Os frutos da boa educação
Uma direção democrática e integrada com a sala de aula contribui para o aprendizado do aluno
01/11/2000
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Jornalismo
01/11/2000
A diretora Jaqueline Thomé Passos, do Colégio Estadual Terra Boa, em Campina Grande do Sul, no Paraná, tem muito orgulho dos índices da sua escola. No ano passado, dos 291 alunos do Ensino Fundamental, apenas oito (2,8%) foram reprovados e catorze (4%) se evadiram. Crianças dedicadas? Professores competentes? Aulas interessantes? Na verdade, um pouco de cada coisa administrada na medida certa por meio de um bom trabalho de gestão escolar, fator que a cada dia vem se mostrando mais importante no processo de aprendizagem. "Estudos no mundo todo mostram que há relação entre as decisões da direção e o desempenho do aluno", afirma o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Éfrem Maranhão. Ou seja, se você quer colocar sua escola entre as melhores do país, precisa começar a prestar atenção à forma como ela é dirigida.
Quando se fala em gestão não se trata apenas de controlar recursos, coordenar funcionários e assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula. É um novo modelo de administração totalmente integrado à esfera pedagógica. Segundo essa ótica, todas as ações administrativas até as mais burocráticas devem visar o produto final, que é a aprendizagem. "Objetivos como o aumento do interesse dos alunos e a redução dos índices de repetência têm de estar sempre presentes na cabeça dos gestores", explica Heloísa Lück, coordenadora da Rede Nacional de Referência em Gestão Educacional (Renageste).
É mais ou menos como levar a interdisciplinaridade da sala de aula para a diretoria. "O principal é ter uma visão mais global, preocupando-se com os recursos, os processos, as pessoas, o currículo, a metodologia, a disciplina, tudo de maneira interligada", afirma Heloísa. Em outras palavras: não adianta investir em infra-estrutura e não ter professores capacitados ou implantar uma proposta pedagógica avançada e não ter condições físicas para adotá-la. "Ações isoladas e desarticuladas são apenas paliativas e pouco eficazes", completa ela.
Portas abertas
No Brasil, essa tendência aparece na Lei de Diretrizes e Bases (LDB), que prevê uma progressiva autonomia (pedagógica, administrativa e financeira) para as escolas públicas. Assim, delega mais responsabilidades aos gestores ao mesmo tempo em que convoca outros parceiros para compartilhar as funções. O que antes era trabalho exclusivo da direção passa a ser compartilhado com a comunidade. "A participação dos pais torna-se um dos pontos chaves no processo administrativo e pedagógico, acompanhando o desempenho de alunos e professores, discutindo projetos, dando sugestões, fiscalizando e, em alguns casos, tomando decisões", explica Kátia Siqueira de Freitas, coordenadora do Programa Gestão Participativa, que oferece cursos de reciclagem a escolas de Salvador.
O diretor, que continua tendo o papel mais importante, fica com a missão de identificar e mobilizar os diferentes talentos para que as metas sejam cumpridas. E, principalmente, conscientizar todos da importância da contribuição individual para a qualidade do todo. De olho nessa nova realidade, cabe a ele desenvolver algumas competências, como aprender a buscar parcerias, pensar a longo prazo, trabalhar com as diferenças e mediar conflitos. Lições reunidas num curso preparado pelo Consed que deve ser oferecido no início do próximo ano pelas Secretarias Estaduais de Educação. "O objetivo é formar lideranças escolares para a direção moderna, focada no sucesso do aluno", explica a coordenadora do programa, Maria Aglaé Machado.
Jaqueline, do Colégio Terra Boa, já entendeu o recado. Essa fórmula foi a responsável pelos resultados invejáveis que, em maio deste ano, lhe renderam o Prêmio Nacional de Referência em Gestão Escolar. Para quem quiser seguir o mesmo caminho, ela dá a dica: é preciso gostar muito do trabalho e contagiar a equipe com essa paixão. "Quando trabalhamos com alegria, conseguimos motivar o grupo e superar os problemas com mais facilidade".
Uma receita de sucesso
Para a diretora Jaqueline Thomé Passos, a qualidade do ensino no Colégio Terra Boa deve-se principalmente ao envolvimento da comunidade. Hoje, a escola conta com 32 parcerias, de postos de gasolina que fornecem combustível para o transporte a prestadores de serviço como Jurandir Balbino, marceneiro e pai de uma aluna da 7a série. Abaixo, ela dá sua receita para uma gestão eficiente:
Abrir a escola para a comunidade
Estimular o talento de cada membro da equipe
Monitorar constantemente alunos e professores
Não perder de vista as metas educacionais
Estar em sintonia com as mudanças na área
Criar um ambiente de amizade e entusiasmo
Ter coragem para arriscar e buscar soluções alternativas
Saber compartilhar o poder
Quer saber mais?
Contatos
Colégio Estadual Terra Boa, BR-116, km 50, CEP 80430-000, Campina Grande do Sul, PR, tel.: (41) 685-1149
Bibliografia
Gestão da Escola Fundamental, Jean Valerien e José Augusto Dias, 176 págs., Ed. Cortez, tel.: (11) 3864-0111, 18 reais
Conselho Nacional de Secretários de Educação, site: www.consed.org.br (informações sobre o Prêmio Nacional de Referência em Gestão Escolar)
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