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Jornalismo

Alfabetização Brasil afora: como está o Sudeste?

Dados mostram que região possui os melhores resultados de alfabetização do país, mas não apresenta grandes avanços

PorMara Mansani

16/02/2020

Crédito: Mariana Pekin

Já fizemos aqui na coluna uma jornada pela alfabetização em todo o Brasil, do Sul ao Norte. Para finalizar nossa caminhada, chegou a hora de conhecer e refletir sobre o letramento no Sudeste, região em que sou professora.

É neste território que encontramos os melhores resultados de alfabetização do nosso país, tanto em leitura como na Matemática, segundo os dados da Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) de 2016. Mas isso não quer dizer que a região não tenha desafios e não haja ainda muito o que fazer pela aprendizagem dos alunos. Afinal, somente 56,3% dos estudantes têm  nível suficiente de leitura, 78,5% de escrita e 57,3% apresentam conhecimentos suficientes em Matemática, no 3º ano do Ensino Fundamental 1.

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não fazer na hora da sondagem

Uma alfabetização de qualidade se faz, entre tantas outras coisas, com boas e permanentes práticas em leitura, oportunizadas pelo acesso a ambientes que as favoreçam e ofereçam contato direto com os livros.

No Rio de Janeiro, por exemplo, 75,1% das escolas contam com uma biblioteca ou uma sala de leitura. No Espirito Santo o número cai para 47,4%. Os dois estados, respectivamente, representam o maior e o menor número na região Sudeste, quando o assunto é estrutura básica das unidades escolares.  

Minha primeira escola

Foi no estado de São Paulo que me formei professora e venho desempenhando minha profissão há 33 anos, sempre me dedicando a alfabetização. Tive a oportunidade de lecionar na capital paulista, Grande São Paulo e interior e essa experiência em sala de aula me deu uma visão mais ampla da alfabetização.

No início, minha primeira escola não tinha nem sala de leitura, quanto mais uma biblioteca. Na verdade, eu tinha apenas uns três livros de literatura infantil. Depois, em outras escolas, meus alunos tinham acesso à bibliotecas repletas de livros. Mas, para isso, tive de ser firme e exigir o direito deles estarem ali, pois como diziam “biblioteca não é lugar de criança, elas podem estragar os livros”.

Hoje, só na minha sala de aula, tenho centenas de livros incríveis de literatura, além de milhares no espaço para ler, que me permitem propor práticas de leitura que ofereçam aos meus alunos, além da paixão pela leitura, um bom desenvolvimento no processo de alfabetização. Essas experiências ultrapassam os muros da escola e chegam nas casas dos alunos.

De olho na formação

Como sabemos, não há Educação de qualidade e, consequentemente, uma alfabetização de alto nível, se não temos também uma boa formação dos nossos professores. Precisamos de um preparo que leve em contas as necessidades de aprendizagem dos alunos, a realidade vivida por eles, as características de cada região e os currículos alinhados à Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Além da qualidade na formação, precisamos resolver o acesso ao Ensino Superior. O estado do Espírito Santo tem o melhor resultado: 94,3% dos educadores têm formação superior, mas no Rio de Janeiro somente 69,9%. Em Minas Gerais são 85,6% e, em São Paulo, 90%.

Lotação na sala de aula

Em contato com outros colegas professores da região Sudeste, há uma reclamação e preocupação em comum: a quantidade de alunos por sala, principalmente na alfabetização. Módulos de 30 alunos nos Anos Iniciais comprometem o trabalho do professor e a aprendizagem dos alunos, principalmente quando não há um professor auxiliar. Esse é o relato de muitos educadores.

Por outro lado, há uma complexidade em relação a demanda de alunos no Sudeste. São mais de 14 milhões alunos na Educação pública, distribuídos em 39.970 estabelecimentos do ensino básico. Para se ter uma ideia da grandiosidade desses números, a segunda região com maior número de alunos é o Nordeste com mais de 8 milhões e, com menor número, a região Centro-Oeste, com cerca de 3 milhões de estudantes.

Mergulhando nos dados

Analisando os dados da alfabetização por regiões do Brasil e comparando com os números da ANA de 2014 e 2016, mesmo com os melhores resultados, o Sudeste praticamente não alterou seus resultados entre as edições da avaliação nacional. Ou seja, não avançou na aprendizagem dos alunos. Veja abaixo:

Ao final da nossa jornada pela alfabetização brasileira, ao descobrir as diferenças no avanço da aprendizagem entre as regiões, conseguimos tirar algumas reflexões:

>> De maneira geral, precisamos avançar na alfabetização em todas as regiões;
>> Precisamos conhecer, compartilhar e aprender o que vem dando certo em cada parte do nosso país;
>> A qualidade na Educação se faz com excelência e equidade. Mas como fazer valer esses conceitos na realidade da Educação brasileira, quando há tantas desigualdades de acesso e de oportunidades, de diferentes necessidades, entre tantas outras coisas?

Foi muito bom compartilhar com vocês um pouco da realidade da alfabetização de cada região brasileira. Apesar de todas as dificuldades, penso que estamos caminhando e que nós, professores, não podemos ficar fora do debate e das ações para transformamos para melhor a aprendizagem dos alunos.

Então, vamos juntos, dando o nosso melhor em sala de aula com compromisso e muito estudo.

Todos os dados citados neste e em outros posts desta série sobre a alfabetização brasileira foram retirados do Anuário Brasileiro da Educação Básica 2019, produzido pelo Todos pela Educação. Se você quiser se aprofundar nos dados da alfabetização em seu estado e ou região, clique aqui.

Confira também a série completa sobre Alfabetização Brasil Afora:

- O que pensam as professoras da região Sul

- O que pensam as professoras do Nordeste

- O que pensam os professores do Centro-Oeste

-  O que pensam os professores de Porto Velho (RO), no Norte do país

Um grande abraço a todos e até a próxima!

Mara

Mara Mansani é professora há quase 30 anos, lecionou em vários segmentos, da Educação Infantil ao 5º ano do Ensino Fundamental, passando também pela Educação de Jovens e Adultos (EJA). Em 2006, teve dois projetos de Educação Ambiental para o Ensino Básico publicados pela ONG WWF, no livro “Muda o Mundo, Raimundo”. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, na área de Alfabetização, com o projeto Escrevendo com Lengalenga.

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