A chegada à escola
Superação de dificuldades e medos, o comportamento esperado do iniciante e os pontos de apoio
PorNOVA ESCOLA
23/09/2016
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Jornalismo
PorNOVA ESCOLA
23/09/2016
49% é o percentual de professores que acreditam que sua formação inicial não os preparou para enfrentar a sala de aula.
53% é o percentual de educadores que conseguem o primeiro emprego antes de concluir a formação inicial, muitas vezes como consequência do estágio.
Associações comuns
Os professores relacionam algumas ideias mais fortemente à rede pública de ensino do que à particular. Conheça três delas e o percentual dos que acreditam serem verdadeiras
A agenda da estreia
Saiba o que é recomendável fazer antes mesmo do primeiro dia de aula. Quanto mais fases cumprir, mais embasado será o começo da sua prática
A melhor forma de conquistar a turma
O segredo para ganhar a confiança da turma é ser autêntico, sem forçar espontaneidade - se não for uma característica genuína. Especialistas afirmam que, quanto mais velhos os estudantes, mais importantes as informações sobre a formação de quem ensina. Na falta de um vasto currículo para apresentar, a sugestão é que o iniciante direcione a conversa para sua paixão pela profissão e sua vontade de aprender mais com cada nova turma.
1,8% é o percentual de pais da rede pública da cidade de São Paulo que afirmam não conversar com os filhos sobre o dia a dia deles na escola.
Dificuldades recorrentes
Quando perguntados sobre seus maiores problemas, desafios ou dificuldades, os docentes não variam tanto as respostas. Confira as mais citadas em três fontes
Fonte 1
Fonte 2
Fonte 3
A teoria não deve ser desprezada
É fato que falta experiência ao iniciante e isso gera medo. Mas os conhecimentos adquiridos na formação inicial ainda estão frescos na cabeça - e isso é uma vantagem. Teoria e prática são igualmente importantes e devem conviver durante toda a carreira. Afinal, a primeira serve para orientar a segunda. "Quando é relativa aos conteúdos, ela deve nortear o planejamento e os objetivos das aulas. Quando é pedagógica, guia o modo de ensinar e o comportamento do professor em sala", esclarece Luís Carlos de Menezes, professor da Universidade de São Paulo (USP) e colunista da revista NOVA ESCOLA.
O ideal é se abrir
Q uando compartilhamos medos e inseguranças com os colegas, todos saem ganhando. O receio de se expor demais e demonstrar fraquezas - e com isso prejudicar a carreira - levam o iniciante a se isolar. Mais vale se abrir. Se for com os colegas, é essencial ter sensibilidade para buscar os mais confiáveis e aqueles com os quais há maior afinidade. Uma opção garantida é conversar com o coordenador pedagógico, que tem como principais funções orientar o trabalho dos professores e ajudar a resolver as questões que influenciam o desempenho dos alunos em sala de aula.
Qual estrutura esperar
O professor não encontra, com frequência, uma situação ideal, o que inclui um prédio em ótimas condições e variedade de recursos para trabalhar. Menos de um quarto das escolas que possuem turmas nos anos finais do Ensino Fundamental possuem, por exemplo, laboratório de Ciências. Veja mais dados:
Em cada etapa, um tipo de postura
Conforme o ciclo de ensino e a idade dos alunos, há uma conduta mais indicada para capturar a atenção da classe e manter a disciplina
4 deslizes comuns
Pela vontade intensa de mostrar logo a que veio ou por medo e insegurança de fazer feio, o novato acaba dando escorregadas que podem atrapalhar seu desempenho. Confira as mais frequentes e como evitá-las
Distribuição dos professores por faixa etária
Alternativa esperta
Enquanto não estabelecem relações produtivas com os pares, é útil os novatos voltarem os olhos para além dos muros da escola e montarem uma espécie de grupo de referência paralelo com ex-colegas de curso que estão em outras instituições. Com eles se abre um rico espaço para o intercâmbio.
O que faz a diferença
É claro que uma escola bem equipada oferece um cenário mais propício para o professor - iniciante ou não - desempenhar bem o seu papel. Mas a falta de recursos, como os relacionados à informática, não pode ser motivo para desistir das aulas dinâmicas. Veja o que levar em conta quando a infraestrutura...
