Sala de aula sem preconceito
19/05/2006
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Jornalismo
Em suas aulas práticas de Ciências, nos laboratórios ou nos trabalhos em grupo, você já notou se é comum os meninos se dedicarem mais à realização das experiências e as meninas ficarem sempre responsáveis pela elaboração dos relatórios? Você, professor ou professora de Ciências ou Matemática, acredita dar igual oportunidade para os alunos e para as alunas se expressar e tem as mesmas expectativas com relação à carreira que cada um vai escolher? Além disso, alguma vez já parou para pensar por que o número de cientistas mulheres é historicamente menor do que o de cientistas homens?
A discriminação nas ciências naturais e exatas é apenas uma das facetas do preconceito contra o sexo feminino. Apesar do acesso restrito aos ambientes de pesquisa, a participação das mulheres tem sido importante, embora em muitos casos elas não obtenham o merecido reconhecimento público pelo seu trabalho. Dois exemplos: Rosalin Franklin, que trabalhou com James Watson e Francis Crick, no início dos anos 1950 nas pesquisas sobre a estrutura do DNA; e a imunologista Françoise Barré-Sinoussi, que teve papel determinante na identificação do vírus da AIDS no início dos anos 1980.
Como causa ou conseqüência da menor participação das mulheres no mundo científico, o ensino de Ciências e de Matemática tem sido alvo de estudos que mostram a existência dessa discriminação desde a sala de aula. As formas de interação diferenciadas entre professoras (es) e alunas (os), embora não intencionais, podem ser um dos fatores que contribuem para o menor interesse das alunas por essas áreas do conhecimento.
Diante disso, precisamos estar atentas (os) para a construção de uma prática pedagógica que envolva meninos e meninas nas discussões sobre a importância da participação das mulheres nas atividades científicas. Vamos prestar mais atenção em nossas aulas, evitando o uso do masculino genérico, para não silenciar nem tornar as mulheres invisíveis; analisar as formas que ambos os sexos são apresentados nos livros didáticos, na televisão e nas propagandas; fugir da representação de papéis sociais estereotipados que nem sempre nos damos conta, como o médico e a enfermeira, o chefe e a secretária; e discutir a possibilidade de participação de homens e mulheres nas diversas atividades profissionais e domésticas.
É interessante pesquisar com toda a classe as contribuições históricas e os desafios enfrentados pelas mulheres para uma maior participação na ciência. Como fonte de pesquisa sobre esse tema, sugiro as indicações e os resultados de concursos como o Women in Sciences (da Unesco/L'Óreal) e o Prêmio Cláudia (Editora Abril), que anualmente premiam mulheres que se destacam em diversos campos de atuação profissional.
No entanto, é importante frisar que nós não devemos criar momentos artificiais para abordar esse assunto. O ideal é incorporar essa discussão nas disciplinas e nos conteúdos trabalhados normalmente na sala de aula. Nessa perspectiva, penso que podemos contribuir para uma sociedade mas justa, onde meninos e meninas possam encontrar na escola elementos que impulsionem a realização pessoal, independente do sexo.
Cláudia C. Moro (claudia@uncnet.br) é bióloga, professora da Universidade do Contestado (SC) e autora do livro A Questão de Gênero no Ensino de Ciências (Ed. Argos).
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