Com a BNCC, a Geografia é incorporada desde os anos iniciais do Ensino Fundamental, uma mudança estrutural importante da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Na nova abordagem proposta pelo documento, a ênfase recai sobre o pensamento espacial e o raciocínio geográfico. Para se aproximar dos objetivos de aprendizagem, o professor também precisa se apropriar de conteúdos procedimentais.
“A Base reforça a ideia da Geografia como um componente importante para entender o mundo, a vida e o cotidiano. Desenvolver nos estudantes o raciocínio geográfico, articulando alguns princípios , significa dotá-los de mais uma forma de perceber e analisar criticamente a realidade”, afirma a professora Sônia Castellar, da Universidade de São Paulo (USP).
A BNCC traz novas dimensões para a realização dessa leitura de mundo. “Antes, o estudo do componente estava mais pautado na leitura, na interpretação da paisagem e em um aluno mapeador consciente. Agora, volta-se mais para estimular um pensamento espacial, atrelado ao raciocínio geográfico”, explica a professora Thiara Vichiato Breda, doutora em Ciências pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professora na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Pensamento espacial e raciocínio geográfico: o que são?
Os dois conceitos citados pela professora, pensamento espacial e raciocínio geográfico, perpassam as cinco unidades temáticas que estruturam o componente. Essas cinco unidades também são subdivididas em objetos de conhecimento e habilidades (objetivos de aprendizagem). Elas permeiam toda a Base e são organizadas em uma construção progressiva dos conhecimentos geográficos, trabalhando os objetivos e conteúdos a partir de diferentes linguagens.
As cinco unidades temáticas são:
1. O sujeito e seu lugar no mundo
2. Conexões e escalas
3. Mundo do trabalho
4. Formas de representação e pensamento espacial
5. Natureza, ambientes e qualidade de vida
Na prática
Ao observar fenômenos planetários, de base natural, como abalos sísmicos ou mudanças climáticas, e até mesmo de base social, como um desmoronamento ocasionado pelo desmatamento das encostas, o estudante deve ter a curiosidade de entender por que aquilo acontece. É preciso estimular as crianças e jovens a pensarem de que forma o acontecimento presente está relacionado com outros ao longo do tempo: como a questão de causalidade, e com a localização, como as condições geográficas.
“É articulando esses princípios citados na BNCC que os estudantes vão emprestar sentido e lógica aos conteúdos com os quais já estavam habituados a relacionar-se”, explica o professor Laércio Furquim, consultor no Time de Autores de NOVA ESCOLA. Nessa nova perspectiva, os conteúdos não devem ser aprendidos de forma descontextualizada, mas entendidos como parte de um processo.
O especialista ressalta que a aplicação dos princípios desse raciocínio, em sala de aula, também vão preparar o estudante para perceber e questionar tudo o que se materializa no espaço. Se perguntarmos porque algo está exatamente ali, naquelas coordenadas, será necessário pesquisar processos e identificar para que e para quem servem esses objetos construídos. O mesmo vale para locais onde não há construção. Por que não se construiu ali? Quem se beneficia desse “vazio”?
A ideia que está por trás da Base é a de que os estudantes se desenvolvem aprendendo a olhar o espaço por onde passam e vivem, captando informações diversas por meio das paisagens e dos lugares em que transitam. “Os estudos de solo, de relevo, de vegetação e de clima são importantes para entender o espaço geográfico e as formas de organização da vida. Mas é fundamental que o estudante compreenda que o espaço geográfico é constituído e configurado pelas relações entre a humanidade e a natureza, algo que a aplicação dos princípios geográficos vai facilitar”, afirma o assessor educacional.