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Jornalismo

O caminho da preservação

Leitura de imagens de expedições que procuram índios isolados mostra a alunos de 2ª a 4ª série um patrimônio cultural sem precedentes

PorRicardo Falzetta

31/03/2006

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ISOLADOS E PRESERVADOS Os pontos no mapa indicam referências de informações obtidas pelos sertanistas sobre a existência de índios isolados. Nos vermelhor estão as chamadas frentes de proteção etno-ambiental, postos avançados da Funai, em locais estratégicos que favorecem a proteção de grupos já identificados e de onde partem novas expedições
ISOLADOS E PRESERVADOS
Os pontos no mapa indicam referências de informações 
obtidas pelos sertanistas sobre a existência de índios 
isolados. Nos vermelhor estão as chamadas frentes 
de proteção etno-ambiental, postos avançados da Funai, 
em locais estratégicos que favorecem a proteção 
de grupos já identificados e de onde partem 
novas expedições

A balança nunca pesou para o lado deles. Em meio milênio de história, os índios que entraram em contato com a sociedade ocidental sofreram cruéis formas de extermínio físico e cultural. Não há um só exemplo de tentativa de integração que não tenha resultado em algum tipo de marginalização. As estimativas dos antropólogos sobre o número de índios no Brasil em 1500 são incertas. Mas todas ultrapassam a casa dos milhões, pertencentes, até então, a cerca de mil povos. Cinco séculos depois, elas totalizam 370 mil indivíduos, em 220 povos. Uma redução brutal.

Alheios a essa imprecisa contabilidade, sobrevivem grupos que preservam sua cultura - os chamados índios isolados. Nos últimos 19 anos, a Fundação Nacional do Índio (Funai) trabalhou para localizar e proteger esses remanescentes. Nesse período, reuniu-se um universo de 42 informações que indicariam a presença de índios isolados, a maior parte em regiões extremas da selva amazônica (veja o mapa). Dessas, 22 foram confirmadas, depois de longas expedições mata adentro. Os grupos identificados estão em áreas já demarcadas e, de modo geral, protegidos. As demais dependem de novas expedições.

O trabalho meticuloso das expedições é um caro exemplo de pesquisa histórica, que merece ser tratado em sala de aula. Figura de destaque nessa área é o sertanista Sydney Possuelo, 65 anos, discípulo dos irmãos Villas Bôas. Ele realizou sete contatos com tribos isoladas. A experiência ao longo de 35 anos de carreira fez o sertanista mudar de idéia com relação à aproximação com os índios e acreditar que o homem civilizado não leva benefício algum a eles. "A iniciativa deve ser dos índios", defende. Por isso, ele criou, em 1987, a Coordenação de Índios Isolados da Funai, que sempre adotou a política do não-contato.

Descobrir e interpretar vestígios da presença de índios na mata, além de exigir preparo físico e conhecimento de sobrevivência na selva, é um exercício antropológico. Os expedicionários desenvolvem a capacidade de ler a mata. Conseguem, assim, determinar costumes, modo de vida e organização social das tribos. Também estimam o número de habitantes e a extensão das terras. O trabalho segue. Verificam-se a situação do entorno e as ameaças potenciais e, em seguida, faz-se a proteção das áreas.

Acompanhe, nas imagens acima, parte do trabalho dessas equipes. Abaixo, você encontra uma sugestão da professora de História Maria Lima, de São Paulo, para utilizar esse material em sala de aula.

Estudar os índios isolados...

• Leva à compreensão das relações históricas entre os colonizadores e os povos indígenas.

• Permite entender a opção que as tribos fizeram ao longo da história, de se manterem afastadas do convívio com a sociedade ocidental.

Plano de aula Imagens de uma expedição

Mostre as fotos abaixo para os alunos antes que tenham acesso ao texto.

Peça a eles que escrevam suposições sobre o que vêem e instigue-os com as questões abaixo. Em seguida, leia o texto em voz alta e a descrição das fotos.

Para dar seqüência, as crianças podem aprofundar a pesquisa sobre os índios isolados ou ampliá-la para a situação geral dos índios no Brasil.

