiro. “Trata-se de um trabalho de cidadania, de valorização do ser humano”, alerta Luiz Miguel.

O presidente da Undime-SP ressalta a importância do papel dos gestores das escolas e dos secretários no projeto. “Eles são os grandes motivadores e articuladores dessas ações. São responsáveis por conscientizar suas equipes no dia a dia.”

A expectativa é de que cada cidade construa, dentro das diretrizes gerais da campanha, seus próprios projetos. “A ideia é sensibilizar, mobilizar e instrumentalizar. Chamar o professor, os vizinhos da escola para discussão. Daí cada região, cada município, dentro da sua realidade, vai lançar mão das estratégias que desejarem”, explica Cristiana. “Queremos monitorar e compartilhar boas práticas de cada município no site da Undime (undime-sp.org.br).”

Cristiana defende a capacitação de educadores para que trabalhem com os alunos o desenvolvimento de empatia, que consigam identificar sinais de agressividade velada e que saibam dar encaminhamento a isso.

Na opinião de Ernesto Farias, diretor do Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional), avaliações, como a Prova Brasil, e questionários internos aplicados nas escolas podem ser fontes de informação relevante para a escola, captando onde há problemas. “Vai acender o alerta da secretaria, por exemplo, se numa escola dez professores respondem que não se sentem respeitados pelo diretor ou se é relatado um cotidiano de agressão verbal e física entre alunos e professores.”

Para a psicóloga Gabriela Casellato, cofundadora do Instituto 4 Estações e parceira da Undime-SP na campanha, a melhor prevenção é sempre o relacionamento saudável. “O vínculo é promovedor da segurança e do bem-estar”, diz ela, citando Bowlby, autor da Teoria do Apego.

Isso vale para toda a comunidade escolar, sem exceção. “Todos nós precisamos que alguém desligue a nossa chavinha do medo”, afirma Gabriela. Ao lado da colega Patricia Vidal, ela apresentou em palestra na Undime como será o trabalho para promoção da escola como um ambiente seguro, onde a criança consegue se perceber e perceber o outro, desenvolvendo a empatia e melhorando o aprendizado. Pesquisas nacionais e internacionais mostram que o clima escolar contribui para o aperfeiçoamento dos resultados da escola.

“A violência incide não só na segurança pública, mas também, no aprendizado das crianças e adolescentes, na qualidade da educação, no abandono escolar, na evasão, no desinteresse”, diz Miriam Abramovay, pesquisadora sobre violência nas escolas. Ligada à Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), Miriam defende que estados e municípios tenham uma política de convivência escolar.

Na mesma linha, a Undime-SP acredita que é preciso levar a família e a vizinhança para dentro da escola.

“Como disse o papa Francisco, muito se fala da cultura da paz, mas também precisamos fazer a cultura do encontro. A escola deveria ser o lócus de encontros ricos, saudáveis, que fortalecem as pessoas, que promovam a saúde”, finaliza a secretária de articulação da entidade, Cristiana Berthoud.

VIOLÊNCIA ESCOLAR NO BRASIL
O diagnóstico nas capitais mais violentas do país

42% dos estudantes afirmam já ter sofrido violência física ou verbal dentro da escola
15% dizem ter cometido alguma violência
9% souberam de assassinatos nos arredores da escola
22% dos alunos viram armas na escola

Pesquisa Flacso/MEC, realizada em 2015

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