
Poesia concreta Desgrafite, de Augusto de Campos
Olá,
Quem escreve é a Ana Ligia Scachetti, editora executiva dos conteúdos digitais de NOVA ESCOLA e GESTÃO ESCOLAR. Pedi licença à Anna Rachel para falar sobre o poeta Augusto de Campos, inspirada pela exposição Rever (não à toa, o título é um palíndromo. Ou seja, palavras ou frases que podem ser lidas da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda), que pode ser visitada gratuitamente no Sesc Pompeia, em São Paulo, até dia 31 de julho. Se você não está na capital paulista, não se preocupe, vamos indicar como pode conhecer a obra dele na internet.
É impressionante perceber como este poeta continua atual e vanguardista aos 85 anos. Caetano Veloso escreveu que ele é “o maior poeta vivo do Brasil”. Há mais de 60 anos, Campos lançou o movimento da poesia concreta (e veja uma linha do tempo) com o irmão Haroldo de Campos (1929-2003) e o amigo Décio Pignatari (1927-2012). Nas mãos deles, o texto se mistura com as artes visuais e as palavras são divididas, retorcidas e viradas do avesso em vídeos, esculturas, apresentações musicais, CDs, livros, pôsteres, objetos e muito mais.
No catálogo da exposição, Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc São Paulo, comenta que as composições “verbivocovisuais” de Campos “lidam de modo multissensorial com as palavras, explorando os cruzamentos entre as dimensões verbal, vocal e visual”. Eles “convocam nossos sentidos para experiências sinestésicas de leitura”. A produção do autor é intensa (saiba mais sobre ele na Enciclopédia Itaú Cultural e veja uma lista de livros e obras incluídos nesta outra exposição) e engloba, também, traduções e transcriações, inspiradas na teoria do seu irmão e do poeta norte-americano Ezra Pound (1885-1972).
No começo (veja Lygia Fingers), suportes como o papel carbono e a máquina de escrever foram objeto de experimentação. Hoje, as produções de antes passeiam pelas novas tecnologias. E criações recentes esnobam a contemporaneidade. Alguns textos, por exemplo, são mostrados com uma estética antiga, a tela parece a dos primeiros videogames e as fontes (tipos de letras) já não são usuais. Difícil saber de que ano é a produção e isso não importa. São todas atuais. Uma mesma obra pode se concretizar de várias maneiras. Ora aparece em um clipe, ora é cantada no palco e, em outro momento ainda, está impressa em um cartaz. Assista, por exemplo, Cidadecitycité aqui e aqui. Muito do que está no Sesc também pode ser visto neste compilado feito pelo UOL.
Augusto de Campos fala, também no catálogo da mostra, sobre o impacto da tecnologia na sua produção. “Entendo que, nas últimas décadas, a revolução tecnológica, que assomou vertiginosamente os meios informativos e culturais, veio ratificar o projeto a que dediquei meu trabalho, com meus companheiros da poesia concreta, há mais de meio século. Mais que poesia concreta, a obra, em seu conjunto, se pretende poesia experimental, poesia de invenção, que se explicita no diálogo permanente que se procura estabelecer entre o verbal e o não verbal”, escreve.
Adorei rever toda a obra de Augusto de Campos. Agora, quero me embrenhar pela produção de Arnaldo Antunes, Ferreira Gullar, Tom Zé e outros contemporâneos nossos que navegam nessa mesma linha. E você? Tem boas sugestões para ampliar a minha leitura? Coloca aí nos comentários.
Um abraço e até a próxima,
Ana Ligia Scachetti