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Jornalismo

"É possível ensinar História com bens culturais"

Entrevista com Ivo Mattozzi, professor de Didática da História e História Moderna da Universidade de Bolonha, na Itália, e especialista em História Patrimonial. Ele defende que todo professor deveria utilizar os bens culturais nas aulas da disciplina

PorBruna Nicolielo

01/11/2013

Ivo Mattozzi. Marcelo Almeida
Ivo Mattozzi

Qualquer tipo de patrimônio cultural pode ser estudado na escola?
IVO MATTOZZI Sim. Os patrimônios culturais estão espalhados no território, nas cidades, nas paisagens, nos museus, nos sítios arqueológicos, e todos eles podem ser objetos de estudo. É possível ensinar História com bens culturais. Todo professor de História deveria utilizá-los nas aulas da disciplina.

Para estudar um patrimônio cultural é necessário conhecê-lo in loco?
MATTOZZI Hoje há a possibilidade de usar museus virtuais e a grande quantidade de imagens de bens culturais existentes na internet. Mas antes de estudar o virtual é bom que os alunos aprendam a olhar, analisar e observar os patrimônios reais. Para a Educação da cidadania, é importante que eles saibam valorizar os bens culturais do próprio território onde vivem.

Como orientar a turma na leitura e na interpretação dos bens culturais?
MATTOZZI É necessário preparar os alunos para ler os patrimônios, pois é algo que eles não saberiam fazer sem orientação. Isso demanda abordar os bens culturais dentro de uma temática especifica ou de um conteúdo - como História local, Segunda Guerra Mundial etc. - e dar aos estudantes informações preliminares sobre os objetos a ser analisados, para guiá-los na observação. Relacionando as informações recebidas e aquilo que descobriu com base na observação, a turma constrói conhecimento. O resultado é que o bem cultural ganha significado para o aluno e é valorizado.

Como o estudo de bens culturais e patrimoniais leva os alunos a entender que a História demanda pesquisa?
MATTOZZI Observar e utilizar um bem cultural, dar sentido a ele e produzir conhecimento com ele é inevitavelmente um processo científico. Se os alunos aprendem os procedimentos de leitura e análise de um bem cultural, se tornam capazes de ler muitos outros. Ou seja, se aprendem a fazer isso no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, por exemplo, podem fazê-lo em Veneza ou em qualquer outro lugar.

Na sua opinião, cada processo de aprendizagem deveria ser concluído com procedimentos de generalização. Como é isso?
MATTOZZI Os bens culturais geralmente estão ligados ao território e estudá-los permite conhecer melhor o local. Mas se o conhecimento se limita àquele lugar não é possível ter uma visão ampla. Devemos agir de modo que os alunos entendam que o lugar onde vivem está dentro de uma história. Por exemplo, se a imigração ucraniana no Paraná é estudada somente na dimensão de Curitiba, não serão compreensíveis processos históricos importantes, como as crises econômicas na Europa no século 18 e 19 e o fato de os ucranianos chegaram não só ao Paraná mas também a Santa Catarina e Argentina. Não será possível entender como esses movimentos migratórios modificaram a população do mundo. A generalização, nesse caso, consiste em dizer "estudamos esse caso, agora podemos fazer uma comparação com um fenômeno geral".

O que deve ser feito antes de uma visita a um bem cultural para uma experiência mais construtiva?
MATTOZZI Foram feitos estudos sobre qualquer bem cultural ou patrimônio. O professor deve fazer essa leitura e, com base nela, eleger conteúdos relacionados para trabalhar. O próximo passo é apresentar o tema à sala e dizer: "Iremos ao museu, a um lugar, uma cidade, e devemos saber o que estamos indo ver e como iremos ver". Ele precisa ainda preparar um guia de observação e análise. Portanto, os alunos vão olhar, responder às perguntas de modo a observar os aspectos dos bens culturais que são necessários para o desenvolvimento da experiência, tirar fotos e depois voltar à sala de aula para continuar com o trabalho de interpretação e de produção da informação e, assim, construir conhecimento.

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