Capoeira, o gingado que vem da África
Queixadas, meias-luas, armadas... Adolescentes baianos aprendem os movimentos da luta trazida para o Brasil e ampliam seu repertório cultural
PorPaulo Araújo
31/03/2007
Compartilhe:
Jornalismo
PorPaulo Araújo
31/03/2007
Tem interesse no tema "Neurociência, adolescências e engajamento nos Anos Finais"?
Inscreva-se neste tema para receber novidades pelo site e por email.
Movimentos da capoeira: espírito coletivo da
dança é preservado. Foto: Valter Pontes
Quando chegou para trabalhar na EE Alfredo Magalhães, localizada entre duas comunidades com população majoritariamente negra em Salvador, a professora de Arte Thais Passos Wagner descobriu que os alunos da 5ª a 8ª série só queriam saber dos ritmos musicais que passavam na TV. "Nada de capoeira, uma herança trazida para o Brasil exatamente pelos antepassados da garotada", conta. Ao perguntar por que não se interessavam pelo ritmo, eles disseram que aquilo era coisa de seus pais e avós. Não é de estranhar, já que nem todas as pessoas valorizam as raízes.
Desafiada a reverter a situação, Thais pesquisou, retomou textos que já havia lido, procurou outros atualizados e avaliou que um projeto que explorasse características artísticas aliadas ao trabalho de expressão corporal teria chance de despertar o interesse da turma. Ela estava certa. Durante oito meses, armadas, meia-luas, rasteiras e queixadas começaram a conviver com os passos do axé e do pagode veiculados pela mídia e acabaram por conquistar os jovens.
A professora convidou um mestre para ensinar a garotada sobre essa dança africana e assim garantiu a profundidade do projeto. Um grupo de capoeiristas freqüentou a escola por três meses, levando instrumentos musicais e organizando pequenas rodas para os alunos perceberem a beleza do jogo. Depois dessa imersão cultural, foi mais fácil dar continuidade ao projeto e ir além, propondo na Alfredo Magalhães outros ritmos musicais e dançantes de origem africana. P.A.
Sequência de atividades
1. PREPARAÇÃO CORPORAL
Durante a dança, músculos do abdômen, do quadril e da perna trabalham muito. Por isso, é importante dar à garotada noções de anatomia em um contexto significativo. Outra estratégia é explorar o que a turma já conhece, o que gosta e o que faz parte de seu cotidiano. Na Alfredo Magalhães, os alunos eram feras em dança, especialmente axé, pagode e samba-rock. Thais pedia a voluntários que demonstrassem os passos desses ritmos. Depois, lembrava que a maioria tinha origem em danças africanas. A relação cultural apareceu e se tornou fundamental para acompanhar as primeiras rodas conduzidas pelo mestre capoeirista.
2. AS CARACTERÍSTICAS DA DANÇA
Dança, luta ou jogo? É preciso conhecer a origem e a natureza da capoeira para melhor apreciá-la. Thais levou os alunos para a biblioteca para pesquisar de que forma milhões de africanos foram deslocados para várias capitais brasileiras, principalmente Salvador, durante a escravidão. Eles leram que em diversos locais de origem dos negros - e nos quilombos - a capoeira era usada como defesa. Com o passar do tempo, ela ganhou as ruas e evoluiu para uma dança que tem o principal elemento de um jogo: o desafio. A garotada também entendeu que a capoeira preserva o espírito da dança coletiva. Para que aconteça, são necessárias pelo menos duas pessoas com passos combinados. Na rodas, os capoeiristas ensinaram à turma movimentos como ginga, armada, meia-lua, cabeçada, rasteira e queixada.
3. DESDOBRAMENTOS
O aprendizado acontece quando os alunos se apropriam da manifestação cultural e ela passa a ser espontânea. Thais percebeu que os jovens já estavam envolvidos com a capoeira e tinham prazer em praticá-la - as rodas se formavam pelo menos duas vezes por semana, a pedido deles. Ela passou então a uma nova etapa do projeto e sugeriu aos que já jogavam fazer demonstrações para colegas de outras séries e propôs um trabalho com o samba-de-roda (avô do pagode, veja só!) e o maculelê. Rapidamente a turma incorporou as novas modalidades ao repertório.
Outras propostas
AS DANÇAS DO PAÍS
Assim como é possível ensinar capoeira na Bahia e em outras partes do Brasil, uma variedade imensa de danças pode ser pesquisada e praticada com o auxílio do professor, de profissionais ou de pessoas da comunidade. Mais importante do que reproduzir simplesmente a manifestação típica de determinado local, o ideal é incentivar os estudantes a dar uma cara própria a ela. Essa é a dinâmica própria da cultura. Por exemplo: é impossível ver imagens de uma quadrilha junina em Caruaru (PE) e reproduzi-la na escola, pois essa dança tem características diferentes em cada região e muda com o passar dos anos. A pesquisa deve ser concluída com textos, fotos e vídeos das apresentações dos alunos. Os registros servem de material de consulta para outros estudiosos.
CONSULTORIA: ANA CATARINA VIEIRA E ÂNGELO MADUREIRA, DA ESCOLA BRASÍLICA MÚSICA E DANÇA, EM SÃO PAULO
PARA ESTICAR O ESQUELETO
Escolha uma boa trilha sonora, coloque a música para tocar e sente as crianças em círculo. Peça que elas se espreguicem e estiquem o corpo para frente e para trás. Para trabalhar a musculatura facial, todos devem fazer caretas. Ensine a turma a balançar as pernas como um bebê esperneando. Explique que assim são ativadas as articulações, ou seja, o local onde os ossos se encontram. Hora de alongar e curvar a coluna e de imitar borboletas - sentada no chão e com os pés unidos, a criança dobra as pernas, fazendo movimentos para cima e para baixo. Outros bons exercícios: ficar em pé segurando nos calcanhares, se apoiar nos ísquios e nos calcanhares e dessa forma se mover até o centro da roda e massagear o próprio corpo e o do colega. Um bom alongamento dura em torno de dez minutos.
CONSULTORIA: CARMEN OROFINO, DA ESCOLA VIVA, EM SÃO PAULO
Quer saber mais?
CONTATO
EE Alfredo Magalhães, R. Ipirá, s/nº, 41940-230, Salvador, BA, tel. (71) 3240-0362
EXCLUSIVO ON-LINE
Assista uma série de vídeos que explicam todos os movimentos da capoeira em www.novaescola.org.br
Últimas notícias