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Jornalismo

Sua turma sabe qual a função da escala?

A precisão do mapa depende do que queremos mostrar e de qual distância. Para isso existem as escalas, um tema a ser explorado nas aulas de Geografia

PorCarla Soares

01/11/2005

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Para localizar um endereço, usamos um guia de ruas. Para estudar a divisão política do planeta, um mapa-múndi. Cada uma dessas cartas geográficas tem a sua função e, justamente por isso, foi produzida com uma escala diferente. Afinal, a indicação de ruas, praças e outros pontos de referência é essencial para pedestres e motoristas se localizarem. Já quem busca um panorama geral do mundo tem o foco nas fronteiras entre os países. "Ao estudar um fenômeno de interesse, o autor pode destacar ou esconder fatores. De acordo com seus objetivos, ele vai determinar a escala a ser usada", explica a consultora de Geografia Sueli Furlan, de São Paulo. Devido à importância desse propósito para a compreensão de um mapa, a escala é um tema a ser explorado nas aulas de Geografia, e não somente por meio de cálculos matemáticos.

Quando a intenção é observar mais em um espaço reduzido, eliminam-se os detalhes. Em uma análise do uso do solo, por exemplo, deve-se utilizar cartas com escala média (1:50.000) ? 1 centímetro no mapa corresponde a 50 mil centímetros. Caso se queira observar a demarcação de lotes, no entanto, escolhe-se uma escala grande (1:2.000). Quanto maior a escala, maior será a precisão dos elementos transpostos.

Nem sempre um mapa construído em uma escala grande é sinônimo de informações completas. Isso fica evidente no caso da representação da Amazônia. "Como geralmente se faz o mapeamento por imagens aéreas, a copa das árvores esconde muito do relevo, dos rios e das ramificações da floresta", afirma o engenheiro cartográfico Paulo Gurgel, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). De fato, professores da região amazônica sentem falta de um mapeamento que mostre a diversidade ambiental e social da área.

Os alunos fazem mapas

Se a escassez de cartas dificulta o trabalho do conteúdo no Ensino Fundamental, a solução é produzi-las com a garotada. Foi o que fez a professora de Geografia Gislaine Munhoz, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Rivadávia Marques Junior, em São Paulo, com classes de 5ª e 6ª séries. "Minha intenção era levá-las a perceber que o mapa é resultado da visão de quem o está produzindo", justifica Gislaine.

Depois de conhecer algumas cartas antigas, a garotada realizou um estudo do meio no bairro da escola e consultou o guia de ruas para conferir o que tinha observado.Com os dados disponíveis, as classes produziram o mapa. Primeiro, sem a preocupação com noções de escala. "Um garoto refez o desenho três vezes até se dar conta de que a rua tinha que ser menor para caber na folha", conta a professora.

Na etapa seguinte, Gislaine explicou aos estudantes que os mapas são produzidos com base em um registro feito de cima para baixo. A carteira foi o exemplo. Muitos se surpreenderam, como Carolina Nhoque. "De cada ponto da sala que se olha dá para ver a carteira de uma maneira diferente."

Com os conceitos cartográficos aprendidos, todos planejaram uma única maquete da vizinhança da escola feita de sucata. Os jovens tiveram de usar muita argumentação para incluir no trabalho os pontos de referência de sua preferência escolhidos durante a aula-passeio. Terminado o trabalho, eles passaram os elementos da maquete para o papel mantendo a mesma escala.

Na hora da conclusão, a professora levou os estudantes a comparar, primeiro, a representação feita por eles com a do guia de ruas. Em seguida, essas duas visões com a realidade que haviam conhecido no estudo do meio. A turma teve que escolher, então, os edifícios que deveriam entrar na maquete, eliminando parte dos que haviam sido destacados no início da atividade. De acordo com a professora, o que mais chamou a atenção foi o tamanho da escola, que "ficou muito pequena". Gislaine aprovou o resultado da atividade. "Os alunos apreenderam o conceito de escala e verificaram que é preciso fazer escolhas para representar até mesmo o bairro em que está a escola."

Fotos de perto e de longe

No Colégio Nossa Senhora das Dores, também em São Paulo, o professor de Geografia Robson da Silva utiliza uma máquina fotográfica para introduzir um trabalho sobre escala na 5ª e na 7ª série. O professor exibe fotografias de um mesmo objeto tiradas de diferentes distâncias. "Quanto mais de perto a imagem é registrada, mais detalhes vemos, mas perdemos a noção do todo", ele explica aos adolescentes. Se o fotógrafo se afastar ? o que na escala corresponde a um denominador maior (escala pequena) ?, a imagem vai se perdendo. O zoom da máquina mostra o aumento ou a redução proporcional da imagem focada, num paralelo com a escala.

O trabalho continua com a demonstração de que existem mapas específicos para estudar cada tema. O primeiro a ser exibido é o do município. Depois são trabalhadas as cartas do estado, da região Sudeste, do Brasil e da América até chegar ao mapa-múndi. Nessa atividade, a classe percebe que, se o objeto de estudo são as ruas, é necessário usar o mapa do município. Caso seja os limites entre as cidades, deve-se estudar a carta do estado.

Começa, então, a etapa prática. Os alunos vão aos arredores da escola comparar a realidade com as informações que obtiveram na carta da cidade. No ano passado, durante as andanças, a garotada recolheu panfletos de propaganda de prédios de apartamentos à venda, que também foram analisados. Eles constataram que, nas plantas ali desenhadas, os pontos de referência, como parques e estações de metrô, estavam muito mais próximos da região dos edifícios do que o mostrado no guia. "As construtoras aproximam tudo para tentar vender o apartamento mais fácil", conta a aluna Mariana Maio, atualmente na 6ª série. "Ao final do trabalho, os estudantes percebem a intenção de quem produz o mapa e qual o uso que faz da escala", conclui Silva.

Quer saber mais?

Colégio Nossa Senhora das Dores, R. Relíquia, 691, 02517-001, São Paulo, SP, tel. (11) 3858-6099

Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Rivadávia Marques Junior, R. Dr. Paulo Queirós, 955, 03951-090, São Paulo, SP, tel. (11) 6919-3114

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