Compartilhe:

Jornalismo

Como a tecnologia pode ajudar a promover a inclusão social

PorNOVA ESCOLA

18/08/2015

Crédito: Shutterstock

Olá, educador!

Quando olho para minha trajetória, vejo que um fator foi crucial para eu largar uma carreira bacana no mercado financeiro e abrir uma startup: o impacto social que a tecnologia na Educação é capaz de promover.

É claro que, sozinha, a tecnologia não basta. O sucesso depende da qualificação do corpo docente para tirar dela o melhor proveito. Mas o acesso faz diferença. Um estudo de 2010, feito por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), analisou o impacto do uso de tecnologia em escolas públicas e privadas de Ensino Médio nos resultados do Enem. A conclusão? As escolas com melhor desempenho geral no exame foram aquelas que mais incentivam o uso da tecnologia em atividades educacionais e que oferecem recursos para se aproximar dos alunos. Confira o trabalho na íntegra aqui.

A tecnologia traz benefícios tanto para os estudantes, que podem busca por conhecimento mais facilmente, quanto para as escolas, que podem embasar suas decisões pedagógicas em dados. Segundo o estudo Excelência com Equidade, realizado entre 2012 e 2014 pela Fundação Lemann em parceria com o Itaú BBA, essa é uma das quatro práticas identificadas nas escolas públicas que, mesmo em condições adversas, conseguem garantir o aprendizado dos alunos. “As avaliações frequentes e o acompanhamento contínuo dos alunos entregam às escolas uma grande base de dados sobre o aprendizado. O uso dessas informações para planejar, desenhar e implementar ações pedagógicas é outra característica comum às escolas de sucesso”, diz o relatório, disponível neste link.

A tecnologia, nesse caso, pode ajudar a conseguir esses dados de uma maneira muito mais simples, clara e profunda, tanto por meio de avaliações de grande porte quanto no controle das tarefas do dia a dia.

A história de Manoel
Já sabemos que as ferramentas tecnológicas podem facilitar a rotina de alunos e educadores, mas o que elas significam em um nível mais amplo? Quero contar uma das histórias favoritas lá na Geekie: a do Manoel Lima, nosso aluno-símbolo. Natural de Icó, a 385 km de Fortaleza, o garoto vem de uma família humilde. Perdeu o pai quando tinha 7 anos, e a mãe batalhou para criar os quatro filhos sozinha. “Eu sabia que precisava buscar uma maneira de mudar de vida”, conta ele. E como sempre gostou de estudar, acreditava que a Educação era a opção certa. Mas esse caminho seria árduo…

No Ensino Fundamental, Manoel estudou em uma escola que dividia o espaço com uma oficina mecânica e que tinha o teto cheio de buracos, o que tornava impossível permanecer na sala de aula quando chovia. No Ensino Médio, seus colegas de classe não sabiam ler nem calcular direito. Como precisou começar a trabalhar cedo, ele também tinha dificuldades em aprender, porque chegava para as aulas, à noite, já muito cansado.

Então, em 2013, a partir de uma iniciativa do governo do Ceará, ele começou a usar o Geekie Games, nossa plataforma que traz simulados para o Enem e um plano adaptativo de estudos. Além de estudar em casa com o programa, Manoel e seus colegas arrecadaram dinheiro em rifas para instalar uma conexão de internet wi-fi (sem fio) em sua escola e permitir que outros estudantes também aproveitassem a oportunidade. A dedicação rendeu bons frutos: Manoel entrou como bolsista do ProUni no concorrido curso de ciências biomédicas da Faculdade Maurício de Nassau, em Fortaleza. Escolheu o curso porque quer ajudar as pessoas e descobrir a cura de doenças.

Ele é o primeiro de sua família – com mais de 50 jovens – a fazer faculdade. E seu sonho não para por aí: pretende aprender inglês para ir estudar na Inglaterra pelo Ciência sem Fronteiras. “Quero fazer pesquisa em genética e biologia molecular e também ser professor. Vou trabalhar aqui no nordeste mesmo, de preferência no interior, que é o lugar que mais precisa e não tem nada – a não ser um povo muito batalhador”, conta ele.

Hoje, com 19 anos, Manoel é embaixador da Geekie e do programa Internet na Escola, uma iniciativa da Fundação Lemann e do Instituto Inspirare que quer levar conectividade de banda larga para instituições públicas de todo o Brasil e, assim, facilitar o uso das tecnologias da Educação nas salas de aula. Saiba mais aqui.

Oportunidades para todos
O Brasil está repleto de jovens como Manoel. Escolas públicas e privadas com sala de professores, biblioteca, espaço de informática e acesso à internet são minoria. Segundo dados do Conselho dos Secretários Estaduais de Educação (Consed), elas representam apenas 15% das cerca de 190 mil instituições de Educação Básica existentes no país. A maior parte (44,5%) possui água corrente, sanitários e cozinha. Só isso.

Não é preciso dizer que o esforço para que um aluno vindo de um ambiente assim consiga chegar a uma boa universidade é muito maior que o dos estudantes de escolas bem estruturadas. Não é impossível, mas o caminho é muito mais longo e difícil. Também é verdade que a tecnologia não vai resolver todos os problemas, mas pode tornar esse caminho um pouco menos árduo.

Como? Ao permitir o acesso amplo e democrático ao conhecimento. Ao usarem a mesma plataforma, por exemplo, tanto os alunos de regiões remotas como os das primeiras escolas do ranking do Enem terão a disposição materiais interativos e recursos multimídia que tornam o aprendizado mais interessante.

Em São Paulo, uma parceria com a Secretaria da Educação levou a o Geekie Lab para mais de 415 mil alunos de 3.450 escolas estaduais. Em visita à EE Jardim Riviera, a mais engajada do projeto, ouvimos de estudantes que o Enem parecia um sonho impossível antes, mas que agora estão sonhando alto. Para nós, isso resume como a tecnologia ajuda a oferecer a educadores e alunos um caminho possível para a transformação de suas trajetórias.

E você, conhece outros casos como esses? Conte para nós.

Um abraço,
Claudio Sassaki

continuar lendo

Veja mais sobre

Relacionadas

Últimas notícias