Rudolf Steiner: o defensor da sensibilidade
Aliando ensino e espiritualidade, o educador austríaco desenvolve a Pedagogia Waldorf
PorAna Gonzaga
01/12/2009
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Jornalismo
PorAna Gonzaga
01/12/2009
Mais do que uma concepção de ensino, o filósofo, educador e artista Rudolf Steiner (1861-1925) criou uma linha de pensamento que enxerga o homem além do material. É a Antroposofia, que prega o conhecimento do ser humano aliando fé e ciência. Sua Pedagogia é um reflexo dessa forma de pensar, que sobrevive há um século. Ideias defendidas por ele, como a de que todos carregam uma bagagem das vidas passadas, às vezes afastam os educadores, temerosos de que o ensino seja contaminado pelo exoterismo. Não é preciso comungar da visão espiritual de Steiner para tirar benefício desse modo de ver a Educação.
A Pedagogia Waldorf, desenvolvida por ele, é aplicada em escolas específicas. São cerca de 800 ao redor do mundo, 50 espalhadas pelo Brasil. Tudo começou quando o diretor de uma fábrica em Stuttgart, na Alemanha, pediu que Steiner o ajudasse na fundação de uma escola para os filhos dos funcionários. A empresa chamava-se Waldorf-Astoria - daí o nome dado ao método de ensino, nascido em 1919.
A valorização da função docente e da individualidade
Várias das características da Pedagogia desenvolvida naquela época permanecem nas escolas Waldorf, como a divisão em períodos de sete anos, os setênios. O primeiro vai até o fim da troca da primeira dentição, o que ocorre por volta dos 7 anos de idade. "Steiner destaca a importância da imitação nessa primeira fase", explica Wanderlei Pires, da Universidade Paulista (Unip), que ensinou Matemática pela Pedagogia Waldorf durante 30 anos. "O professor deve ser o modelo para essa imitação", completa.
No livro A Educação da Criança Segundo a Ciência Espiritual, Steiner declara: "Não são, pois, as sentenças morais nem os ensinamentos da razão que atuam nesse sentido sobre a criança, mas apenas o que os adultos fazem em sua redondeza de maneira visível".
A primeira coisa que a criança deve aprender ao entrar na escola é o que foi fazer lá. Steiner sugere o seguinte: "Vocês vieram aqui para aprender coisas que os adultos são capazes de fazer e vocês ainda não, como escrever".
Na Educação Infantil, Steiner vê a importância de estimular a imaginação. Não se deve oferecer brinquedos industrializados, que já vêm prontos. No livro Andar, Falar, Pensar - Atividade Lúdica, ele faz um contraponto entre a boneca de pano e a de plástico. A primeira "plasma o cérebro infantil da mesma maneira como trabalha um escultor que elabora a escultura com mão firme, flexível, compenetrada de espírito e alma". Já a segunda, de acordo com ele, traz coisas que a criança ainda não pode compreender e acaba açoitando o cérebro.
A figura do professor é valorizada. Do 1o ao 8o ano de estudo, o aluno tem um único docente, que ministra as matérias básicas. Do 9o ao 12º, surge a figura do tutor. Ele leciona uma das disciplinas e tem o papel de acompanhar de perto o desenvolvimento de seus discípulos. Steiner defende que, nessa fase da vida, é de extrema importância um referencial de autoridade. "Não se trata de uma autoridade vazia, mas calcada na amizade", explica Wanderley Pires. O austríaco destaca a importância para o jovem ter a sua volta personalidades cuja maneira de julgar o mundo desperte nele as forças intelectuais e morais desejáveis. Assim como imitação e exemplo eram palavras mágicas para a Educação dos primeiros anos, para o segundo setênio entram em cena a aspiração a ideais e a autoridade.
