Compartilhe:

Jornalismo

Arqueologia para desenvolver a produção de texto

O professor paulista utilizou uma reportagem sobre as estripulias de um tatu em meio aos fósseis para introduzir noções de arqueologia e destacar a importância de uma boa redação nas provas de Geografia e História

PorGiovana Girardi

28/02/2005

Tem interesse no tema "Neurociência, adolescências e engajamento nos Anos Finais"?

Inscreva-se neste tema para receber novidades pelo site e por email.

Daniel, que uniu arqueologia e redação em suas aulas: jornal é um rico material didático. Foto: Gustavo Lourenção
Daniel, que uniu arqueologia e redação em suas aulas: jornal é um rico material didático. Foto: Gustavo Lourenção
 

Em arqueologia, quanto mais fundo estiver enterrado um objeto em sítio arqueológico, mais antigo ele é. Os que estão no mesmo nível têm a mesma idade. Mas essas regras só podem ser aplicadas se nenhum tatu tiver passeado pela área: o animal pode deslocar as peças e com isso confundir os cientistas! A notícia de um jornal paulistano, em 2003, sobre como esse mamífero desdentado pode atrapalhar as descobertas sobre a história do homem foi tema do Projeto Nota 10 do professor Daniel Vieira Helene, da Escola da Vila, em São Paulo. Ele mostrou aos alunos de 5ª série que arqueologia é mais do que apresentam os filmes de Indiana Jones e está sujeita a contratempos e imprecisões, mas é fundamental na reconstituição da evolução da humanidade. Daniel foi além e, sabendo da dificuldade dos colegas em fazer com que as crianças dêem respostas completas nas avaliações, ele fez questão de analisar a redação e a qualidade das informações apresentadas pelos alunos na prova sobre o assunto.

PASSO A PASSO E METODOLOGIA 

1. Despertando o interesse pelo passado
O trabalho inscrito por Daniel no prêmio Professor Nota 10 era parte de um projeto mais amplo, que tinha como objetivo estudar os diversos tipos de hominídeo. Durante os estudos, os alunos levantaram diversas dúvidas: de onde vêm as informações sobre os nossos antepassados? Podemos ter certeza de como eram eles? O professor sentiu necessidade de ensinar o que é um sítio arqueológico e como os cientistas estudam o passado por meio da análise de objetos e fósseis. Para começar uma discussão, lançou a intrigante questão: "Como um tatu pode atrapalhar a datação?"

2. A arqueologia e suas ferramentas
Só depois a turma leu a reportagem "Buraco de tatu põe sítio arqueológico de pernas para o ar", do jornal Folha de S.Paulo. O texto conta que ao andar, o animal pode bagunçar o lugar onde se encontram vestígios da ocupação humana e misturar objetos de diferentes idades entre as camadas do solo: apenas meio metro de deslocamento pode significar uma diferença de 500 a 5 mil anos.
Os alunos marcaram com canetas coloridas dados sobre a precisão da arqueologia, o trabalho dos pesquisadores e a maneira de datar os objetos.
Depois, Daniel explicou os conceitos de estratificação do solo, de datação arqueológica e falou sobre a natureza do trabalho científico. Os alunos compreenderam que há outras maneiras de checar a idade dos objetos, como a prova do Carbono-14 (o elemento químico, presente nos tecidos orgânicos mortos, diminui em ritmo constante com o tempo).

3. Prova é momento de aprender
A etapa mais importante do trabalho estava por vir. A avaliação escrita serviria para ensinar os alunos a responder uma questão de forma completa, usando termos precisos e as informações necessárias. A prova tinha uma só questão: "Explique como a ação de um tatu em um sítio arqueológico pode confundir os arqueólogos em suas pesquisas". Após a correção individual, Daniel expôs algumas respostas usando o retroprojetor. Com a turma, identificou as qualidades e os problemas dos escritos. O resultado foi uma lista de critérios a ser seguidos em uma construção melhor: usar termos precisos; evitar a linguagem coloquial; fazer revisão com a atenção voltada para a gramática e a ortografia; e não começar a resposta com "porque", para ela ser compreensível por si só.

4. O projeto se amplia com arte rupestre

A primeira versão desse trabalho foi feita em 2003. Diante do sucesso, Daniel repetiu-o em 2004 nas turmas de 5ª série com um diferencial: inseriu a análise de pinturas rupestres. Esse tipo de desenho, feito em cavernas por nossos ancestrais, traz indícios de como era a vida do homem pré-histórico. No Brasil, o melhor representante dessa época é o Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí, que o professor visitou e de onde trouxe muitas imagens. Ele fez cópias das pinturas e pediu aos alunos para completar os desenhos. Ao descobrir que eram desenhos pré-históricos, a turma começou a refletir sobre como seria a rotina de nossos antepassados. A viagem de Daniel também rendeu um intercâmbio para a Escola da Vila: os estudantes começaram a trocar correspondência com crianças de uma escola de São Raimundo Nonato cidade piauiense onde fica o parque nacional. O tema: arqueologia.

HISTÓRIA
TEMA DO TRABALHO

O arqueólogo e o tatu

5ª Série

OBJETIVOS E CONTEÚDOS

Daniel queria que os alunos tivessem os primeiros contatos com a arqueologia e suas tecnologias para responder a dúvidas surgidas durante o projeto maior de sua disciplina (Primeiros Homens e Mulheres na Terra). O professor explicou estratificação do solo e as diversas maneiras de datar objetos encontrados em escavações. Outro objetivo era fazer a turma perceber a importância de uma boa redação nas provas de Geografia e História.

PARA AMPLIAR ESTE PROJETO
A professora Sueli Furlan, selecionadora do Prêmio Victor Civita, recomenda aos professores que quiserem adaptar a proposta às suas turmas não deixar de aprofundar o tema arqueologia, abordando a história dessa ciência, suas principais descobertas, os conceitos e as diversas técnicas utilizadas pelos pesquisadores.

AVALIAÇÃO
Os alunos foram avaliados em cada etapa do projeto. Daniel aplicou prova de apenas uma questão e usou os resultados para fazer a avaliação final. O conteúdo os princípios da arqueologia , todos tinham compreendido. Para analisar a qualidade da redação da turma, o professor exibiu alguns textos de alunos no retroprojetor. Identificados os problemas, eles reescreveram suas respostas, desta vez com explicações completas, menos erros de português e mais precisão nos termos.

Quer saber mais?

Escola da Vila, R. Alfredo Mendes da Silva, 55, 05525-000, São Paulo, SP, tel. (11) 3751-5255

Daniel Vieira Helene, e-mail: dvhelene@uol.com.br

BIBLIOGRAFIA

Buraco de tatu põe sítio arqueológico de pernas para o ar, Folha de S.Paulo, 25 de maio de 2003, http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u9185.shtml (só assinantes)

Veja mais sobre

Últimas notícias