Câncer de Lula: cinco perguntas e respostas
O câncer de laringe, doença que acomete o ex-presidente, pode gerar dúvidas em seus alunos. Entenda cinco pontos essenciais sobre ela para abordá-la em sala
31/10/2011
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Jornalismo
31/10/2011
1- O que é o câncer de laringe?
Para explicar essa questão à turma, comece pelo básico: esclareça o que é câncer, aproveitando para "traduzir" os termos médicos mais associados ao problema. Câncer é nome dado genericamente a qualquer tumor maligno. Um tumor é o aumento anormal dos tecidos (conjunto de células). Um tumor maligno tem duas características principais: ele pode voltar a crescer após ser retirado (o que os médicos chamam de recidiva) e também invadir tecidos diferentes dos que se originou, atingindo outros órgãos (o que se conhece como metástase).
Com essas informações preliminares, você já pode falar sobre o câncer de laringe. Dentro do sistema respiratório, a laringe é a principal responsável pela reprodução da voz, pela passagem de ar e pelo bloqueio da entrada de alimentos no pulmão. A laringe é vizinha da faringe, mas ambas tem funções bastante diferentes.
"Enquanto a laringe controla a entrada de ar nos pulmões, a faringe controla a entrada de alimentos. São duas vias diferentes, que se dividem logo após a língua", afirma explica José Guilherme Vartanian, cirurgião de cabeça e pescoço do Hospital A. C. Camargo, especialista no tratamento de câncer. O médico explica ainda que, por estarem tão próximas, faringe e laringe podem ser atingidas caso o câncer em uma das regiões não seja tratado rapidamente.
2- Quais as possíveis causas?
Como na maioria dos tumores, uma reunião de fatores costuma causar a doença. "Para o câncer de laringe, o fumo é o principal vilão, pois o cigarro libera diversas substâncias que atingem diretamente o órgão", diz Vartanian. Lula, como se sabe, é ex-fumante. Mas muitas pessoas fumam e não são atingidas pela doença. Por quê? "Aí entra o fator hereditário, a predisposição genética", diz o médico. Por isso, quem já tem casos da doença na família - caso, novamente, do ex-presidente - deve abrir o olho.
3- Como a doença se manifesta?
O sintoma mais comum é a rouquidão persistente e progressiva, além de dificuldades para engolir alimentos ou até de respirar. "São sintomas semelhantes aos da dor de garganta. Se depois que o paciente for medicado com antiinflamatório os sintomas persistirem por período superior a dois dias, deve-se procurar um médico especialista em pescoço e garganta", recomenda Vartanian. O médico explica que o tumor dificilmente é visto a olho nu, e somente exames específicos, feitos por especialistas, podem diagnosticar com precisão o câncer nas vias respiratórias.
4- Quais os tratamentos disponíveis?
Hora de explicar à classe o que é a quimioterapia. Trata-se de um tratamento que tem como base diversas sessões de aplicação de um coquetel de medicamentos chamados de quimioterápicos. Estes medicamentos se misturam com o sangue e são levados a todas as partes do corpo, destruindo as células que estão formam o tumor. O inconveniente é que os quimioterápicos possuem um efeito tóxico. Ou seja, atacam também células sadias que formam outras estruturas do corpo, como os pelos. Como outros pacientes que passam pelo tratamento, o ex-presidente Lula deverá ficar careca e perder, por alguns meses, a barba que cultiva desde a juventude.
Em muitos casos, a quimioterapia, sozinha, não consegue tratar um câncer. Ela serve principalmente para evitar que o tumor se espalhe para outros órgãos, mas precisa de uma complementação para a cura. Para Lula, será a radioterapia, um método que utiliza doses controladas de radiação (raios X, gama ou beta) aplicadas na parte do corpo que tem o tumor. Ao interagir com os tecidos do organismo, a radiação gera reações químicas que afetam as células atingidas - no caso ideal, as células tumorais morrem, enquanto as sadias conseguem tolerar os efeitos. Também na radioterapia há efeitos colaterais, como feridas na área irradiada.
5- Qual a chance de cura do tratamento?
Depende do estágio em que se encontra o tumor. "Se diagnosticado nas fases iniciais, a chance de cura pode chegar a 90%. No estado intermediário, as chances são superiores a 60%. Já pacientes com tumores diagnosticados tardiamente têm menos de 50% de chances de sobreviver", explica Vartanian.
A região onde o tumor se encontra também influi nas chances de cura. "Em pacientes com tumores restritos à laringe, a chance de sobrevivência é de cerca de 75%. Mas em tumores que se espalham para outras regiões do pescoço, a chance de cura cai para 40%", diz o médico Renato Capuzzo, do Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital do Câncer de Barretos.
E no caso de Lula? Em entrevista coletiva, a junta médica que trata o ex-presidente preferiu não falar em porcentagem de sucesso. Mas os médicos se mostraram confiantes na cura, que só pode ser declarada após cinco anos de ausência total dos sintomas.
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