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Jornalismo

Nair Renz falou sobre seus passatempos favoritos, enquanto a turma tomava notas. Arquivo pessoal/Isaura Gorete de Carli. Ilustrações Pedro Hamndan Nair Renz falou sobre seus passatempos favoritos, enquanto a turma tomava notas Libório Renz mostrou a peteca e o carrinho de carretel e falou sobre sua infância. Arquivo pessoal/Isaura Gorete de Carli. Ilustrações Pedro Hamndan Libório Renz mostrou a peteca e o carrinho de carretel e falou sobre sua infância As crianças conheceram e experimentaram brinquedos como o carrinho de madeira. Arquivo pessoal/Isaura Gorete de Carli. Ilustrações Pedro Hamndan As crianças conheceram e experimentaram brinquedos como o carrinho de madeira

Queridos pela garotada desde sempre, os brinquedos refletem o modo de vida da época em que foram produzidos e podem ajudar a entender o passado. "Essa abordagem está relacionada ao conceito de empatia histórica, que valoriza o universo simbólico da criançada e o compara com experiências de tempos anteriores", diz Maria Auxiliadora Schmidt, professora de Metodologia e Prática de Ensino de História na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Pensando nisso, Isaura Gorete De Carli, da EM Chapeuzinho Vermelho, em Terra Nova do Norte, a 650 quilômetros de Cuiabá, propôs às suas turmas do 3º e 4º ano um trabalho sobre o tema.

Ela iniciou a sequência com uma roda de conversa. "As crianças não conheciam a origem dos brinquedos nem sabiam relacioná-los ao contexto em que foram produzidos", conta. A professora dividiu a turma em grupos para uma leitura a respeito do assunto. Em seguida, houve uma discussão coletiva. O livro A História do Brinquedo - Para as Crianças Conhecerem e os Adultos se Lembrarem (Cristina Von, 242 págs., Ed. Alegro, tel. 0800-026-5340, edição esgotada) pode ajudar a aproximar a garotada desse universo.

Depois dessa atividade, ela levou a turma ao laboratório de informática para uma pesquisa. Vale indicar sites de acervos, como o do Museu dos Brinquedos, em Belo Horizonte, do Museu Histórico Nacional, do Museu do Brinquedo de Sintra e páginas destinadas ao público infantil.

Nessa etapa, os estudantes descobriram os antigos carrinhos de carretel, as bonecas artesanais e o pião. Os dados foram anotados num caderno de campo, que todos mantiveram durante o trabalho. Em seguida, eles apresentaram suas descobertas para o restante do grupo. A professora questionou: "Quais foram os primeiros brinquedos?" e "Do que eram fabricados?". "De ferro", respondeu um. "De plástico", disse outro. Isaura explicou que, antigamente, a maioria era feita em casa com pano, madeira ou espiga de milho. Isso despertou a curiosidade de todos. Isaura pediu que eles elaborassem um levantamento sobre os brinquedos que os avós tinham quando pequenos. Coletivamente, listaram perguntas como: "Qual era o seu brinquedo preferido?" e "Você costumava brincar muito?".

Na aula seguinte, as respostas foram socializadas. Gabriel Torres Zenaro, 9 anos, comentou que sua avó confeccionava bonecas de milho. Isaura convidou alguns idosos para falar sobre as diversões de sua infância para a garotada. Nair e Libório Renz, ambos de 66 anos, trouxeram os brinquedos de que gostavam, fabricados por eles mesmos. Nair apresentou bonecas de pano e milho e Libório um carrinho de carretel e uma peteca. Os alunos tomaram notas e, em seguida, produziram um relatório. A professora aproveitou essa etapa para pontuar as diferenças e semelhanças entre brinquedos e formas de brincar no passado e no presente.

Após a visita do casal, Isaura discutiu com os estudantes as mudanças na produção dos brinquedos ao longo do tempo. Comentou que a produção artesanal perdeu espaço a partir da Revolução Industrial, que ocorreu no século 18, e que cada época teve seus brinquedos (minilocomotivas faziam a cabeça da criançada nesse período; já naves espaciais eram populares na década de 1960, por causa da corrida espacial).

Planejamento embasado

É importante ressaltar a relação das pessoas com os brinquedos durante a história. "Vale perguntar com o que se divertiam os pequenos na época em que o Brasil foi descoberto e quais dos objetos ainda existem hoje", exemplifica Maria Auxiliadora. Bonecas de pano, pião e carrinhos, que ainda são utilizados em alguns lugares, podem ser citados. Antes de abordar o tema em classe, é fundamental estudá-lo. A docente recomenda planejar as atividades utilizando livros como História das Crianças no Brasil (Mary del Priore [org.], 450 págs., Ed. Contexto, tel. 11/3832-5838, 65 reais), Brinquedos e Companhia (Gilles Brougère, 335 págs., Ed. Cortez, tel. 11/3611-9616, edição esgotada), História da Vida Privada no Brasil (Volume 1) - Cotidiano e Vida Privada na América Portuguesa e História da Vida Privada no Brasil (Volume 2) - Império: a Corte e a Modernidade Nacional (vários autores, 560 págs., Ed. Companhia das Letras, tel.11/3707-3500, 79 reais cada um). Já Renata Meirelles, educadora e coordenadora do projeto Território do Brincar, que mapeia passatempos tradicionais, sugere ler o livro História Social da Criança e da Família (Philippe Ariès, 280 págs., Ed. LTC, tel. 11/5080-0770, 91 reais). "Isso dá repertório para fazer intervenções, relacionando o tema aos diferentes contextos históricos estudados", diz Maria Auxiliadora.

Os alunos também vivenciaram o contato com brinquedos tradicionais numa oficina de produção desses materiais. Os objetos foram confeccionados com base nas pesquisas. A professora também pediu desenhos, que foram incorporados ao caderno de campo. A turma expôs os trabalhos para a comunidade escolar. Ao fim do estudo, os brinquedos do passado - e o próprio passado - tinham um novo significado para a garotada.

1 Mergulho nos textos Introduza o tema numa roda de conversa. Apresente livros e sites para a garotada. Certifique-se de que as fontes trazem informações sobre o contexto de produção dos brinquedos. 

2 Os mais velhos têm histórias Proponha aprofundar o estudo com base na coleta de dados com familiares. Oriente a turma sobre os procedimentos de entrevista. Pais e avós podem ser convidados a ir à escola falar sobre os brinquedos de sua infância. 

3 Exploração e comparação A meninada vivenciou o contato com brinquedos tradicionais em uma oficina. Em seguida, debateu as diferenças entre os usados no passado e no presente.

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