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Base aumenta a ênfase da cidadania no ensino de Geografia

Componente, por meio de cinco unidades temáticas, é o cabedal para a construção da cidadania plena

Autor: Heitor Antônio Paladim Jr

Para BNCC, Geografia deve ser uma ciência de encontros e diálogos. Ilustração: Rita Mayumi/Nova Escola

O livro A Geografia Serve Antes de Mais Nada para Fazer a Guerra, publicado na década de 1970 pelo francês Ives Lacoste, é essencial para a Geografia. O autor abaliza a Geografia e apresenta duas delas, uma do Estado Maior, com bastante rigor científico, e outra escolar, a geografia dos professores.

Segundo o Ives, a Geografia escolar poderia ser assinalada como enfadonha, pois trabalhava apenas com práticas de memorização nas atividades de sala de aula. A revelação perpetrada pelo estudioso resultou em movimentos por parte da comunidade de geógrafos e geógrafas, que passou a repensar o currículo de geografia desde o universo infantil até o superior. Era preciso aproximar a ciência mais elaborada do ensino aprendizagem nas escolas e mudar as maneiras de ensinar geografia, para que o componente ficasse mais atraente.

Essas movimentações e quereres, que perduraram por décadas no país, desembocaram nos PCNs e na BNCC. Junte-se a isso a necessidade de romper algumas dicotomias que eram tradicionais na ciência, a mais comum era a separação entre a geografia humana e a geografia da natureza.

A BNCC de Geografia apresenta, por meio de competências e habilidades específicas, assim como por meio de cinco unidades temáticas, o cabedal para a construção da cidadania plena.

A BNCC dá ênfase a uma das principais características do Componente: ser uma ciência dos encontros e diálogos. Proponho uma breve reflexão a partir das unidades temáticas:

1. O sujeito e seu lugar no mundo
2. Conexões e escalas
3. Mundo do trabalho
4. Formas de representaçãoo e pensamento espacial
5. Natureza, ambientes e qualidade de vida

Essas unidades necessitam ser notadas enquanto temas que se intercruzam, não há hierarquia e também não há uma mais importante que outra. Portanto, há um rompimento com aspectos que vem da linearidade explicativa do mundo. Nega-se as maneiras estanques ou separadas de analisar e entender a realidade. Elas são promotoras de encontros e cada uma em sua especificidade já significa um encontro.

Qual encontro (ou encontros) elas promovem com uma Geografia que se propõe a construir cidadania?

Além de revelarem as categorias importantes das ciências humanas — espaço, tempo, sociedade, natureza, trabalho e cultura —, essas unidades despontam os conceitos e categorias importantes para a geografia: espaço, território, paisagem, região e lugar. Esses conceitos promovem, por sua vez, uma série de procedimentos que são importantes para o papel que o fazer científico possui, é imperativo que os/as estudantes aprendam a observar, a coligir dados, depois a compará-los, classificá-los, estabelecer generalizações e inferir explicações sobre eles.

Construir e possibilitar a construção de cidadania por meio do currículo escolar em um país tão injusto e contraditório como o nosso é um desafio. Há um mundo a ser gerado para e com as novas gerações e há um planeta a ser descoberto caminhando da curiosidade espontânea dos/as estudante para a curiosidade epistemológica. O Ensino e a aprendizagem devem ocorrer sem decoreba, com rigor e respeito aos modus operandi das ciências. A Geografia serve, antes de mais nada, para fazer avançar a cidadania e promover encontros. Ocasiões e vivências planejadas a partir dessas características são as possibilidades geradas pela BNCC.

Heitor Antônio Paladim Jr., doutor em Geografia pela USP, assessor curricular e analista de obras didáticas, docente da UNIP.