Conviver também é conteúdo
É hora de encarar a realidade e assumir que a escola também precisa fazer a sua parte
29/04/2019
Compartilhe:
Jornalismo
29/04/2019
Nós, professores, fomos formados para ensinar a matéria. Essa é a ênfase de grande parte dos cursos de licenciatura, por exemplo. Muitos chegamos à docência com a mentalidade de ensinar sobre a “minha área”. Todavia, encontramos turmas que não estão preparadas para o nosso desfile de conceitos. Alunos e alunas do mundo real têm pouca habilidade para discutir, escutar os outros, e há o que chamamos de “indisciplina”. Como atuar em turmas onde impera o desrespeito, onde as interações sociais são, no melhor dos casos, precárias?
Cada vez mais a escola é o primeiro terreno onde as crianças encontram o outro. Cada vez mais, nós, professores, temos de mediar esse contato e ensinar a respeitar quem pensa diferente. Contudo, quando somos confrontados com essa realidade, é comum nos esquivarmos dizendo coisas como “já temos tanto conteúdo para ensinar!”e “não posso perder tempo com isso!” A responsabilidade acaba não sendo assumida por ninguém, e o resultado são estudantes antissociais, individualistas, pouco solidários. Não é surpresa que tenhamos tantos conflitos na escola!
Terezinha de Almeida, fundadora da Escola Ágora, em Cotia (SP), defende que a alfabetização social deve ser uma preocupação central da escola contemporânea. Cabe a nós propor situações em que, intencionalmente, as atitudes relacionadas ao convívio social sejam postas em jogo. Algumas mudanças podem ter resultados interessantes: promover trabalhos em grupo em que o produto seja realmente coletivo; organizar situações em que interpretações diferentes sobre um mesmo fenômeno possam ser debatidas; além de coisas bem simples, como cumpri- mentar, dizer “por favor” e “obrigado”. Embora muitos defendam que isso deva ser ensinado pelas famílias, a realidade é que as crianças têm chegado à escola sem essas noções. É necessário assumir que os conteúdos que envolvem atitudes são tão importantes quanto os conceitos das disciplinas. Em alguns casos, são prioritários. Precisamos transcender o conteúdo e assumir a tarefa de desenvolver aquelas atitudes que fazem de nós, seres humanos, capazes de conviver em sociedade.
Felipe Bandoni é professor de Ciências na Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Colégio Santa Cruz, em São Paulo
Foto: Tomás Arthuzzi/NOVA ESCOLA
Últimas notícias