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Jornalismo

O post de hoje é sobre um gênero muitas vezes deixado de lado por quem gosta de literatura. Me lembro da primeira vez que peguei uma história em quadrinhos (HQ) dos X-Men nas mãos. Eu tinha cerca de 10 anos e meus primos, que amavam os tais gibis, me perguntaram se eu gostaria de ler. Passei os olhos em algumas páginas e deixei o material de lado rapidamente. O conteúdo não me interessou, já que eu sempre assistia aos desenhos animados sobre os mutantes na TV. Mas, pensando agora, pode ser que eu tenha tido dificuldade em entender esse gênero, que mistura textos e imagens estáticas.

Desde então, não me lembro de ter realmente parado para ler uma narrativa escrita quadro a quadro com desenhos e balões. Nesta semana, eu relembrei os temas sobre os quais já tratamos aqui no blog e me dei conta de que estava em débitos com as HQs…

Fui pesquisar e descobri o Observatório de História em Quadrinhos, da Universidade de São Paulo (USP). Lá, trabalha o professor Waldomiro Vergueiro com quem conversei sobre o assunto. Descobri que a história em quadrinhos moderna surgiu nos jornais nova-iorquinos do final do século 19. As tirinhas do The Yellow Kid (O Menino Amarelo), criadas pelo cartunista Richard Outcault (1863-1928), fizeram tanto sucesso que os jornais disputavam para tê-las em suas edições. “Já no Brasil, ficaram populares as revistas com HQs que contavam histórias infantis e de super-heróis. Principalmente a revista Gibi, de 1939, que inclusive virou sinônimo de história em quadrinhos”, conta Waldomiro.

Apesar do início com publicações periódicas impressas para públicos específicos, as HQs não se limitam a atender às crianças. Há quadrinhos para adultos, de muita qualidade, em exposição nas prateleiras das melhores livrarias do mundo. André Conti, editor do selo Quadrinhos na Cia, conta que já na década de 1970 havia a chamada graphic novel – HQs publicadas como livros-álbuns. Umas das primeiras foi Contrato com Deus (esgotada no Brasil), cujo autor, Will Eisner, dá nome ao principal prêmio da categoria, dos Estados Unidos.

Por aqui, esse movimento ganhou força no final da década de 1990 e início dos anos 2000. “Apesar da vasta produção, ainda temos poucas editoras que trabalham com quadrinhos. Por isso, há vários jovens autores trabalhando com financiamento coletivo, via crowdfunding. O fato é que há sempre muita novidade boa nessa área”, diz André.

Como eu estou ainda me familiarizando com o gênero, pedi aos dois especialistas que me ajudassem a pensar em como avaliar o que seria um bom quadrinho. Segundo Waldomiro, é necessário que o autor saiba utilizar bem os recursos do gênero como os balões, as onomatopeias, os requadros (moldura de cada quadro) e as metáforas visuais. A esses aspectos, André acrescentou o ritmo narrativo, a continuidade, a harmonia entre o que está sendo contado e o que se vê e, é claro, a reação do leitor.

A seguir, eu separei quatro graphic novels para quem deseja entrar nesse universo:

maus

Maus
(Art Spiegelman, 296 págs., Quadrinhos na Cia., tel.: 11/ 3707-3500, 50 reais)
O título significa rato, em alemão. Isso porque a narrativa sobre o holocausto traz judeus como ratos, nazistas como gatos, poloneses não-judeus como porcos e americanos como cachorros. Esse livro é aclamado como um clássico dos quadrinhos e conta a história de Vladek Spiegelman, judeu polonês que sobreviveu ao campo de concentração de Auschwitz, narrada por ele próprio ao filho Art.

Persepolis_28nov2007

Persépolis
(Marjane Satrapi, 352 págs., Quadrinhos na Cia., tel.: 11/ 3707-3500, 48 reais)
Possivelmente o nome é mais famoso pela animação indicada ao Oscar de 2008. Mas a história original foi produzida em quadrinhos e traz a autobiografia de Marjane Satrapi, nascida em uma família moderna e politizada, mas que cresceu durante o início da revolução que levou o Irã ao regime xiita.

Diomedes

Diomedes – A trilogia do acidente
(Lourenço Mutarelli, 432 págs., Quadrinhos na Cia., tel.: 11/ 3707-3500, 63 reais)
Lourenço é um dos mais renomados quadrinistas do Brasil. Nessa obra, ele embarca numa história policial, porém sem trair os traços característicos com narrativas pessoais sobre personagens atormentados pela solidão e pela morte. Aqui, o detetive Diomedes, obeso e sedentário, sem um só caso solucionado para contar história, tem sua vida mudada ao sair em busca do desaparecido Mágico Enigma.

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Daytripper
(Fábio Moon e Gabriel Bá, 256 págs., Panini Livros, tel.: 11/ 4133-0177, 55 reais)
A obra criado pelos irmãos Fábio e Gabriel levou o Prêmio Eisner, já citado no post, de melhor série limitada em 2011. Publicada inicialmente em revistas, conta a história de Brás de Oliva Domingos, filho de um escritor brasileiro mundialmente famoso, que passa o dia escrevendo obituários enquanto tenta descobrir quando sua vida finalmente começará.

Espero que tenham gostado do post de hoje! E se vocês já leram esses ou outros quadrinhos bacanas, não se esqueçam de compartilhar suas experiências nos comentários!

Até o próximo post!
Anna Rachel

 

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