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Jornalismo

Literatura na América Latina

Pornovaescola

02/09/2017

Objetivo(s) 

- Compreender o que foi a literatura engajada na América Latina.
- Acompanhar parte da trajetória de alguns dos principais autores latino-americanos.

Conteúdo(s) 

- Literatura engajada.
- Regimes ditatoriais e revoluções na América Latina.

Tempo estimado 

Duas aulas.

Material necessário 

Cópias da reportagem "Profetas e loucos" (Veja, edição 2224, 06 de julho de 2011) para cada um dos alunos; sala de informática com acesso à internet para que os alunos possam fazer uma pesquisa.

Este plano de aula está ligado à seguinte reportagem de VEJA:

Desenvolvimento 

1ª etapa 

Introdução 
Na reportagem "Profetas e Loucos", sobre o lançamento do livro Os Redentores, do ensaísta e historiador mexicano Enrique Krauze, a revista VEJA caracteriza os personagens focalizados - escritores, políticos, jornalistas e guerrilheiros latino-americanos – como "redentores" que, segundo Krauze, são "aqueles que confiam na revolução social violenta (...) e reivindicam para si a missão de libertar o povo dos pecados".
O texto oferece uma boa aproximação entre a atuação desses escritores e os conflitos sociais e políticos na América Latina. Você pode utilizar a reportagem como base para examinar com seus alunos a atuação de uma categoria estratégica de "autores redentores": a dos ensaístas, poetas e romancistas responsáveis pelo florescimento do que veio a ser consagrado como literatura engajada.

Explique aos alunos que o objetivo desta aula é analisar algumas noções recorrentes no pensamento político da América Latina, como, por exemplo, a ideia de se criar uma unidade entre os povos hispânicos. Proponha que todos façam a leitura da reportagem de Veja e destaque a frase "na mente de quase todos os redentores que o mexicano [o historiador Enrique Krauze] elegeu para análise, o Brasil guarda uma posição marginal".

Em uma aula expositiva, conte aos alunos que Simón Bolívar (1783-1830) foi um dos primeiros revolucionários a manifestar essa ideia de união dos povos latino-americanos. O Libertador, como era chamado, pretendia unir em uma federação de repúblicas os territórios libertados da opressão espanhola. Para ele, só assim a antiga América espanhola poderia fazer frente às potências europeias e aos Estados Unidos.

Com essas informações, oriente os alunos em uma breve pesquisa na internet sobre entidades políticas cuja formação concretizou, em parte, o sonho de Bolívar - como a República da Grã-Colômbia (1819-1831) e a Federação da América Central (1823-1839).
Em seguida, questione a turma: havia espaço para o Brasil nessa reorganização política? Levante algumas questões para orientar a resposta, como por exemplo: qual era a situação política do Brasil nesse momento? O país vivia algum tipo de conflito com seus vizinhos?

Disponha de mais alguns minutos para que os alunos busquem indícios das respostas na internet. Sob sua orientação, os estudantes vão verificar que, desde o primeiro semestre de 1825, o Brasil tentava reprimir a luta dos uruguaios pela independência, e no final deste mesmo ano declarou guerra às Províncias Unidas do Rio da Prata (atual território argentino), que apoiava o Uruguai. Explique que, em tais condições, na concepção de Bolívar, o Brasil, que era herdeiro da América portuguesa, representava uma força opressora e não de união com outros povos - que foram colonizados pela Espanha.

Acrescente que essa concepção não foi exclusiva de Bolívar. Como destaca a reportagem de Veja, o peruano José Carlos Mariátegui "só conseguia visualizar uma América de língua espanhola". Antes dele, o cubano José Martí escreveu repetidas vezes sobre seu projeto de aproximação entre uma futura república cubana independente e o que ele chamava de "Nuestra América" (nossa América), ou seja, a antiga América espanhola.

