Quais foram os filmes mais importantes desde a retomada do cinema brasileiro?
Cinema
PorPaula Sato
18/06/2009
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Jornalismo
PorPaula Sato
18/06/2009
O cinema brasileiro passou por uma fase de decadência durante as décadas de 70 e 80. O auge da crise aconteceu no início dos anos 90, quando a Embrafilme foi extinta no governo de Fernando Collor de Mello. A situação só começou a melhorar em 1993, quando foi criada a Lei do Audiovisual, que promovia novos investimentos por parte do governo federal. Dois anos depois, apareceram as primeiras produções nacionais de peso, como o filme Carlota Joaquina, a princesa do Brasil, de Carla Camurati, considerado um marco da "retomada do cinema brasileiro".
Na época, a grande novidade era a possibilidade da variação de temas, a liberdade de criar sem o fantasma da censura e ainda as novidades tecnológicas que tornaram mais fácil e viável se fazer cinema no país. "A retomada implicou uma mudança de formatação do filme. Antes, usava-se negativos vindos do exterior, o que deixava as produções muito caras. O cineasta tinha um orçamento, mas a maior parte dele era apenas para a compra da película. Isso significava que, se em outros países era possível repetir a mesma tomada até seis, sete vezes, no Brasil os atores ensaiavam e gravavam apenas uma vez. Com a digitalização que passou a ser usada na década de 90, foi possível melhorar a qualidade das produções", conta Máximo Barro, editor de filmes e professor de cinema da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). Assim, os novos equipamentos colocaram o Brasil em condições de produzir filmes no mesmo nível de obras cinematográficas internacionais e ainda permitiu que o documentário ganhasse força no país.
Hoje, quase 15 anos depois da retomada, o cinema brasileiro cresceu no mercado mundial e concorre lado a lado com produções estrangeiras. "Atualmente, o Brasil produz quatro ou cinco filmes por ano que estão no mesmo nível dos internacionais. Apesar de parecer que temos um orçamento baixo, é preciso levar em conta que fora do país a produção é mais cara. Por isso, hoje pode-se dizer que nossos filmes têm nível internacional", diz o professor. Veja logo abaixo uma lista dos filmes mais expressivos desse período:
Carlota Joaquina, a princesa do Brasil - 1995
O filme de Carla Camurati é considerado a primeira grande produção da fase de retomada do cinema brasileiro. O longa-metragem levou 1,2 milhão de espectadores para as salas de exibição, um marco para a história cinematográfica nacional - já que, desde Leila Diniz, de 1987, só produções infantis ultrapassavam a marca de um milhão de ingressos. Os dados são da Agência Nacional de Cinema (ANCINE). O sucesso se deve à história leve, uma sátira sobre a vida da família real portuguesa, e que contava com um elenco de atores conhecidos da TV. "Esse filme foi uma surpresa porque abordava um gênero que nunca fizemos por falta de dinheiro: a reconstituição histórica. Carlota Joaquina foi produzido à margem de todos os problemas com um resultado impressionante, e se tornou um símbolo para o cinema nacional", afirma Máximo Barro.
O Que é Isso, Companheiro? - 1997
Baseado no livro homônimo de Fernando Gabeira, o filme ganhou destaque por retratar o período da ditadura brasileira. É a adaptação da história real do sequestro do embaixador americano Alan Arkin por militantes. Foi visto por 270 mil brasileiros e distribuído no exterior pela gigante Miramax. A boa aceitação pelo público fora do Brasil fez com que a obra dirigida por Bruno Barreto fosse indicada ao Oscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira naquele ano, mas perdeu para o holandês Character.
Central do Brasil - 1998
Feito em parceria com a França e dirigido por Walter Salles, o filme foi o grande sucesso dos primeiros anos de retomada. O enredo é a história de uma mulher que ajuda um garoto órfão a reencontrar a família. O longa-metragem ganhou o Urso de Ouro de Melhor Filme, o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e foi candidato ao Oscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira. "Não acredito em premiações, mas é claro que, quando um filme nacional é indicado a prêmios internacionais, ganha uma perspectiva que não teria por outros meios. É um trabalho excelente que não vai envelhecer", avalia o professor Máximo Barro. A projeção alcançada por Central do Brasil foi um dos grandes responsáveis pelo aumento no número de produções e de investimentos no cinema nacional
Bicho de Sete Cabeças - 2001
A partir dos anos 2000, os filmes nacionais começaram a fazer carreira em festivais de cinema. Em 2001, o filme de Laís Bodanzky teve uma estreia tímida, mas ganhou destaque depois de chamada a atenção nos festivais de Brasília e de Recife. Exibido no exterior, foi vencedor do Festival de Locarno. O drama conta a história de um estudante de classe média (vivido por Rodrigo Santoro) que é internado em um manicômio depois que seus pais descobrem que ele fuma maconha. A película também foi importante por ser o primeiro longa-metragem de sucesso da retomada com uma temática urbana e atual, que aborda os problemas da família, da escola e da juventude contemporâneas.
