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Documentando e avaliando: pontos a pensar para o ensino de Arte

Professora comenta o que muda no planejamento das aulas, nos registros das atividades e no processo avaliativo de Arte com a BNCC

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BNCC apresenta novos desafios para o professor de Arte e leva a refletir de maneira ampla sobre as estratégias de ensino e aprendizagem. Ilustração: Rita Mayumi/Nova Escola

Na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a Arte é tratada como componente curricular que integra a área de linguagens, juntamente com Língua Portuguesa, Educação Física e Língua Inglesa. No documento, quatro das linguagens artísticas estão organizadas em Unidades Temáticas: as Artes visuais, a Dança, a Música e o Teatro, assim como Artes Integradas, uma proposta de integração entre as linguagens que "... explora as relações e articulações entre as diferentes linguagens e suas práticas, inclusive aquelas possibilitadas pelo uso das novas tecnologias de informação e comunicação".

Um primeiro desafio que se impõe ao professor é o de familiarizar-se com a estrutura da BNCC e compreender cada um dos termos propostos pelo documento no componente de Arte. Outro desafio é o de garantir que suas aulas contemplem todas as dimensões, competências, habilidades e objetos de conhecimento de forma equilibrada. Para tanto, além de conhecer e familiarizar-se com o conteúdo do documento, é preciso conhecer bem o currículo proposto pela unidade de ensino e construir um planejamento anual que estabeleça conexões entre o projeto da escola e a BNCC. Quando realizamos um planejamento amplo, tomamos muitas decisões, como o estabelecimento de metas, a escolha de materiais, a organização de ações pedagógicas e as formas de avaliação, que possibilitam um olhar crítico sobre a prática, visando à aprendizagem de todos e a revisão do planejamento quando necessário. Não podemos esquecer que o planejamento é um roteiro que nos orienta e que pode ser ajustado ao longo do processo de ensino e aprendizagem.

Documentar para favorecer a aprendizagem, documentar para avaliar
Tão importante quanto planejar é trabalhar com a prática reflexiva na sala de aula. E a documentação pedagógica é uma ferramenta potente para esse tipo de prática docente, que tem sido explorada predominantemente em escolas de Educação Infantil. Por meio desta, é possível dar visibilidade aos processos e reorientar constantemente o trabalho pedagógico. Fotografias, vídeos, gravações e anotações das falas das crianças são organizados pelos professores, revelando os processos cognitivos, estéticos e sensíveis. Além disso, os professores que documentam reveem constantemente os percursos de aprendizagem, podendo traçar novas rotas, quando necessário. Entretanto, no decorrer da escolaridade, essa ferramenta vai sendo abandonada ou substituída por avaliações formais e objetivas que não têm o mesmo potencial de revelar os percursos dos estudantes. Se a BNCC prevê que os processos de criação sejam tão relevantes quanto eventuais produtos, devemos refletir sobre as formas de dar visibilidade aos processos, buscando, portanto, formas de documentar os percursos de criação dos alunos.

A avaliação em arte
Embora não haja um capítulo específico na BNCC sobre avaliação, é importante refletir sobre essa questão durante a elaboração do currículo, tendo em mente que a avaliação deve ser vista como uma prática que apoia as aprendizagens e não como mera ferramenta de mensuração do conhecimento dos alunos. É preciso ter cuidado quando estamos trabalhando com os conceitos de competências e habilidades e os relacionamos com a avaliação dos estudantes. Para construir uma avaliação formativa em Arte, que seja contínua e processual, além da documentação pedagógica dos processos experienciados pelos alunos, podemos lançar mão de outras ferramentas, como a autoavaliação e o portfólio. Segundo Neus Sanmartí, para criar propostas de avaliação formativa é fundamental que os estudantes se apropriem dos objetivos de aprendizagem e de estratégias de pensamento e de ação.

Como vimos, a BNCC apresenta novos desafios para o professor de Arte e leva a refletir de maneira ampla sobre as estratégias de ensino e aprendizagem. A reflexão, o estudo, a troca de experiências e o trabalho em equipe são essenciais para a construção de um currículo cada vez mais consistente, coerente, humanizador e sensível.

"... explora as relações e articulações entre as diferentes linguagens e suas práticas, inclusive
aquelas possibilitadas pelo uso das novas tecnologias de informação e comunicação."
(BNCC, p. 195)


Alexandra Contocani é professora de Arte do Colégio São Domingos, sócia-fundadora e atelierista do Ateliê Móvel