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Jornalismo

Um outro conceito de aula

Ou a lição que a Educação Infantil tem a ensinar às professoras e aos professores de todos os níveis de ensino (inclusive a pós-graduação)

PorLuis Carlos de Menezes

01/08/2006

Foto: Gustavo Lourenção
"Os melhores momentos de qualquer curso são as oportunidades de diálogo, cooperação e discordância". Foto: Gustavo Lourenção

É com grande alegria que assumo a responsabilidade de escrever em NOVA ESCOLA, grande parceira das professoras e dos professores brasileiros.Mais ainda porque esta coluna estréia junto com um novo caderno, dedicado integralmente à Educação Infantil. Em meu dia-a-dia, na graduação e na pós-graduação da Universidade de São Paulo, formo professores e oriento teses que têm como preocupação a Educação Básica e tenho as aulas de pré-escola (suas formas de convívio, seus procedimentos de aprendizado e de avaliação) como paradigmas a seguir.

Como educador e pesquisador do Ensino Fundamental e do Médio, sei que ambos cresceram nas últimas décadas, mas precisam se atualizar se quiserem preparar melhor os alunos e as alunas para os desafios do século. Vivemos numa época em que relações sociais, pessoais e profissionais são complexas e transitórias, comunidades perdem terreno para o individualismo e é duvidoso o futuro da sociedade e do meio ambiente. Minha experiência me mostra que os melhores momentos de qualquer curso, do Ensino Fundamental à pós-graduação, são as oportunidades de diálogo, cooperação e discordância, de formação de afinidades, de descoberta e aprendizado coletivo, de atividades e avaliações que promovem a iniciativa dos alunos e nisso eles têm muito em comum com a Educação Infantil.

Grandes educadores como Célestin Freinet, John Dewey, Jean Piaget, Lev Vygotsky e Paulo Freire compreenderam que o caráter pessoal e o sociointerativo se complementam. As boas professoras da Educação Infantil sabem disso e criam situações de aprendizado com base nas relações e iniciativas grupais em suas turmas. Um observador inexperiente pode tomar suas ações como "maternais", sem notar a dimensão educativa. Da mesma forma que um leigo, ao ver que os músicos pouco olham para o maestro, o imagina supérfluo. Há professores que sabem estimular qualidades pessoais dos estudantes. Contudo, a partir dos últimos quatro anos do Ensino Fundamental, as turmas costumam ser tratadas como múltiplos impessoais de uma "unidade-aluno", que devem responder disciplinada e individualmente às orientações do professor, sem interações entre colegas nem aprendizado coletivo (e no Ensino Médio e Superior essa atitude se generaliza, com prejuízo à formação dos nossos jovens).

Estudantes não são matéria-prima a ser processada. Eles são reunidos em turmas para se desenvolver e apreender juntos, não para baratear sua "produção em série". É por isso que escolas e aulas precisam ser reformuladas: para valorizar relacionamentos e a construção conjunta de conhecimentos.

Qualquer que seja o tema ou a disciplina, a proposta que faço a você é pôr em prática esse sentido sociointerativo da aprendizagem exatamente como já fazem as boas professoras da Educação Infantil. 

São diferentes as dificuldades em turmas de 15 crianças ou de 40 adolescentes, mas isso não é pretexto para não tentar. Neste semestre, terei uma turma de preparação para a docência no Ensino Superior, na pós-graduação, e duas de História da Física Moderna, na graduação. Se você aceitar o desafio e me contar como decidiu encará-lo, prometo enviar meus programas de curso e, ao fim do semestre, os resultados. Vamos nessa?

Luis Carlos de Menezes

É físico e educador na Universidade de São Paulo. Já passou pela Educação Infantil há um bom tempo, mas sabe o valor que ela tem.

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