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Dos sonhos ao projeto de vida: como o planejamento financeiro pode ajudar os alunos no futuro?

Um dos grandes pilares da Educação Financeira, o tema exige traçar metas, tomar decisões e repensar atitudes diante do dinheiro

PorDimítria Coutinho

25/05/2022

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Ilustração de aluno com moedas em mãos, representando as diferentes moedas fiats e digitais que existem no mundo.
Crédito: Thiago Lopes (Estúdio Kiwi)/NOVA ESCOLA

Salário, publicidade, consumo, desemprego e inflação... Todos esses aspectos estão de alguma forma relacionados com o planejamento financeiro, aquele feito na prática com o objetivo de organizar o orçamento familiar ou alcançar uma meta almejada.

“O planejamento é fundamental por funcionar como uma bússola para a tomada de decisão. Por trás do consumo e dos investimentos, a principal questão que faz uma pessoa mudar de postura diante do dinheiro é o desenho de metas”, afirma Gabriela Chaves, mestre em Economia e fundadora da NoFront, plataforma que visa compartilhar conhecimentos sobre esse tema com a população negra e com as camadas mais pobres da sociedade. Segundo ela, quem se planeja constrói autonomia para estabelecer o próprio protagonismo. “O grande divisor de águas dentro da formação em Educação Financeira é quando a pessoa consegue se organizar para realizar seus sonhos”, ressalta ela.

Ao analisar o planejamento das finanças de uma família, é inevitável esbarrar no consumo. Se a conta não fecha no fim do mês, pode surgir a ideia de empreender. E se o objetivo é investir – um dos grandes interesses da juventude brasileira –, é necessário se planejar antes. Esses são apenas alguns exemplos que mostram como o planejamento se coloca de forma central na conversa sobre Educação Financeira. “Contribuir para que crianças e adolescentes saibam se planejar em relação aos seus sonhos é fundamental para o futuro do país”, acredita Gabriela.

Muito além do dinheiro

Para a professora Aline Soares Silva, do Time de Autores e Formadores da NOVA ESCOLA, os docentes podem se apropriar do tema para incentivar os alunos a organizarem diversos aspectos de suas vidas. “O planejamento em Educação Financeira ultrapassa a questão do dinheiro. Todos nós precisamos traçar metas de vida, seja de profissão, de família ou dentro da escola”, afirma ela. Mas cada etapa da escolaridade, por conta da maturidade dos estudantes, exige diferentes abordagens e cuidados. “Nos Anos Iniciais, a criança se reconhece; nos Anos Finais, ela percebe a relação dela com o mundo”, pondera Aline.

Como tratar o planejamento financeiro para impulsionar o projeto de vida em cada etapa?

Confira as dicas da professora Aline Soares Silva, do Time de Autores e Formadores da NOVA ESCOLA: 

Anos Iniciais do Ensino Fundamental

• Aborde atitudes para uma organização diária, como o passo a passo para a entrega de uma atividade;

• Incentive a turma a planejar para um futuro próximo, verbalizando sonhos que possam ser cumpridos no curto prazo, ainda neste ano;

• Mesmo um pouco antes do 6º ano, é possível induzir reflexões que levem a pensar no projeto de vida, como “quem sou eu?” e “o que quero ser quando crescer?”; 

• Estimule as crianças a entenderem quais atividades elas mais gostam de realizar – mais para a frente, essas tendências e habilidades podem se tornar desejos profissionais.

Anos Finais do Ensino Fundamental

• Inicie conversas sobre o planejamento da carreira profissional;

• Estimule investigações e pesquisas, levando o estudante a descobrir caminhos possíveis para alcançar o futuro profissional que almeja;

• Peça que liste o que será necessário: o tipo de curso para se qualificar para o mercado de trabalho ou estratégias para juntar dinheiro para pagar a faculdade, por exemplo;

• Lembre-se sempre que o planejamento financeiro e o projeto de vida abarcam outros componentes curriculares além de Matemática, como Geografia e Língua Portuguesa.

Dos personagens ao envolvimento da família nas turmas dos Anos Iniciais

Para trabalhar o planejamento financeiro com as turmas, também vale a pena respeitar as diferenças entre alunos dos Anos Iniciais e dos Anos Finais do Ensino Fundamental. Com os mais novos, o assunto pode ser abordado de forma mais lúdica, com exemplos que extrapolam a realidade.

Essa é a estratégia usada nas palestras sobre Educação Financeira para as escolas da região de Ribeirão Preto, ministradas pelo Clube de Mercado Financeiro, entidade estudantil da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP). O diretor da seção escolar do clube, Breno Teles, afirma que sua equipe costuma apresentar um personagem para as crianças, revelando quais são seus sonhos e como é possível ajudá-lo a realizá-los. “É uma conversa em linguagem simples, pontuada por muitas imagens.” O grupo também realiza uma dinâmica na qual as crianças precisam se planejar com dinheiro fictício para fazer uma compra completa em um supermercado montado na escola. “São meios que encontramos para cativar as crianças, assim elas aprendem sobre finanças pessoais”, explica Breno.

