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Experimente perguntar em sala de aula para os seus alunos quais os youtubers preferidos deles e se eles seguem seus canais. Se você não sabe o que é youtuber vale a explicação: são pessoas, das mais diversas idades, que produzem conteúdos diversos em vídeo e se comunicam pela internet, mais especificamente por meio do YouTube. Com o avanço da tecnologia, os alunos estão cada vez conectados às informações, mas também com maior domínio sobre as ferramentas de produção de conteúdo.
Você, professor, já pensou, portanto, em utilizar a produção de conteúdos de comunicação como recurso para o processo de construção do conhecimento dos alunos?
As possibilidades são diversas e aproximam os estudantes de algo que já faz parte do seu cotidiano. Vejamos algumas delas:
- Jornal impresso: muitas escolas já fazem, mas ele costuma ficar restrito ao público da comunidade escolar. Que tal transformá-lo em um blog ou em uma fanpage (comunidade de fãs ou apoiadores de uma pessoa ou local)? Com o aumento do público, a função social da produção também ganha amplitude.
- Vídeos: produzi-los está cada vez mais simples e mais barato – isso sem contar que a distribuição também está bem mais facilitada. Basta um celular e uma conexão à internet para que uma gravação possa ser visualizada por milhares de pessoas. Tutoriais ensinam como gravar e distribuir um vídeo no YouTube (veja algumas dicas aqui).
- Rádio: colocá-la no ar hoje nem se compara ao trabalho (e ao custo) de se fazer isso na década de 1990, quando se exigia uma série de equipamentos analógicos: antenas, mesas e caixas de som etc. As plataformas digitais permitem que textos, vídeos, imagens e sons sejam rapidamente produzidos e lançados. Para isso, aposte nos podcasts, que podem ser divulgados na internet.
As dicas acima apontam para a facilidade que hoje é ser um produtor de conteúdo no que se refere ao processo técnico. Mas é um equívoco achar que somente elaborar um material, sem intenção pedagógica e reflexão crítica sobre o que é consumido e produzido, basta para transformá-lo em uma atividade educativa.
Para Ismar de Oliveira, professor do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo (NCE/USP) e um dos maiores incentivadores do estudo sobre as inter-relações entre comunicação e educação, um dos principais objetivos da Educomunicação é o desenvolvimento da competência de análise crítica da mídia. Dessa maneira, ao apropriarem-se e tornarem-se autores dos meios de comunicação, os alunos podem, se mediados por educadores, compreender a complexidade que envolve os veículos de comunicação em massa.
Por isso, é preciso que os próprios professores se conscientizem de algumas questões quando propõem a produção de mídias como um recurso pedagógico.
1 – Problematização da produção Conte com a colaboração dos alunos desde o primeiro momento. Em vez de propor você o tema do trabalho, apresente para eles um conceito mais amplo e peça que deem muitas ideias, elaborem propostas, as registrem e façam escolhas. Quando os estudantes partem de problemas, desafios e situações que eles vivenciam é muito fácil engajá-los no processo. Afinal, eles irão refletir, pesquisar e escolher linguagens para buscar a solução de uma dificuldade real. Vale dizer que é possível fazer isso em todas as idades – as crianças pequenas vão se interessar, por exemplo, em registrar as brincadeiras que elas realizam na escola, enquanto os maiores podem querer produzir um material com dicas de livros e passeios culturais. É claro, no entanto, que existem variações da atuação do professor – os jovens precisam ser mais desafiados e menores precisam de uma mediação mais efetiva dos adultos para problematizar as situações. Para além da participação de todos, é importante também você não tirar do seu horizonte as seguintes perguntas: Para que e por que vamos produzir esse material? Para quem ele vai se destinar?
2 – Utilização de diferentes plataformas midiáticas
O foco deve ser o conceito trabalhado, a mensagem e o conteúdo. Mas não se esqueça que há uma diversidade de plataformas e linguagens a serem exploradas. Os alunos podem optar pelo rádio, pelo vídeo ou pelo blog, por exemplo, de acordo com suas habilidades e afinidades. A intenção é que, ao diversificar o formato, não se estabeleçam padrões midiáticos únicos e dominantes para a comunicação em massa. Até porque seu papel como professor, e dos demais adultos que atuam na formação das crianças e dos jovens, é questionar os padrões presentes e apresentar não só as mídias alternativas, mas também as possibilidades de uso delas.
Todo esse processo é importante porque por muito tempo a escola foi consumidora apenas de informações da TV e do rádio. Mas não dá mais para ignorar as Tecnologias Digitais da Informação e da Comunicação. E isso exige a construção de uma didática reflexiva e crítica para que os alunos possam, também eles, “dar seu recado ao mundo”.
Quando os estudantes utilizam diferentes mídias e se apropriam de diferentes linguagens passam a enxergar e explorar diversos pontos de vista sobre um acontecimento, uma ideia, um objeto ou uma concepção. No vídeo abaixo, produzido pela jornalista Taina Shimoda, conheça o programa Imprensa Jovem, um exemplo de como a educomunicação pode transformar a escola em um ambiente de desenvolvimento de projetos e de aprendizagem significativa.
Abraços e até o próximo mês,
Jane Reolo