Abril Despedaçado - 2001
O primeiro longa-metragem de Walter Salles depois de Central do Brasil foi esperado com grande expectativa. Chegou a ser exibido em apenas uma sala de Salvador apenas para poder ser candidato ao Oscar. Não recebeu a indicação, mas foi muito bem recebido pelo público. A história do homem que busca vingar a morte do irmão é baseada no livro do albanês Ismail Kadaré. Venceu o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro no Globo de Ouro, na British Academy of Films and Arts e o Leoncino de Ouro do Festival de Veneza.
Cidade de Deus - 2002
O filme de Fernando Meirelles foi um estrondo no Brasil. A trama se passa na comunidade de Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, e mostra a trajetória de jovens que se envolvem com o crime. Apesar de criticado por enfatizar a violência, também é considerado por muitos como o melhor longa-metragem da retomada do cinema nacional. O público recorde foi de 3,2 milhões de espectadores. Cidade de Deus, ou City of God, também foi sucesso no exterior. Recebeu quatro indicações ao Oscar: melhor direção, melhor roteiro adaptado, melhor fotografia e melhor edição.
Ônibus 174 - 2002
José Padilha fez sua estreia em longa-metragens com um documentário que chocou o Brasil e repercutiu no exterior. O filme foi montado a partir de entrevistas e de imagens captadas por emissora de TV de um drama real: o sequestro de um ônibus no Rio de Janeiro por um dos sobreviventes da chacina da Candelária. É um dos expoentes do documentário brasileiro, gênero que ganhou força com a retomada. "Antes dos anos 90 se produzia, no máximo, um documentário por ano aqui. Com a digitalização, a produção aumentou de quantidade e de qualidade. Hoje somos bem considerados no exterior por causa dos temas abordados e da maneira como nossas produções são conduzidas", explica Máximo Barros.
Carandiru - 2003
A produção de Hector Babenco, baseada no livro Estação Carandiru, de Drauzio Varella, se tornou o campeão de bilheteria desde a retomada do cinema brasileiro, com 4,7 milhões de espectadores. O longa-metragem, que retrata o massacre na Casa de Detenção de São Paulo, no bairro do Carandiru, em São Paulo, foi também exibido no exterior com o mérito de mostrar as condições sub-humanas dos presídios brasileiros. Ganhou prêmios no festival de Havana e Cartagena. "Pela primeira vez no Brasil, um filme estava mostrando com realismo o interior do sistema prisional, uma coisa que o governo é louco para esconder. O filme tem um nível que é difícil de encontrar mesmo em filmes americanos, os únicos que também têm a coragem de abordar essa temática", diz Máximo Barro.
Dois Filhos de Francisco - 2005
Dois anos depois, o recorde de Carandiru foi batido por Dois Filhos de Francisco, que levou ao cinema 5,3 milhões de espectadores, desbancando até mesmo a bilheteria de produções de Hollywood. O filme de Breno Silveira contava a história da dupla de cantores Zezé di Camargo e Luciano. Apesar do apelo popular, também atraiu público que não é fã de música sertaneja e foi exibido com sucesso em outros países, arrecadando 13 milhões de dólares no mundo todo.
Tropa de Elite - 2007
O longa-metragem, primeiro trabalho de ficção de José Padilha, foi cercado de polêmicas mesmo antes do lançamento. Antes da estreia, uma cópia vazou, com isso, DVDs piratas invadiram as ruas do país e o filme virou febre. A estimativa é de que 11 milhões de pessoas assistiram a Tropa de Elite. Dessas, 2,4 milhões foram aos cinemas. Apesar de aclamado pelo público por retratar a violência urbana no país, o papel do consumidor no tráfico de drogas e a falência do sistema policial, o filme foi criticado por incitar o abuso policial e a tortura. Foi muito bem recebido no exterior e ganhou o Urso de Ouro de Berlim. "É um filme difícil, pois aborda questões delicadas. É muito complicado para o público assumir uma posição, tomar uma atitude. Cinematograficamente, é muito bom. Foi bem concebido como argumento e roteiro, muito bem filmado, tinha os atores que eram necessários para o papel, o acabamento foi feito de acordo. É um filme de choque", avalia o professor Máximo Barro.
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