Cássia D’Aquino, especialista no tema e criadora do Programa de Educação Financeira em diversas escolas brasileiras, aconselha que os professores envolvam as famílias dos estudantes nos trabalhos realizados e estejam atentos ao perfil da turma. Para ela, é um erro falar diretamente sobre planejamento financeiro e orçamento familiar com alunos muito novos. “Os estudantes vão repetir o que ouviram, mas aquilo não vai realmente criar raízes, porque eles ainda não estão prontos para refletir de fato sobre esse tema”, argumenta. Por isso, a especialista também aconselha o uso de personagens e famílias fictícias: eles podem fazer com que o assunto seja assimilado com mais facilidade pelos estudantes dos Anos Iniciais.

Cássia sugere ainda que os professores proponham aos alunos investigar alguns temas em casa, com os familiares, com perguntas como: “O que você gostava de comprar quando era criança?”, “Você se lembra de algo que quis muito comprar? O que você fez para conseguir?” ou “Você já se arrependeu de comprar algo?”. A partir das respostas coletadas, os professores realizam atividades em sala de aula que abordam o planejamento financeiro de forma lúdica, com o objetivo de realizar sonhos no curto prazo.

Planilhas e aplicativos para organizar as contas dos alunos nos Anos Finais

Quando chegam aos Anos Finais do Ensino Fundamental, os estudantes podem continuar pensando no planejamento financeiro para alcançar metas pessoais, mas também já têm maturidade para refletir sobre o orçamento familiar. É o que faz Eva Lúcia Teodoro, professora de Matemática e Tecnologia na EE Padre Tiago Alberione, em São Paulo (SP). Todos os anos, ela trabalha o planejamento das finanças familiares com as turmas do 6º e 7º ano. Para isso, os alunos levam para a sala de aula valores, reais ou fictícios, das receitas e despesas de suas casas. A professora, então, ajuda-os a montar um planejamento para que as famílias não se endividem e consigam poupar. Além disso, utiliza o aplicativo Vida Financeira, que gamifica a relação com o dinheiro, facilitando o entendimento das questões orçamentárias.

Eva conta que os estudantes costumam comemorar quando conseguem ajudar a família a economizar. “Eu tenho quase certeza de que nenhum deles vai ficar pendurado no cartão de crédito no futuro”, comenta a professora, que aponta também outro benefício do projeto: “Quando a família é envolvida, o aluno se interessa mais em estudar”. Apesar de ser uma estratégia produtiva, a professora ressalta que trabalhar com as contas familiares requer cuidados para não invadir a privacidade das famílias. Usar valores fictícios para entender o conceito do planejamento, por exemplo, é uma boa opção. Outra dica é não permitir comparações entre as rendas mensais, para que os alunos não fiquem constrangidos.

Segundo Cássia, é muito importante não colocar nos estudantes, ainda muito jovens, a responsabilidade de modificarem o contexto socioeconômico de suas famílias. “Não tem o menor cabimento pretender que sejam as crianças a orientar os pais sobre um assunto para adultos. Os jovens não devem tomar decisões financeiras, mas sim fazer circular em casa informações que trazem da escola, sem tomar a rédea da situação”, alerta. Embora seja uma temática complexa, a professora Eva nota que os alunos costumam gostar de aprender sobre planejamento financeiro, sobretudo quando veem resultados práticos. Outro aspecto dentro da Educação Financeira que chama bastante a atenção dos jovens é o investimento, contam Gabriela e Breno. Ambos defendem que o assunto serve como ponto de partida para falar sobre planejamento financeiro, pois é necessário poupar para poder investir.

Receitas, despesas e muito mais

Alguns aplicativos podem ajudar bastante a abordar o planejamento financeiro em sala de aula nos Anos Finais do Ensino Fundamental. Com eles, os alunos conseguem visualizar mais facilmente as receitas, as despesas e os pontos de consumo excessivo. Outra dica é o professor montar uma planilha de Excel e alimentá-la junto com a turma – a Bolsa de Valores brasileira tem um modelo que pode ser adaptado de acordo com o nível de compreensão dos estudantes. Confira dicas de aplicativos abaixo:

• Vida Financeira - gratuito e disponível para Android e iOS

• Guiabolso - gratuito e disponível para Android e iOS

• Organizze - gratuito e disponível para Android e iOS

• Mobills - gratuito e disponível para Android e iOS

Consultor pedagógico: Fernando Barnabé, professor de Matemática, integrante do Time de Autores e do Time de Formadores da NOVA ESCOLA, autor e editor de materiais didáticos.

Acesse aqui a página especial do projeto Educação Financeira Transforma e conheça todos os conteúdos da parceria entre a NOVA ESCOLA e o Instituto XP.

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