Essa é uma boa oportunidade para você contar aos alunos um pouco mais sobre a vida de Martí. Ele lutou contra o domínio espanhol em Cuba desde 1869, quando tinha apenas 16 anos, até 1895, quando morreu em combate, abatido por soldados espanhóis. Martí abraçou de corpo e alma o projeto revolucionário. Seu legado antiamericanismo manifestou-se em textos pró-independência, republicanos e em alguns poemas inesquecíveis, como o que foi musicado na canção "Guantanamera". Finalize a aula mostrando a versão da música interpretada pela cantora cubana Célia Cruz: http://abr.io/1CuX.

2ª etapa 

Retome a reportagem de Veja e as discussões da aula anterior com os alunos. A menção ao romancista "redentor" pode servir de ponte para você introduzir o tema da literatura engajada. Na sala de informática, divida a turma em duplas ou em pequenos grupos e solicite a reunião de dados sobre os três autores citados no texto - o romancista colombiano Gabriel García Márquez, o poeta e ensaísta mexicano Octavio Paz e o romancista peruano Mario Vargas Llosa -, agraciados respectivamente com Prêmios Nobel de Literatura de 1982, 2000 e 2010.

Pergunte se os jovens conhecem alguma obra desses autores. Explique que García Marquez, por exemplo, apoiou a revolução cubana liderada por Fidel Castro, e que Vargas Llosa rompeu com o regime castrista em 1971.

Separe pequenos trechos de obras importantes desses autores, que ilustrem a presença do discurso político e engajado, leia-os com a turma e, em seguida, instigue o debate: Será que foi pelo apoio a Fidel que García Márquez produziu obras-primas como "Cem anos de solidão" (1967) ou "O amor nos tempo do cólera" (1985)? E a ruptura de Vargas Llosa com o castrismo em 1971 faz de "A festa do bode" (2000) um romance mais bem elaborado do que "Conversa na catedral" (1969)?

Depois de ouvir a opinião dos alunos, releia os trechos dos dois livros de Vargas Llosa e mostre como eles descrevem, de maneiras diferentes, o impacto de ditaduras de direita sobre a sociedade - na obra de 1969, que fala sobre o regime de Manuel Odría no Peru e, no romance de 2000, sobre conflitos políticos na República Dominicana. Faça com que os alunos percebam que a produção de literatura engajada na América Latina não decorre simplesmente da posição política do autor, mas principalmente de sua capacidade de retratar com vigor e emoção a realidade dessa parte do continente, marcada pela desigualdade, pela miséria e pela violência.

Pergunte se a moçada conhece algum autor que tenha passado a escrever livros mais elaborados depois de renunciar à militância política. Depois da discussão, esclareça que, segundo muitos analistas, isso foi o que aconteceu com o brasileiro Jorge Amado. Ele foi um escritor que permaneceu fiel às ideias de esquerda, mas depois de se afastar do Partido Comunista, passou a escrever romances mais livres, como "Gabriela, cravo e canela" (1958) e "Os pastores da noite" (1964). Lance uma provocação: essas obras literariamente superiores podem ser atribuídas a uma ruptura política, ou expressam simplesmente o amadurecimento do autor? Peça que, em casa, os alunos escrevam um texto dissertativo a respeito da literatura engajada, que deve ser entregue na próxima aula.

Avaliação 

Com base na participação dos alunos durante as atividades de pesquisa, debate e produção de texto, avalie se todos compreenderam o que significa o termo "literatura engajada", se aprenderam a identificar quais são seus principais autores e se são capazes de fazer relações entre este tipo de literatura e alguns conflitos políticos de países latino-americanos. Espera-se que eles percebam que, mais do que o posicionamento político dos autores, é a capacidade de retratar as contradições sociais a característica que mais contribui para uma literatura engajada de qualidade. Mas, é evidente que em alguns casos, a ruptura com rígidos sistemas ideológicos resulta em mais liberdade na criação artística e, portanto, em obras literárias mais "livres" e bem elaboradas.

Créditos: Carlos Eduardo Matos Formação: Jornalista e editor de livros didáticos e paradidáticos.

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