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Jornalismo

Caminhos que levam a um aprendizado melhor

Análise de 165 estudos confirma que professores bem preparados e turmas menores dão bons resultados

PorElisângela Fernandes

01/07/2011

Ilustração: Eduardo Nunes
68% É quanto um aluno pode aprender a mais quando tem aulas com os professores de melhor qualificação. *

O que um professor, um diretor de escola e um gestor de políticas educacionais podem fazer para melhorar a aprendizagem dos alunos? Em busca de respostas a essa pergunta, o movimento Todos pela Educação e o Instituto Ayrton Senna decidiram investigar o que de melhor a comunidade científica produziu sobre o tema na última década. Ao longo de quatro anos, um time de pesquisadores - capitaneado pelo economista Ricardo Paes de Barros - analisou 165 trabalhos desenvolvidos no Brasil e no exterior. Ao fim dessa análise, os dados foram compilados. E agora tornaram-se públicos, ao alcance de qualquer cidadão, no portal de internet Caminhos para Melhorar o Aprendizado.

O conteúdo do site foi organizado em cinco grandes áreas de interesse dos educadores: recursos da escola, plano e práticas pedagógicas, gestão da escola, gestão da rede de ensino e condições das famílias. "O objetivo é apresentar de forma ordenada o que esse vasto conjunto de estudos científicos tem a dizer sobre o desenho de políticas públicas voltadas à promoção do aprendizado", diz o economista.

Das 165 pesquisas analisadas, 25 foram produzidas no Brasil. A revisão bibliográfica só levou em consideração trabalhos com amostra de pelo menos 2 mil alunos ou 100 escolas/sistemas educacionais. Outro critério adotado pelos revisores foi avaliar apenas estudos que também consideraram elementos externos, como a situação socioeconômica dos estudantes.

Entre os principais fatores capazes de impactar positivamente a aprendizagem, destacam-se a formação, a experiência, a remuneração e os processos de seleção e certificação dos docentes, assim como o tamanho das turmas e a jornada diária dos alunos. Saiba mais nos quatro tópicos a seguir.

1 Boa formação e experiência fazem a diferença

O levantamento comprova que um bom professor exerce uma influência decisiva sobre o desempenho dos alunos. As pesquisas avaliadas demonstram, por exemplo, que um estudante pode aprender até 68% mais quando tem aulas com os melhores docentes.

Sobre a formação inicial do educador, o trabalho indica que, quanto mais ela estiver conectada à realidade da sala de aula, mais positivo é o impacto sobre o aprendizado. Segundo os pesquisadores, são três as características fundamentais de um professor bem preparado: domínio sobre o conteúdo, compreensão do processo de aprendizagem dos alunos e habilidade no gerenciamento da sua rotina profissional (boa administração do tempo, clareza de objetivos etc.).

Já em relação à experiência do docente, o estudo revela que o desempenho dos alunos pode ser até 22% maior quando ele tem pelo menos dois anos de prática no cotidiano escolar. Com base nesse dado, uma das ações sugeridas pelos pesquisadores é que os gestores passem a investir mais na capacitação em serviço dos professores recém-formados.

2 Salários mais altos motivam os docentes

Outra ideia ratificada pela revisão bibliográfica é a de que melhores salários, além de atrair professores mais qualificados para a rede de ensino, têm papel determinante na motivação e na dedicação desses profissionais. "A boa remuneração tem impacto positivo na aprendizagem ao estimular que o educador dedique mais tempo à preparação das aulas ou ao permitir que ele trabalhe em apenas uma escola, em vez de ter dois ou três empregos", afirma André Portela, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e um dos pesquisadores envolvidos no projeto.

Alguns dos 165 estudos analisados demonstram ainda que concursos e certificações bem elaborados são instrumentos eficientes para a contratação dos melhores candidatos ao magistério. Esses mesmos processos de seleção, no entanto, podem restringir demasiadamente o acesso à profissão caso sejam compostos de muitas etapas. O motivo: muitos bons candidatos simplesmente não estão dispostos a fazer os investimentos necessários (não apenas de dinheiro, mas principalmente de tempo de estudo).

3 Turmas menores favorecem a aprendizagem

Ilustração: Eduardo Nunes
44% é o ganho de aprendizagem que pode ser obtido quando o número de alunos de uma turma é reduzido em 30%. *

Ao compilar os resultados de 14 estudos que relacionam o tamanho da turma e o aprendizado dos alunos, os pesquisadores concluíram que diminuir em 30% o número de alunos em turmas muito numerosas (no Ensino Fundamental, com mais de 30 estudantes) pode significar o aumento de até 44% na aprendizagem. Os autores da revisão advertem, porém, que a magnitude desse impacto está associada ao contexto do sistema educacional, já que a redução do número de alunos por turma requer espaço físico e professores qualificados para atender à demanda criada pelo aumento no número de salas. Ou seja: antes de adotar políticas que prevejam essa iniciativa, é necessário avaliar a relação custo/benefício.

Questões em aberto
Faltam pesquisas sobre o impacto da infraestutura escolar e da formação continuada

Além de elencar fatores que influenciam positivamente a aprendizagem, a revisão bibliográfica coordenada pelo economista Ricardo Paes de Barros demonstrou que muitos outros aspectos da questão ainda precisam ser mais bem estudados. Exemplo disso foi a dificuldade encontrada pelos pesquisadores para avaliar o impacto da infraestrutura escolar sobre o desempenho dos estudantes. Alguns estudos sugerem que a proficiência dos alunos melhora quando há investimentos em infraestrutura. Mesmo assim, ainda não há dados que permitam avaliar, por exemplo, o efeito de uma boa biblioteca ou uma sala de informática na aprendizagem.

O mesmo ocorre quando se tenta mensurar a qualidade do professor. Os estudos desenvolvidos até agora indicam que alunos expostos aos melhores docentes aprendem mais. Esses mesmos trabalhos, no entanto, se fiam apenas no resultado das avaliações dos estudantes, sem apontar quais competências fazem desses profissionais bons educadores. Os pesquisadores liderados por Paes de Barros também não encontraram estudos que analisem o impacto da formação continuada e em serviço. André Portela, integrante da equipe responsável pela revisão, reconhece que são poucas as pesquisas em Educação sendo feitas no país. "O Brasil avançou, mas é preciso produzir mais."

4 Jornada mais longa e de qualidade tem impacto positivo

As pesquisas comprovam também que a ampliação do tempo de permanência dos alunos na escola é mais uma medida capaz de impactar positivamente a aprendizagem. Jornadas diárias mais longas significam mais tempo para desenvolver o currículo básico e melhores condições de oferecer suporte aos estudantes com dificuldade de aprendizado - além de representar, segundo os pesquisadores, uma oportunidade para aplicar diferentes estratégias de ensino.

Há evidências, porém, de que o impacto positivo só é obtido quando a ampliação do tempo de permanência na escola se dá pelo aumento do número de aulas, e não pela maior duração delas. Torná-las longas demais, acima de 50 minutos, pode levar a uma queda na proficiência, reduzindo o aprendizado.

O efeito da ampliação da jornada diária, de acordo com os responsáveis pela revisão bibliográfica, depende do nível de proficiência de cada aluno e do formato dado à extensão do horário. Os estudantes com maior dificuldade de aprendizado são os mais beneficiados por uma política dessa natureza. Para esses, o efeito mais significativo vem do aumento no número de aulas com duração mais curta. Já com os alunos que apresentam melhor desempenho, ocorre o contrário: eles parecem se beneficiar de um número menor de aulas um pouco mais longas.

* Fonte: Site Caminhos para melhorar o aprendizado

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