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Jornalismo

Parkour: das ruas da cidade para a quadra

Prática urbana ensina crianças e jovens a cair e a saltar com segurança

PorWellington Soares

01/12/2014

Aprendendo a aterrissar: o impacto é amortecido com a flexão dos joelhos. Joyce Cury Aprendendo a aterrissar: o impacto é amortecido com a flexão dos joelhos King-kong: o atleta salta de frente, utilizando as mãos para guiar o corpo. Joyce Cury King-kong: o atleta salta de frente, utilizando as mãos para guiar o corpo Tic tac: o aluno utiliza uma parede para impulsionar o corpo em outra direção. Joyce Cury Tic tac: o aluno utiliza uma parede para impulsionar o corpo em outra direção Lazy vault: salto lateral que utiliza as mãos para transpor o obstáculo. Joyce Cury Lazy vault: salto lateral que utiliza as mãos para transpor o obstáculo Rolamentos: úteis para finalização de movimentos sem perder a velocidade. Joyce Cury Rolamentos: úteis para finalização de movimentos sem perder a velocidade

Escalar paredes, pular e desviar de obstáculos no meio do trajeto, saltar entre prédios. Poderia ser a descrição de uma cena protagonizada pelo Homem-Aranha, mas, na verdade, essas atividades fazem parte do cotidiano dos praticantes de um esporte comum em cidades como São Paulo e Brasília: o parkour.

Foi na França que, na década de 1990, um grupo de jovens decidiu usar movimentos típicos da ginástica olímpica, artes marciais e escalada em locais comuns da cidade. O desafio era ir de um ponto a outro no espaço urbano usando o menor tempo possível. Para cumpri-lo, cada um precisava criar estratégias para superar os obstáculos, bolando seu próprio percurso ou parcours, em francês. É daí que deriva a palavra parkour.

Por meio de vídeos feitos pelos praticantes, a modalidade se tornou conhecida na internet, chegou ao cinema, à televisão e às ruas (saiba mais no artigo Parkour: história e conceitos da modalidade). Desse universo, o professor Dirceu Costa Júnior partiu para abordar o tema com as turmas de 5º ano da EMEF Jardim Nova Europa, em Hortolândia, a 110 quilômetros de São Paulo.

A primeira atividade realizada foi uma discussão, em sala, sobre o esporte. Seu objetivo era identificar quais alunos já conheciam o parkour e o que pensavam sobre ele. "Muitos já tinham visto na televisão, mas não sabiam que era um esporte, ou seja, que havia regras e movimentos definidos", conta o professor.

As crianças assistiram, em seguida, a vídeos na internet. Costa Júnior conta que os alunos se surpreenderam com os movimentos. "Eles também ficaram preocupados: ‘será que a gente vai conseguir fazer isso?’", relata o docente.

Na conversa inicial, ele apresentou elementos da história e da filosofia do parkour. "Fui a academias, fiz pesquisas na internet, conversei com praticantes e experimentei os movimentos antes de começar a fazer o trabalho com as turmas", explica Costa Júnior.

Por ser praticado livremente - em geral sem o acompanhamento de um instrutor -, a ajuda entre os atletas é muito importante, principalmente para evitar lesões. "A presença do professor é justamente a diferença entre a iniciação ao parkour acontecer na rua ou nas escolas: ele deve garantir a segurança da turma e instruí-la sobre a maneira mais adequada de realizar os movimentos", defende Denis Prado Ricardo, professor da Escola da Vila, na capital paulista. A garotada precisa entender que não pode sair pulando todos os obstáculos que encontrar fora da escola. Os movimentos devem ser aprendidos e praticados previamente.

Além disso, o uso do espaço urbano e o cuidado com o patrimônio público são outros tópicos que Costa Júnior discutiu com os estudantes. "Destaquei que os esportistas precisam ter cuidado ao escolher o local onde vão praticar para que não estraguem nenhum patrimônio e não incomodem a vizinhança", conta.


Hora de experimentar os movimentos

Usando colchões e cordas, o professor propôs uma revisão de aterrissagens e rolamentos (veja as imagens da galeria) que já haviam sido trabalhados em outros esportes, como a ginástica artística. "Sabendo como amortecer impactos, eles previnem torções e lesões nos calcanhares e nos pulsos", esclarece Dimitri Wuo Pereira, especialista em esportes radicais e docente da Universidade Nove de Julho (Uninove).

Ele alerta que é importante promover exercícios para acostumar os alunos a se moverem no chão e para fortalecer os braços e as pernas. Um exemplo de brincadeira que desenvolve essas habilidades é a imitação de animais.

Antes de apresentar as manobras típicas do esporte, Costa Júnior montou obstáculos com materiais disponíveis na escola - cones, bancos e plinto (aparelho de ginástica para saltos) - e pediu que a garotada tentasse criar diferentes maneiras de superá-los.

Na aula seguinte, o professor recordou os movimentos utilizados pela turma e discutiu quais seriam as melhores estratégias. "Aproveitei para apresentar movimentações do parkour, como o king-kong, lazy vault e tic tac", conta. Ele realizava os movimentos e as crianças repetiam, uma por uma, com seu auxílio. Em seguida, ele as desafiava a combiná-los de diferentes maneiras. O resultado começava a se aproximar do que é praticado pelos esportistas nas cidades.

Na última etapa, os próprios alunos montaram uma sequência de obstáculos. Para transpô-los, precisariam criar um percurso próprio, de acordo com suas habilidades e sua criatividade. "Duas pessoas podem criar diversas maneiras de superar os mesmos desafios. E é importante que elas reconheçam isto: no parkour, não existe certo ou errado, mas a maneira mais eficiente para um indivíduo específico", enfatiza Costa Júnior.

Durante o trabalho, os valores e os princípios dessa modalidade esportiva foram destacados pelo professor, que incentivou os estudantes a praticá-los. Entre os pontos citados estavam: valorizar as habilidades de cada um, ajudar os colegas e respeitar as pessoas e os espaços onde ocorre a prática. Essas características fizeram com que a turma se sentisse motivada. "Muitos alunos falam que vão continuar praticando o parkour fora da escola", conta o professor.

1 Apresentação do esporte Discuta com a turma sobre as características do esporte e sua história e exiba vídeos.

2 Aprendendo a cair Apresente atividades de rolamentos e aterrissagens para que os alunos vejam como amortecer as quedas e não se machucar.

3 Movimentos do parkour Faça algumas manobras típicas do esporte e auxilie as crianças a realizá-las. Depois, permita que combinem diferentes movimentos em uma sequência.

4 Criando percursos Monte um circuito de obstáculos e deixe que os alunos criem estratégias para superá-los de acordo com suas habilidades e sua criatividade.

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