No final, proponha a produção de um texto ou de um painel coletivo.

1. Sobrevôo

Foto arquivo pessoal Sydney Possuelo
Foto arquivo pessoal 
Sydney Possuelo

QUESTÕES - São cabanas? Que idéias podemos fazer sobre a maneira de morar desse povo? Parecem grandes construções. Provavelmente, são coletivas. De que material são feitas?

De onde a foto foi tirada? Encontrar as malocas em um sobrevôo é suficiente para proteger a área?

DESCRIÇÃO - Malocas de índios isolados na fronteira Brasil-Peru, no Amazonas.

O sobrevôo não é suficiente para a marcação das áreas. É por terra, observando vestígios, que os sertanistas determinam a extensão do território e verificam potenciais ameaças.

2. Navegação

Foto: arquivo pessoal Sydney Possuelo
Foto: arquivo pessoal 
Sydney Possuelo

QUESTÕES - O sertanista segura um mapa e um GPS. Quem conhece esse equipamento? Para que serve? Com ele é fácil locomover-se na região?

DESCRIÇÃO - Depois dos sobrevôos, os sertanistas consultam mapas e traçam uma estratégia de aproximação. Em geral, navegam por rios maiores (na foto, Possuelo durante expedição) e entram por igarapés até o ponto mais próximo possível.

Daí em diante, seguem a pé, pela mata.



3. Pegada e 4. "Quebrada"

Foto: arquivo pessoal Sydney Possuelo
Foto: arquivo pessoal 
Sydney Possuelo

QUESTÕES - É fácil ler a mata? Que tipo de informação esses vestígios indicam sobre os povos isolados?

DESCRIÇÃO - Pegada às margens do rio Itaquaí (AM), mais tarde identificada como sendo dos korubo. Pela profundidade e aspecto da marca, o sertanista estima quando ela foi deixada, o peso do indivíduo e se ele estava com pressa ou não.

 

 

Foto: arquivo pessoal Sydney Possuelo
Foto: arquivo pessoal 
Sydney Possuelo

O ramo curvado, ou a "quebrada", pode indicar a passagem dos índios, que marcam, assim, um caminho ou uma direção. Segundo Possuelo, nem sempre o recurso é empregado. "Parece até que eles já nascem com uma bússola. Raramente se perdem."

 

 

 

5. Cestaria

Foto: arquivo pessoal Sydney Possuelo
Fotos arquivo pessoal 
Sydney Possuelo

QUESTÕES - Que objetos são esses? De que são feitos? Onde estão? Que tipo de uso cada utensílio pode ter? Qual a tecnologia utilizada para confeccioná-los? Os alunos devem dizer que não há tecnologia -- o termo é associado à idéia de máquina. É um bom momento para definir tecnologia como o saber acumulado da humanidade sobre como construir coisas para satisfazer necessidades de sobrevivência.

DESCRIÇÃO - Cestaria e objetos de uso cotidiano deixados em tapiri (casa improvisada) indígena, abandonada às pressas, possivelmente por grupos isolados, encontrada por expedição no norte de Mato Grosso.

6. Contato

Foto: arquivo pessoal Sydney Possuelo
Foto: arquivo pessoal 
Sydney Possuelo

QUESTÕES - O sertanista e outros integrantes da expedição interagem com um grupo. Mas a política não é pelo não-contato? O que pode ter havido?

DESCRIÇÃO - Em 1996, 20 índios korubo, desgarrados de sua tribo por conflitos internos, aproximaram-se de uma expedição que procurava localizar a etnia. O contato foi inevitável. Na foto, feita três dias depois do encontro com os homens, Possuelo é recebido pela primeira vez pelas mulheres do grupo. A tribo, com centenas de integrantes, permanece isolada.

Quer saber mais?

Os índios e a civilização - A integração das populações indígenas no Brasil moderno, Darcy Ribeiro, 560 págs., Ed. Companhia das Letras, tel. (11) 3707-3500, 65 reais.

O índio na cultura brasileira, Berta Ribeiro, 188 págs., Ed. Revan, tel. (21) 2502-7495, 28 reais

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