Por que o café foi o motor do país
Mais do que citar o produto como o principal fator do nosso crescimento econômico, é preciso explicar de que forma ele se tornou tão importante
PorNOVA ESCOLAMariana QueenElisa Meirelles
01/08/2012
Compartilhe:
Jornalismo
PorNOVA ESCOLAMariana QueenElisa Meirelles
01/08/2012
Tem interesse no tema "Neurociência, adolescências e engajamento nos Anos Finais"?
Inscreva-se neste tema para receber novidades pelo site e por email.
Apesar de ser um clássico nas aulas de História, o comumente chamado Ciclo do Café muitas vezes é abordado de uma maneira superficial em classe. Os estudantes sabem que o produto foi - e ainda é - importante para o país, mas não têm claros os porquês disso. Mais do que descrever os acontecimentos do período, é preciso levar a turma a compreender quais estratégias comerciais da Coroa portuguesa, somadas a condições nacionais e internacionais, possibilitaram o bom andamento da produção por aqui.
Para dar início a uma explicação contextualizada, vale recorrer a uma pequena cronologia. Relembre a força da canade- açúcar, de 1580 a 1610, e a época do ouro, entre 1690 e 1760, para então falar sobre a ascensão do café a partir de 1780.
Foi o que fez Túlio Lopes, professor do 8º ano da EM Francisco Sales, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. Antes de introduzir a moçada no contexto da Primeira República, marcada pela força do produto, ele optou por falar sobre as modificações do país ainda durante o Império. "Mostrei como o Brasil foi se desenvolvendo economicamente desse período em diante, com uma produção diversificada, em que o café ganhou importância", explica.
Para que a classe conseguisse visualizar as estruturas sociais e comerciais da época, o professor apresentou a bandeira do Brasil Imperial e propôs a análise da presença do ramo de café na imagem. "Por meio da atividade, a turma começou a se dar conta da dimensão e da força que o produto tinha", explica ele.
Em seguida, Lopes pediu que os alunos observassem a bandeira atual do país e traçassem um paralelo entre ela e a vista anteriormente. "Por meio da atividade, os estudantes notaram as mudanças na base de produção e citaram as grandes evoluções técnicas que ocorreram nesse processo", avalia. Tendo em mente essas observações, ele aprofundou o estudo do tema.
Os erros mais comuns
Dar a entender que Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais só produziam café. Mesmo em baixa, a mineração continuou em Minas Gerais e o cultivo de cana-de-açúcar, no Rio de Janeiro. Havia também produção de alimentos nos três estados.
Dizer que existiu um Ciclo do Café, com começo e fim. A produção do grão continua em curso no Brasil até hoje, mantendo o país entre os líderes em exportação.
Um conjunto de fatores internos e externos interligados
Para compreender a ascensão do café, há quatro fatores - dois nacionais e dois internacionais - que é preciso relacionar (confira no mapa acima). O primeiro diz respeito aos aspectos que fizeram o produto ganhar espaço em território nacional. Mais do que mero acaso, o investimento no grão foi uma decisão da Coroa portuguesa, tomada frente ao declínio do ouro e da cana-de-açúcar. Como o café apresentava grandes vantagens comerciais - o pé durava entre 30 e 40 anos, enquanto o de cana apenas três -, foi fácil cativar os produtores.
Com a expansão do café, veio também o investimento em logística. O grão trouxe uma alta margem de lucro para os produtores logo de início, e praticamente todo o dinheiro foi aplicado em ferrovias. Isso permitiu um escoamento mais eficiente e contribuiu para a inserção do país no mercado externo. "Os alunos devem estabelecer essa relação porque muitas vezes eles acham que as ferrovias nacionais foram criadas para o transporte de pessoas", explica Lopes.
Apenas mudanças internas, no entanto, não seriam suficientes para o sucesso da produção. É essencial que a moçada estude quem eram os consumidores e concorrentes internacionais. Com a Segunda Revolução Industrial (1850-1870) e a vinda do terceiro turno de trabalho à noite, era preciso ficar acordado e o consumo de café aumentou. "O hábito das cafeterias se consolidou mundo afora, sobretudo quando a vida conheceu um novo ritmo, ditado pela produção das fábricas", diz Ana Luiza Martins no livro História do Café (320 págs., Ed. Contexto, tel. 11/3832-5838, 49,90 reais).
Ao mesmo tempo, a diminuição da produção cafeeira nas ilhas de São Domingos e Cuba fez com que o Brasil ocupasse o posto de maior produtor latinoamericano, quase sem concorrentes.
Entendida a relação entre esses fatores, a turma pode observar que, em muitos momentos da história, o mercado e a economia interferiam na política. E no período da cafeicultura não foi diferente. O excelente desempenho do grão permitiu aos produtores grande influência no círculo de poder do Segundo Reinado e das primeiras décadas da República. Mesmo após a estagnação da cafeicultura, o seus barões se mantiveram - e continuam até os dias atuais - como atores políticos bastante importantes no país.
Últimas notícias