Steiner combate a Educação massificada e valoriza as características individuais. Ele adota o conceito de quatro temperamentos básicos, descritos inicialmente pelo grego Hipócrates (460-377 a.C.), para explicar por que crianças em estágios similares de desenvolvimento reagem a estímulos de formas diferentes. Na sua concepção, a melancólica não consegue fazer uso do próprio corpo, a fleumática tende a permanecer acomodada em seu interior, a sanguínea é cheia de vida e leve e, por fim, a colérica é aquela que tenta se impor em todas as ocasiões que compõem sua vivência. "O professor deve tentar reduzir essa heterogeneidade. Para isso, tem de identificar o quanto antes o temperamento dos pequenos", diz a educadora Sandra Regina Mutarelli, autora da dissertação de mestrado Os Quatro Temperamentos na Antroposofia de Rudolf Steiner. "Com base nessa identificação, ele deve agrupar os alunos de modo a permitir que um complemente as características do outro e os temperamentos se harmonizem." Steiner ressalta sempre que a criança é educada "de alma para alma", ou seja, a do professor não pode desprezar a do estudante.
Biografia
Raiz austríaca, cultura alemã e sociedade suíça
Rudolf Steiner nasceu em Kraljevec, na Áustria, em 1861, e viveu seus primeiros anos em uma paisagem magnífica, cercada de montanhas. Seu pai era maquinista e esperava que o filho se tornasse um engenheiro. Por influência paterna, cursou Ciências Exatas no Instituto de Tecnologia de Viena. Mas foi durante os estudos técnicos, na Alemanha, que passou a ter contato com as ideias filosóficas de Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) e de outros pensadores. Aos 22 anos, Steiner foi contratado para organizar os escritos de Goethe. Ao mesmo tempo em que editava e catalogava as obras do filósofo alemão, começou a desenvolver sua própria linha de pensamento, a Antroposofia, e sua teoria pedagógica, a Pedagogia Wadorf. Em 1884, ele escreveu sua obra mais conhecida: A Filosofia da Liberdade. Por fim, em 1913, Steiner se mudou para Dornach, na Suíça, onde construiu a sede da Sociedade Antroposófica, por ele fundada. E foi nessa localidade que ele morreu, em 1925.
Os caminhos de Steiner
O grande admirador de Goethe
Em suas obras, Rudolf Steiner cita vários educadores e pensadores alemães. A principal fonte de inspiração dele foi sem dúvida alguma o intelectual Johann Wolfang von Goethe (1749-1832). A identificação possivelmente ocorreu porque o filósofo, tal como Steiner, compartilhava seu entusiasmo pela ciência sem, no entanto, se portar como um materialista. Outro pensador que o influenciou foi Johann Paul Friederich Richter (1763-1825). Mais conhecido por sua obra literária, ele afirma que um viajante aprende mais de sua alma durante o primeiro ano de vida do que em todas as viagens ao redor do mundo. August Frobel (1782-1841), mencionado na obra Andar, Falar, Pensar - A Atividade Lúdica, foi também influente na vida do austríaco, tal como Johann Friederich Herbart (1776-1841), que acreditava que o processo educativo devia ser baseado na ética e na Psicologia.
Quer saber mais?
BIBLIOGRAFIA
A Arte da Educação I, Rudolf Steiner, 160 págs., Ed. Antroposófica, tel. (11) 5686-4550, 22,80 reais
A Arte da Educação II, Rudolf Steiner, 160 págs., Ed. Antroposófica, 22,80 reais
A Arte da Educação III, Rudolf Steiner, 176 págs., Ed. Antroposófica, 22,80 reais
A Educação da Criança Segundo a Ciência Espiritual, Rudolf Steiner, 48 págs., Ed. Antroposófica, 10 reais
A Filosofia da Liberdade, Rudolf Steiner, 198 págs., Ed. Antroposófica, 37 reais
A Filosofia de Rudolf Steiner, Andrew Welburn, 240 págs., Ed. Madras, tel. (11) 6959-1127, 33,90 reais
Andar, Falar, Pensar - A Atividade Lúdica, Rudolf Steiner, 48 págs., Ed. Antroposófica, 32 págs., 10 reais
Rudolf Steiner, o Homem e Sua Visão, Colin Wilson, 146 págs., Ed. Martins Fontes, tel. (11) 3241-3677, 26,50 reais
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