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Jornalismo

O Muro de Berlim e as barreiras atuais

Aproveite o aniversário de 50 anos da construção desse marco da Guerra Fria para apresentar à turma muralhas vigentes no mundo contemporâneo, como as que separam a Coreia do Sul e a do Norte. Filmes ajudam a iniciar as discussões

PorAdriana Nogueira

01/07/2011

Foto: Gali Tibbon/AFP

A construção do Muro de Berlim, que completa 50 anos em 2011, é um dos símbolos da Guerra Fria, conflito que começou logo depois do término da Segunda Guerra Mundial, em 1945, e se caracterizou como um jogo de tensões políticas que polarizou o mundo entre Estados Unidos e União Soviética. A data é uma oportunidade para explorar os desdobramentos de sua construção e apresentar à moçada do 8º e do 9º ano exemplos de outras barreiras físicas criadas com objetivos políticos, ideológicos e/ou econômicos (leia a sequência didática).

Dentro dessa abordagem, que considera a História um processo contínuo, feito de transformações e permanências, permite-se romper o enfoque tradicional, que prioriza o estudo da disciplina de maneira fragmentada e linear. "Esse recorte desperta a concepção de que essa segregação ainda é praticada com motivos semelhantes. A ligação entre o passado e o presente precisa ser explorada em sala, pois é ela que justifica a necessidade de estudar História", explica Juliano Sobrinho, selecionador do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10.

Além disso, os livros didáticos nem sempre contemplam conteúdos programáticos da História contemporânea de forma satisfatória. "A disciplina deve explicar o mundo em que vivemos. Abordar esse tema em sala é importante para tornar compreensíveis alguns dos principais pontos de tensão e de instabilidade do globo. Entender a história dessas fronteiras é indispensável para que o aluno possa se posicionar", diz Sérgio da Mata, professor de Teoria e Metodologia da História da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop).

O que a turma pergunta

Por que o Muro de Berlim foi construído?
A muralha foi construída para marcar de forma concreta a divisão simbólica que ocorreu no mundo depois da Segunda Guerra. Metaforicamente, o muro não dividia apenas uma cidade em duas, mas o mundo inteiro, sob o domínio de duas potências ideologicamente antagônicas: Estados Unidos (capitalista) e União Soviética (socialista). Além disso, o muro teve uma utilidade prática: evitar a migração de alemães orientais para o lado ocidental, que tinha uma economia muito mais desenvolvida.

Muitas barreiras, motivações diversas

Um bom recurso para iniciar as discussões é exibir filmes que retratem o período histórico que serve de ponto de partida para o estudo, como Adeus, Lênin!. Antes da exibição, é importante vê-lo e observar se existem cenas desapropriadas para a faixa etária dos alunos, por exemplo. Já em sala, deve-se esclarecer que a obra não é uma cópia fiel da realidade. A intenção, nessa etapa, é estimular o debate, que fica completo com o estudo de barreiras físicas similares ao Muro de Berlim.

No mundo de hoje, quatro tipos distintos de barreira coexistem (leia a página seguinte): as político-ideológicas (fruto da divisão de um Estado soberano em dois), as anti-imigração (erguidas sem que haja prejuízo à integridade territorial do vizinho), as imperialistas (de conquista territorial de um Estado forte em relação a um vizinho mais fraco) e, finalmente, as político-religiosas (para separar comunidades religiosas distintas). Das barreiras atuais, a única que pode ser considerada homóloga à de Berlim é o muro que separa a comunista Coreia do Norte e a capitalista Coreia do Sul. O país foi dividido logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, assim como a Alemanha. A parte do norte ficou sob a influência da União Soviética e da China, e a do sul, dos Estados Unidos. Além da barreira física, cujo propósito, hoje, é impedir o livre trânsito de coreanos de ambos os lados, um abismo separa as Coreias do Norte e do Sul. A primeira é pobre e vive sob uma ditadura. A segunda é uma economia desenvolvida e tem um governo democrático.

Um exemplo emblemático de barreira construída para conter o fluxo de imigrantes é o muro localizado na fronteira entre Tijuana, no México, e San Diego, nos Estados Unidos. Também há trechos no Arizona, Texas e Novo México. A ação fez parte de um pacote de medidas sancionadas pelo ex-presidente George W. Bush em 2006 para impedir a entrada de estrangeiros ilegais, como mexicanos e centro-americanos, em solo americano.

Barreira do tipo imperialista, o muro que separa Israel de territórios palestinos ocupados, como Cisjordânia e Jerusalém Oriental, foi construído sob o pretexto de frear a entrada de terroristas no país e garantir sua segurança. A Palestina, no entanto, alega que sua construção é uma anexação territorial. Começou a ser erguido em 2002 e tem 760 quilômetros de extensão. Em 2004, o Tribunal Internacional de Haia, principal órgão judiciário da Organização das Nações Unidas (ONU), declarou o muro ilegal.

Por fim, há que destacar o muro com fins políticos e religiosos que separa partes de Belfast, capital da Irlanda do Norte. O primeiro foi construído em 1960, contornando a parte oeste da cidade, de maioria católica. Outros muros foram construídos, sempre com o objetivo de separar as comunidades católicas - que reivindicam a separação da Irlanda do Norte do Reino Unido - de áreas predominantemente protestantes.

Barreiras físicas contemporâneas

Conheça os principais tipos de muro que existem na atualidade, assim como as regiões em que estão localizados

Barreiras físicas contemporâneas
Foto: Ahn Young-Joon/Associated Press

Barreira político-ideológica
Foi criada após a Segunda Guerra Mundial para separar a Coreia do Norte, sob a influência soviética, da Coreia do Sul, dominada pelos Estados Unidos.

Foto: Luis Acosta/AFP

Barreira anti-imigração
Foi construída em 2006 como uma das medidas de uma política para impedir a entrada de estrangeiros ilegais nos Estados Unidos pelo México.

Foto: Gali Tibbon/AFP

Barreira imperialista
Começou a ser erguida em 2002 para frear a entrada de terroristas em Israel. Separa esse país de territórios palestinos, como Cisjordânia e Jerusalém Oriental.

Foto: Joe Fox/Contributor/Gettyimages

Barreira político-religiosa
A primeira, criada em 1960, contornava a parte oeste de Belfast, de maioria católica. Outras foram erguidas para separar os católicos de áreas protestantes.

Reportagem sugerida por André Marino, São Paulo, SP

Quer saber mais?

CONTATOS
Juliano Sobrinho
Sérgio da Mata

BIBLIOGRAFIA
O Muro de Berlim - Um Mundo Dividido 1961-1989
, Frederick Taylor, 574 págs., Ed. Record, tel. (21) 2585-2000, 69,90 reais

FILMOGRAFIA
Adeus, Lênin!
, Wolfang Becker, 118 min., Sony Pictures Classics, tel. (11) 3584-9900

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