Há 30 anos seria impossível imaginar uma sala de aula sem o quadro ou uma pesquisa escolar feita sem uma enciclopédia. Muito menos, que esses instrumentos consagrados seriam substituídos por modernas lousas digitais e inúmeras obras virtuais disponíveis na internet. Mas os tempos mudaram, sim, e a presença da tecnologia na Educação avança a cada dia.
"A grande contribuição desses recursos e o que de fato eles mudam é o envolvimento do estudante com a aprendizagem, produzindo e investigando os conteúdos", destaca Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida, docente do Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Essa interatividade representa o fim do antigo modelo educacional, no qual cabia ao aluno apenas ouvir passivamente o que o docente lhe transmitia. "Aquele que não se adaptava a isso era carimbado como ruim ou preguiçoso. Hoje, temos a possibilidade de oferecer a esses estudantes outras portas de acesso ao conhecimento. Há uma série de novas mídias para representar e entender o mundo", diz Paulo Blikstein, doutor em Educação e professor da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.
Diante de tamanha transformação, as expectativas com a inclusão das TIC na Educação foram e ainda são enormes. No início dessa modernização, houve quem acreditasse que sozinhas as novidades seriam capazes de melhorar a qualidade do ensino. Atualmente, já se sabe que isso é mito, e a tecnologia é apenas um meio para alcançar processos educativos mais eficazes. Ela aproxima a escola da realidade desta geração que praticamente nasceu sabendo usar tudo o que é tecnológico e se transforma em um intermediário atraente, que ajuda a motivar os alunos.
Os equipamentos estão chegando a cada vez mais instituições. O Censo Escolar 2010 mostra que 60,45% das escolas brasileiras possuem computador. Mas apenas 23% das escolas urbanas entrevistadas pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic.br) contam com manutenção preventiva.
Glossário
TIC: sigla de tecnologias de informação e comunicação, inclui as máquinas e os programas que geram a difusão e o acesso ao conhecimento
Além dos técnicos especializados no maquinário, é preciso que haja um professor qualificado orientando a utilização dessas ferramentas e as direcionando para um conteúdo pré-determinado. Ou seja, os equipamentos devem servir ao trabalho pedagógico e educadores e técnicos precisam atuar em conjunto para alcançar esse objetivo. Aí está o grande desafio. Será que a maioria dos educadores sabe como tirar bom proveito desses instrumentos? Eles recebem uma formação adequada para isso? Infelizmente, a resposta para essas perguntas é "ainda não". A pesquisa O Uso do Computador e da Internet na Escola Pública, realizada pela Fundação Victor Civita (FVC) em parceria com o Ibope Inteligência e o Laboratório de Sistemas Integráveis Tecnológico, em 2009, mostrou que 70% dos professores entrevistados sentiam-se pouco ou nada preparados para o uso da tecnologia na Educação.
Para Sérgio Amaral, coordenador do Laboratório de Novas Tecnologias Aplicadas na Educação (Lantec) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o principal benefício dessas mudanças na prática pedagógica é que o professor tem a possibilidade de ser autor do material que utilizará nas aulas, sem precisar de outros profissionais para desenvolvê-lo. Dessa forma, ele ganha autonomia para traçar seus objetivos e para medir a eficácia de uma determinada metodologia. Mas com a grande oferta de materiais e ferramentas online, esse modelo só trará resultados positivos se o docente souber escolher criticamente o que e quando deve ser utilizado. E isso esbarra novamente na formação.
"As universidades, que deveriam ser o centro de disseminação desse conhecimento, simplesmente não o fazem. Os profissionais se formam sem nunca ter aprendido como utilizar as TIC na classe de maneira adequada", diz Amaral Carvalho, pesquisador da Universidade de Aveiro, em Portugal. "Um curso de alguns dias ou semanas não mudará esse cenário. A capacitação nessa área precisa ser contínua."
Como resultado, o professor César Coll, da Universidade de Barcelona, constata que na maioria dos cenários de Educação formal o acesso e a aplicação da tecnologia ainda são limitados e, muitas vezes, inexistentes. "Os usos atuais das TIC têm reforçado práticas já existentes em vez de buscar por inovação. Elas não garantem automaticamente dinâmicas de melhoria educativa, mas podem gerá-las se aplicadas no contexto correto", afirmou em seminário neste ano em São Paulo. Como se vê, ainda há muitos obstáculos. Este guia, um convite para gestores e docentes dispostos a enfrentá-los, está repleto de ideias para aproveitar tantas possibilidades. Boa leitura e lembre de compartilhar os seus aprendizados.
Escolas com acesso à internet
- 39% das que atendem do 1º ao 5º ano
- 70%das que atendem do 6º ao 9º ano
Fonte Censo Escolar 2010
Linha do tempo
O que já foi utilizado para dar aulas
- Século 18 Quadro e giz Possibilita o aumento do número de alunos e o surgimento do professor que conhecemos hoje. Desde 1980, dividem espaço com o quadro branco e o pincel atômico.
- 1887 Mimeógrafo Permite a impressão de pequenas tiragens com papel carbono e álcool. Colabora principalmente com a preparação de provas, exercícios e lições de casa.
- 1900 Episcópio Projeta em uma tela objetos ou superfícies opacas, como fotografias e páginas de livros. Para funcionar corretamente, a sala deve estar completamente escura.
- 1950 Retroprojetor Com ele, o professor não precisa mais ficar de costas para a turma. Além disso, preparar as transparências é bem mais rápido do que escrever com o giz no quadro.
- 1971 Computador O primeiro uso em aulas no Brasil foi na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mas, rapidamente, ele passa a contribuir também com o ensino para as crianças.
- 1984 Datashow Exibe a imagem do computador em uma tela ou na parede. Tem gerado o abandono dos demais recursos de projeção que existiram antes dele.
- 1990 Internet Apesar de ter sido utilizada na Guerra Fria, ela chega às escolas na década de 1990. A partir daí, revoluciona o acesso, de professores e alunos, à informação.
- 1991 Lousa digital Reproduz a imagem do computador em uma tela sensível ao toque, na qual também é possível escrever. Com isso, deixa o antigo quadro com cara de passado.
- 2010 Tablet Nos Estados Unidos, existem mais de 20 mil aplicativos educativos. No Brasil, há intensa distribuição para docentes e alunos do Ensino Médio, com usos variados.
Consultoria José Carlos Araújo, professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU); Maria Cândida Morais, professora da Universidade Católica de Brasília (UCB); Maria Helena Câmara Bastos, professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS); e Paulo Francisco Slomp, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)