3 iniciativas indispensáveis
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Uma relação delicada
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Iniciante
Experiente
"Uma atividade eficiente para o primeiro dia de aula é dividir os alunos em duplas, pedir que conversem sobre as coisas de que gostam (como o tipo de música preferido) e propor que um apresente o outro para os demais. Com turmas da Educação Infantil ou dos anos iniciais do Ensino Fundamental é mais interessante utilizar desenhos, colagens ou jogos que ajudem as crianças a se conhecerem ao mesmo tempo que permitem ao docente compreender a dinâmica da classe."
Heloisa Ramos, formadora de professores e colunista da revista NOVA ESCOLA.
"A primeira aula pode servir como um ótimo exercício de observação do grupo de estudantes. Uma atividade produtiva é propor que eles pensem sobre o nome da disciplina e relatem suas ideias relacionadas a ela. Com isso, todos acabam contando, espontaneamente, algumas de suas experiências. É interessante também provocar as crianças ou os adolescentes pedindo que falem o que consideram mais interessante entre os conteúdos que já aprenderam e o que ainda gostariam de saber. Com base nessa atividade simples, é possível colher muitas informações, como quanto os estudantes já avançaram, o tipo de contato que mantêm uns com os outros e a capacidade de cada um em responder prontamente a uma questão. Mais tarde, com base no que viu e ouviu, o professor pode fazer adaptações em seu planejamento inicial, buscando atender às necessidades e aos desejos de cada turma em particular, considerando o que já sabem."
Eliane Bambini Gorgueira Bruno, docente da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) e formadora de gestores e coordenadores pedagógicos na rede municipal de São Paulo.
"Se os estudantes fizerem perguntas que o professor não sabe responder, ele não deve dizer qualquer coisa, muito menos enrolar a turma. O melhor é avisar que aquele não era exatamente o tema da aula e que será necessário pesquisar mais a fundo depois. Porém, o retorno precisa ser levado logo na próxima aula. Outra saída é propor um trabalho colaborativo de pesquisa sobre a dúvida que surgiu. A proposta é fazer com toda a classe uma construção coletiva de conhecimento sobre o assunto, valorizando a troca e a parceria. É importante o educador ter consciência de que, no mundo da informação em que vivemos hoje, ele não é mais o único detentor do saber. A garotada sempre pode contribuir bastante."
Karla Veloso Pinto, assessora pedagógica da Martins Pereira Consultoria Pedagógica, em Belo Horizonte, e ganhadora do Prêmio Educador Nota 10, da FVC.
"É normal ter mais afinidade com alguns colegas e estudantes do que com outros, assim como não ter simpatia por alguém em específico. Pensando em minha trajetória profissional, lembro-me de algumas pessoas que, de início, achei que não tivessem ido com a minha cara - e a recíproca era verdadeira. No entanto, depois de um certo tempo de convívio, passamos a ter um relacionamento profissional muito produtivo. Por isso costumo dizer que dar tempo ao tempo é uma boa tática."
Laurinda de Almeida, professora e vice-coordenadora do Programa de Estudos Pós-graduados em Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
"É preciso levar a falta de experiência em conta, sem jamais escondê-la dos colegas ou ignorá-la completamente. Isso implica buscar apoio na escola e, principalmente, disciplinar-se para fazer um acompanhamento crítico e permanente do trabalho que está sendo desenvolvido e uma apuração periódica dos resultados alcançados em sala de aula. Em paralelo a essa autoapreciação, o professor inexperiente precisa ter muita disposição para rever seu planejamento e, se necessário, mudar tudo o que não se revelar eficaz nas primeiras etapas da carreira. Essa é uma maneira eficiente e construtiva para aprimorar cada vez mais a prática pedagógica."
Luís Carlos de Menezes, professor da USP e colunista da revista NOVA ESCOLA.
Como um iniciante deve ser comportar em sala para ser considerado um bom professor?
Independentemente de sua experiência, um bom educador trabalha de acordo com os objetivos do projeto político-pedagógico (PPP) da escola e se sente comprometido com a qualidade do seu trabalho. Isso significa que sempre se dedica a fazer o melhor, buscando o maior número de informações sobre cada conteúdo que vai ensinar e sobre boas práticas em sala de aula. Além disso, nunca deixa de refletir sobre os meios de tornar os conhecimentos mais acessíveis para os alunos, considerando as especificidades de cada turma. Um iniciante talvez tenha de se dedicar mais. No mundo de hoje, porém, em que as mudanças são tão rápidas, nem mesmo os que têm anos de experiência podem se dar ao luxo de não estudar e aprimorar seus instrumentos de trabalho.
