Tão importante quanto contemplar todas as unidades temáticas — de maneira integrada e até simultânea — é articular esses saberes com as seis dimensões do conhecimento propostas pela Base:
1. Criação
2. Crítica
3. Fruição
4. Estesia
5. Expressão
6. Reflexão
As três últimas — Estesia, Expressão e Reflexão — são as novidades da Base, não apareciam nos PCNs. “Essa articulação entre seis dimensões visa promover uma construção de conhecimentos densa e significativa, que possibilite aos sujeitos conhecerem manifestações artísticas diversas, contextualizadas no tempo e no espaço”, afirma Priscilla Vilas Boas, mestre em Educação e coordenadora da área de Dança da Escola Muncipal de Iniciação Artística de São Paulo (EMIA). Entenda o que cada dimensão contempla.
Criação
Prevê a produção artística, individual ou coletiva, como uma maneira de expressar sentimentos, ideias, desejos e representações.
Crítica
Contempla o estudo e a pesquisa de diversas experiências e manifestações artísticas, de modo a permitir a articulação e a formação de um pensamento próprio acerca de aspectos estéticos, políticos, históricos, filosóficos, sociais, econômicos e culturais relacionados a elas.
Estesia
Articula a sensibilidade e a percepção da Arte como uma forma de conhecer a si mesmo, o outro e o mundo. Traz o corpo como protagonista da experiência com a Arte, em sua totalidade, incluindo as emoções.
Expressão
Está ligada às oportunidades de exteriorizar criações subjetivas por meio de procedimentos artísticos, individual e coletivamente. Prevê experiências com elementos constitutivos de cada linguagem, seus vocabulários específicos e suas materialidades.
Fruição
Diz respeito à oportunidade de se sensibilizar ao participar de práticas artísticas e culturais das mais diversas épocas, lugares e grupos sociais. Essas experiências podem gerar prazer e estranhamento, entre outras tantas sensações.
Reflexão
Refere-se ao processo de construir um posicionamento sobre experiências e processos criativos, artísticos e culturais. Requer o desenvolvimento de habilidades para análise e interpretação das manifestações artísticas e culturais.
Vivência da arte
A Base também é clara ao afirmar que os processos de criação precisam ser compreendidos como tão relevantes quanto os eventuais produtos finais, o que também deve impactar profundamente a forma de se planejar as aulas do Componente na escola. “O que o documento pede é que os processos de aprendizagem artística sejam capazes de ampliar as capacidades cognitivas, criativas e expressivas dos alunos, constituídos a partir de ações investigativas potencializadas por referências estéticas, filosóficas, sociais, culturais e políticas”, explica Priscilla.
As crianças e jovens devem ser estimulados a não apenas reproduzir as formas artísticas já existentes, mas também a criar as suas próprias obras a partir de sentimentos, ideias e percepções sobre o mundo em que vivem. Outro ponto importante é que as práticas artísticas não sejam limitadas à capacidade de dominar determinados códigos e técnicas. A vivência artística deve ser entendida como uma prática social. “É fundamental que, ao longo dessa vivência, os estudantes possam refletir sobre o modo como afetam e são afetados pelos acontecimentos do mundo”, complementa Priscilla Vilas Boas.
Articulação com as competências gerais
Da forma como está colocado na BNCC, o Componente configura-se como um espaço privilegiado para o desenvolvimento de competências gerais que o documento descreve como essenciais para os estudantes do Ensino Fundamental, relacionadas à empatia, à criatividade, à criticidade diante da complexidade do mundo etc. Isso porque as propostas de aprendizagem artística possibilitam aos estudantes explorarem novas formas de olhar para si, para o outro e para o mundo, exercitando suas capacidades sensíveis. Dessa forma, eles podem ampliar suas oportunidades de comunicação e trabalhar o respeito e o acolhimento às diferenças, importantes para o exercício da cidadania plena.
O impacto da tecnologia
No Componente, a tecnologia pode contribuir para a ampliação do acesso às produções artísticas, de diferentes tempos e contextos, na medida em que possibilita que elas sejam apreciadas de qualquer lugar do mundo. Também oferece recursos para o desenvolvimento de processos de pesquisa, o que a Base estimula e reforça no processo de ensino e aprendizagem para o Componente, além de trazer novos meios de compartilhamento do que foi criado. “Como exemplos de produções artísticas desenvolvidas na interface entre Arte e Tecnologia, temos a videoarte, a videodança, o cinema, entre outros”, afirma Priscilla. A cultura digital e suas mídias – fotos, vídeos, músicas e imagens que os estudantes consomem e também produzem na web – ajudam, ainda, a construir o repertório imagético e sensível deles, ampliando a compreensão sobre usos e sentidos dessas produções na contemporaneidade.
Fontes:
Priscilla Vilas Boas, Mestre em Educação e coordenadora da área de Dança da Escola Muncipal de Iniciação Artística de São Paulo (Emia).
Fabio Nogueira, professor e coordenador de artes do Colégio Miguel de Cervantes, em São Paulo.