Coordenação pedagógica: mudanças e adaptações na rotina na pandemia
Gestoras de escolas públicas compartilham experiências sobre o modelo a distância e dão dicas para organizar formações e encontros com docentes
PorDiel Santos
25/03/2021
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Jornalismo
PorDiel Santos
25/03/2021
Mudanças, adaptações e novos aprendizados. O ensino remoto trouxe uma série de desafios para a Educação e para o dia a dia de alunos, professores e gestores. Com a coordenação pedagógica não foi diferente. Esses profissionais precisaram criar estratégias para ajudar o corpo docente a lidar com as questões e dificuldades do novo modelo, seja trazendo novas soluções para otimizar a rotina pedagógica dentro do formato digital, seja criando espaços para acolhida e formação nesse contexto.
“Uma das coisas que notei foi a importância dos encontros com professores. Antes da pandemia, fazíamos poucas reuniões individuais com a equipe docente. Percebemos que era fundamental promover esse espaço seguro para que pudessem falar sobre o que estavam sentindo”, diz Joice Lamb, coordenadora na Escola Municipal de Ensino Fundamental Profª Adolfina J. M. Diefenthäler, em Novo Hamburgo (RS).
Esses encontros, segundo ela, foram essenciais para estabelecer uma relação de confiança e empatia entre a gestão e cada docente. “Entendi que nesse período remoto é preciso fortalecer a equipe individualmente. Isso, inclusive, auxiliou a gestão nos planejamentos coletivos, já que muitos pontos sobre o dia a dia eram esclarecidos antes, nas conversas com cada professor”.
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Amanda Silva, coordenadora da Escola Municipal Prof. Waldir Garcia, em Manaus (AM), conta que mesmo já utilizando as ferramentas digitais na escola, um dos desafios para os professores foi usar as tecnologias no contexto remoto.
“Apesar de já trabalharmos com recursos digitais, foi desafiador quando tivemos que utilizar essas tecnologias em casa. Logo no início, montamos um grupo de WhatsApp que serviu como sala de aula para os professores. Houve muita troca e compartilhamento de materiais, o que foi determinante para a adaptação àquele novo momento”.
Formações e acompanhamento a distância
A experiência de Marilene da Mota Costa, coordenadora pedagógica na Escola Municipal de Ensino Fundamental Vinicius de Moraes, em Itupiranga (PA), foi dificultada por questões estruturais. A escola está localizada na zona rural do município paraense e lá não há sinal de telefone, apenas de internet, porém com baixa qualidade.
“Preparamos um manual com orientações sobre as aulas remotas, mas tudo foi bastante complicado. O atendimento aos professores foi totalmente individualizado, já que não era possível fazer encontros coletivos por limitações da conexão com a internet”, explica.
A coordenadora conta que gravou vídeos mostrando como salvar arquivos, enviar documentos e usar o computador, entre outras orientações. Todas as dúvidas eram esclarecidas por meio de ligações via WhatsApp ou chamadas de vídeos, quando possível. Esses momentos individuais cumpriram os momentos formativos.
“Os professores não ficaram desassistidos. Demos todo o suporte necessário, dentro das condições que tínhamos. A pandemia fez com que repensássemos nossa prática, e tivemos que nos arriscar num cenário novo sem as condições ideais”, observa Marilene.
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Na EMEF Profª Adolfina J. M. Diefenthäler, as formações aconteceram no formato remoto e focaram em temas como alfabetização, anos finais do Ensino Fundamental e avaliação. O corpo docente, composto por 40 professores, foi dividido em três grupos.
“Fizemos uma formação de Educação para as relações étnicos raciais, com ajuda de uma professora da escola que estuda o tema, e todos participaram com entusiasmo. Criamos uma sala no Google Sala de Aula, onde eram compartilhados os materiais dos encontros. Hoje essa sala é um repositório com materiais para estudo”, destaca Joice.