Como lidar com o medo de enfrentar a sala de aula pela primeira vez?
Conheça as estratégias recomendadas por especialistas
Como o professor substituto deve se comportar em uma primeira aula?
"É preciso procurar saber antes com a coordenação pedagógica o que o titular vinha trabalhando, olhar os cadernos e verificar o que já estava planejado para as aulas seguintes", diz Heloisa Ramos, formadora de professores e colunista da revista NOVA ESCOLA. O substituto deve dar continuidade ao que estava previsto. Mas nada impede que ele faça isso seguindo seu estilo. Ao pisar em sala, uma boa ideia é assumir uma postura de escuta sensível, depois de incitar os alunos a contar o que sabem da disciplina e o que pensam em relação a ela. Se a turma insistir em comparar as práticas e os métodos novos aos utilizados até então, é necessário desencorajar críticas ao antecessor e ser firme para se colocar, deixando claro que aquela é apenas uma das muitas formas de ensinar.
Cada escola tem um padrão de conduta formalizado?
Nem todas têm um documento específico sobre isso. Quando há, a equipe gestora, certamente, tratará de informar sobre ele aos recém-chegados. Mas a ausência de um código formal não quer dizer que inexistam regras e comportamentos desejáveis. É preciso ir atrás das informações. Boas pistas podem ser obtidas no PPP e com a observação do comportamento da equipe pedagógica, dos demais professores e dos funcionários. Em situações específicas, vale procurar os gestores e apresentar a dúvida diretamente.
Estratégia quebra-gelo
"Todo primeiro dia de aula, costumo levar fotos minhas e do meu cachorro chamado Max Weber (pensador alemão [1864-1920], referência teórica na área de Sociologia) para apresentá-lo às crianças. Enquanto mostro as imagens para elas, conto a história do nome do cão, falo dos inconvenientes de seu tamanho exagerado - já que é da raça fila brasileiro - e de outras curiosidades. É o suficiente para quebrar o gelo com a criançada e gerar uma aproximação espontânea com a turma. Essa ideia surgiu há muitos anos, depois de ter tentado promover várias outras atividades e dinâmicas que não produziam os resultados que realmente desejava. Queria algo que tivesse mais a ver comigo, que desse conta de humanizar a figura da professora, mas que, ao mesmo tempo, não promovesse uma exposição muito grande da minha vida pessoal e da minha intimidade. Então, tive uma ideia e resolvi experimentar levar a foto do animal de estimação da minha família na época. Era da raça dálmata e se chamava Beatriz. Eu era responsável por uma classe muito barulhenta e pouco disposta a interagir. Foi incrível! Assim que tirei as fotografias da bolsa e contei uma das aventuras da Bia, a garotada se interessou em me ouvir e quis conversar sobre o assunto. Muitos tinham histórias sobre a convivência com bichos em casa e a troca foi intensa."
Silvia Ulisses de Jesus, professora do Ensino Fundamental na rede municipal de Belo Horizonte, coordenadora de estágio do curso Normal Superior e ganhadora do prêmio Educador Nota 10, da FVC.
Buscar parcerias
"A aproximação com os pares é fundamental no início da carreira. Por isso, o importante é evitar uma postura desconfiada na chegada e nunca se deixar levar só pela primeira impressão. Às vezes, pensamos que um colega não foi simpático ou não quis partilhar suas ideias e nos fechamos. Em vez disso, vale tentar conhecê-lo melhor, buscando o diálogo e pedindo orientação. Do mesmo modo, é benéfico se dispor a contar suas boas experiências. Quando comecei, há 21 anos, aproveitei muito o contato direto que tive a chance de estabelecer com uma colega que já estava prestes a se aposentar e atuava na mesma série que eu. Chegamos a trocar materiais pedagógicos e atividades. Foi bom para nós duas. Recém- chegada à escola, eu necessitava de apoio e ela me deu a segurança de que precisava com relação aos meus alunos e aos demais docentes. Aprendi bastante no nosso convívio. Em contrapartida, ela contou que consegui deixá-la mais animada. Suas aulas tinham ficado mais dinâmicas e os alunos, mais envolvidos."
Marli Eslompo, professora na rede pública de Ponta Grossa, a 115 quilômetros de Curitiba.
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