Para todo o Ensino Fundamental, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) defende que o texto – escrito, oral ou multimídia – seja o elemento central do trabalho. Essa defesa fica explícita na definição dos campos de atuação, uma categorização que engloba os contextos em que as produções são feitas, mas sem se limitar a gêneros específicos.
A escolha por dividir em campos de atuação é um convite para se deixar de lado exercícios de repetição e textos que não existem para além da escola e adotar a ideia de que as práticas de linguagem estão na vida social e devem ser levadas à instituição de ensino em situações reais de uso. Essas situações podem ocorrer de maneira espontânea ou por meio de enredos e simulações que espelhem o real.
No primeiro caso, a vivência na escola é determinante e o docente deve perceber e aproveitar as oportunidades. Por exemplo: as crianças estão impedidas de usar a quadra para Educação Física em horário específico, com o argumento de que o barulho atrapalha uma das salas. Mas elas querem fazer um acordo. Toda a prática que se segue pode ser espontânea ou proposta pelo professor e faria parte do campo da vida pública. Os alunos podem realizar uma assembleia com os outros estudantes, escrever uma carta para a Associação de Pais e Mestres ou pedir o agendamento de uma reunião com a diretora. Nesse contexto, a preparação das ações e a análise linguística (qual o tom da carta e do pedido de reunião? Na hora da assembleia, qual o volume e a postura mais adequados? E na conversa com a direção? Etc.) ocorrem em razão do uso. Valem também situações mais simples: uma das crianças faz aniversário e as demais podem elaborar um cartão para entregar a ela ou os estudantes escreverem bilhetes para um colega que está doente em casa (ambos pertencentes ao campo da vida cotidiana).
A outra opção é criar um enredo que, de alguma maneira, leve a situação social para dentro da sala. Por exemplo: convidar as crianças a prepararem uma receita, a criarem um jogo, em que elas terão de debater e registrar o texto instrucional com as regras, ou a brincarem de lanchonete e pedirem para escrever o cardápio, entre várias possibilidades. Nesta reportagem publicada por NOVA ESCOLA em 2013, por exemplo, você pode verificar o trabalho de Elisangela Carolina Luciano, vencedora do Prêmio Educador Nota 10 de 2013. A professora fez uma série de atividades com o propósito de elaborar placas para o hortifrúti do bairro. Mesmo sendo uma proposta que partiu dela, tratava-se de uma situação real (os comerciantes de fato precisam ter placas indicativas), com uma função comunicativa clara e que, no final, teve um uso concreto: as placas foram entregues ao proprietário.
O importante é que o docente selecione gêneros para a oralidade e a escrita que proporcionem aos alunos experiências diversificadas nos quatro campos, lembrando que as fronteiras entre eles são tênues e, portanto, podem ocorrer intersecções, com alguns gêneros sendo desenvolvidos por ângulos diferentes conforme o campo. Também é essencial escolher conteúdos que representem a diversidade cultural e linguística do Brasil e de outros países e permitam aos estudantes ampliar o repertório, conhecer, interagir e valorizar o diferente.
Conheça abaixo cada um dos quatro campos de atuação que devem ser contemplados durante a alfabetização inicial e como trabalhá-los.
Os campos de atuação definidos pela BNCC
1. Vida Cotidiana: Refere-se à participação em situações de leitura e escrita em que o contexto são atividades vivenciadas no dia a dia de crianças nos ambientes doméstico e escolar. Os gêneros, nos anos iniciais, são mais simples e podem incluir listas (de chamada, de ingredientes, de compras etc.), bilhetes, convites, cartas, regras de jogos e brincadeiras, receitas, instruções de montagem etc.
2. Artístico-literário: Relativo a situações de leitura, fruição e produção de textos literários e artísticos. Exemplos: contos, poemas e outros textos em verso, poemas visuais, tirinhas, quadrinhos e fábulas, dentre outros. Especial importância para os gêneros ligados a brincadeiras infantis, como lenga-lengas, parlendas, cantigas de roda etc.
3. Estudo e pesquisa: Envolve situações de leitura e escrita que proporcionem ao aluno conhecer textos expositivos e argumentativos, linguagens e práticas relacionadas ao estudo, à pesquisa e à divulgação científica. Exemplos: enunciados de tarefas escolares, diagramas, relatos de experimentos, entrevistas, verbetes de enciclopédia infantil, enquetes, registros de experimentações e infográficos.
4. Vida pública: Prevê a participação em situações de leitura e escrita, especialmente de textos das esferas jornalística, publicitária e reivindicatória, contemplando temas que impactam a cidadania e o exercício de direitos. Exemplos: fotolegendas, manchetes e lides em notícias, álbum de fotos digital noticioso, slogans, anúncios publicitários e textos de campanhas de conscientização destinados ao público infantil, cartazes informativos, avisos e folhetos, regras e regulamentos que organizam a vida na comunidade escolar, comentários em sites para crianças. Aqui, um plano de aula sobre foto-legenda.