Uma das formações que sofreu adaptações na escola EM Prof. Waldir Garcia foi o “Almoço Pedagógico”. Amanda lembra que o encontro acontecia sempre no horário do almoço, pois era mais fácil juntar todo o corpo docente. Com as atividades remotas, a escola também transferiu o encontro para um ambiente no Google Sala de Aula.
No espaço, a gestão compartilhou uma pesquisa para entender quais temas a equipe docente gostaria de ver nas formações. “Logo de cara, os professores pediram metodologias ativas. Fizemos nossa primeira capacitação nesse formato e foi muito interessante. A participação foi completa”.
Além de trabalhar aspectos pedagógicos nas formações, Amanda conta que foram abordadas também as competências socioemocionais. “Começamos uma formação com uma psicóloga para falar sobre como lidar com a morte. Vários funcionários perderam parentes, eu mesma perdi. Então, esses encontros, que continuam acontecendo, foram e têm sido muito importantes para lidarmos com esse momento”.
Checklist: ações para apoiar o ensino remoto
- Fortalecer os vínculos com a comunidade e investir no contato contínuo com as famílias
- Promover encontros coletivos e individuais para escuta dos professores durante todo o ano letivo
- Consultar a equipe docente sobre a rotina, investigando quais ações têm funcionado e o que não deu certo
- Manter documentos, planilhas e outros materiais acessíveis a toda a equipe
- Manter atualizados os registros sobre a participação dos alunos nas aulas, a entrega de atividades e as condições de vida desses estudantes
- Orientar a equipe docente sobre o nível de cobranças dos alunos, observando a realidade de cada estudante
- Incentivar os professores a não extrapolarem o seu horário de trabalho
- Criar dinâmicas que não sobrecarregue a equipe docente como, por exemplo, reduzir o número de registros que a equipe docente precisa fazer ou pensar em estratégias de organização que diminuam o tempo gasto pelos professores em tarefas burocráticas.
Perspectivas para 2021
Mesmo com as dificuldades que se apresentaram no contexto remoto, Marilene diz que um dos focos desse início de ano letivo na EMEF Vinicius de Moraes será nas formações. “Vamos trabalhar muito as tecnologias e as adaptações para o ensino híbrido. Estamos estudando a forma de realizar essas formações, mas vamos nos centrar nas necessidades dos professores para esse contexto”.
A escola onde Marilene atua está funcionando no formato remoto. Alguns poucos alunos que não têm como assistir as aulas a distância participam de forma presencial, seguindo rígidos os protocolos de segurança. A análise da aprendizagem dos estudantes também é uma das prioridades da escola paraense neste ano.
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Joice explica que na escola onde trabalha também haverá um trabalho de análise da situação de cada aluno. “Precisamos descobrir onde esses estudantes estão e como estudam para ajustar as atividades”.
Em relação às formações, já está prevista uma sobre iniciação científica, além dos encontros focados nas relações étnico raciais, que já foram tema no último ano. “Na Educação para os direitos humanos, são as posturas que desejamos transformar. Queremos trabalhar com a nossa comunidade sob essa perspectiva, a escola de todos, que é inclusiva”.
Já na EM Prof. Waldir Garcia, a expectativa da gestão é dar continuidade às formações sobre o uso de tecnologias no processo pedagógico. Além disso, de acordo com a coordenadora Amanda, a escola vai continuar trabalhando os aspectos emocionais e promovendo encontros para que a equipe docente possa compartilhar experiências.
Dicas para organizar as formações remotas
- Pergunte à equipe docente quais assuntos poderiam ser abordados. É importante uma reunião prévia para entender o que consideram importante neste momento
- Observe os problemas e reclamações que têm chegado à gestão. Essa análise pode ajudar na escolha de temas de formação mais ajustados à realidade dos docentes
- Evite formações longas e sem especificidades, para evitar a perda de interesse e o desperdício do tempo dos professores
- Forneça materiais de fontes confiáveis e referências bibliográficas de qualidade
- Busque na equipe profissionais que estudem determinados temas e que possam ajudar na condução das formações
- Valorize a experiência da equipe docente. A prática diária dos professores pode oferecer muitas ideias para as formações
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