O grande desafio de quem ensina
Sem uma equipe capacitada, o que se vê são professores que aproveitam a sala de informática para deixar os alunos trabalhando sozinhos e escolas que nem sequer utilizam os laboratórios existentes
12/12/2009
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Jornalismo
12/12/2009
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Você se considera preparado para utilizar computadores na sala de aula? Para 72% dos entrevistados na pesquisa encomendada pela Fundação Victor Civita, a resposta é "não". Além disso, apenas 15% afirmaram ter recebido formação para o uso de tecnologias aplicadas à Educação. Com um agravante: na maior parte dos casos, esses cursos são focados nas próprias ferramentas (saiba mais na tabela da página 2). Ou seja, falta conectar as novas tecnologias aos conteúdos. Regina Scarpa, coordenadora pedagógica de NOVA ESCOLA e da Fundação Victor Civita, destaca: "As capacitações em serviço deveriam focar os conteúdos de cada disciplina e incluir as tecnologias como ferramentas para facilitar o trabalho de sala de aula" (leia mais na entrevista da página 2). Rosane de Nevada, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), lembra que só ensinar a mexer na máquina não contribui para aperfeiçoar o jeito de ensinar. "Basta de usar o computador apenas para repetir o que foi dado em sala de aula", diz ela, que coordena um curso de formação continuada em Porto Alegre (veja detalhes na próxima página).
Enquanto os professores ainda não têm essa formação, a participação do especialista em tecnologia educacional (em geral, o responsável pelo laboratório de informática) facilita a vida dos colegas e permite que mais estudantes tenham acesso aos computadores. Confira no quadro ao lado outras sugestões para melhorar a capacitação da equipe.
72% dos entrevistados acham que o curso de graduação os preparou pouco ou nada para o uso da tecnologia na escola
Escrever com a ajuda do computador
A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) oferece, desde agosto de 2006, um curso de licenciatura em Pedagogia na modalidade a distância fundamentado no uso de tecnologias e destinado a professores que atuem no primeiro ciclo do Ensino Fundamental e na Educação Infantil. Batizado de Pead, o curso oferece aulas presenciais (em cinco pozlos) e muito material virtual para que todos se familiarizem com os recursos da internet (como wiki e blog) e alguns programas de troca de mensagens (como MSN, Skype e e-mail). As Secretarias Municipais de Educação de Alvorada, Gravataí, Sapiranga, São Leopoldo e Três Cachoeiras cedem espaço e equipamentos para as atividades presenciais - e disponibilizam ônibus para levar os professores aos laboratórios.
Quatrocentos professores cursam o Pead, que pode ser transformado num curso regular, oferecido pela universidade. "Nossos materiais digitais não têm a linearidade dos impressos e, por isso, provocam os alunos a interagir. Assim, mais rapidamente eles passam a aplicar com as crianças o que aprenderam", explica Rosane de Nevado, coordenadora do curso.
Luciene Sobotyk, professora da EMEF Deputado Victor Issler, em Porto Alegre, é uma das alunas do curso. "Ele me encorajou a incorporar a tecnologia às atividades que desenvolvo em sala de aula", diz. Um exemplo é o projeto que implantou na classe do 2º ciclo (uma turma de progressão que reúne crianças de 11 a 15 anos com dificuldades de aprendizagem). "Montei as tarefas junto com duas colegas, de outras escolas, para trabalhar os conteúdos de Língua Portuguesa, especialmente a produção de texto. Como a garotada tem animais de estimação, pedimos para eles trocarem informações sobre os mascotes, usando ferramentas tecnológicas", conta. "Começamos com uma troca de e-mails.
Depois, decidimos registrar todas as etapas do trabalho em fotos e vídeos, que vão para o ar num blog, que acabamos de criar. E ainda estamos estudando formas de incluir o uso do Skype como uma das tarefas", completa.
Ações que podem fazer a diferença
1 Mudar o foco dos programas de formação continuada.
Como os cursos de graduação são deficientes no que diz respeito ao uso das tecnologias, cabe às Secretarias de Educação investir mais tempo e recursos nisso. Mas é preciso apresentá-las como facilitadoras do processo pedagógico e ampliadoras da capacidade de comunicação entre alunos, professores e gestores. Em vez de organizar cursos sobre o uso de máquinas e softwares, o ideal é incluir a tecnologia nas capacitações específicas sobre os conteúdos da disciplina.
2 Disseminar a cultura digital em toda a rede.
As Secretarias de Educação podem promover campanhas informativas sobre a importância de dominar as novas tecnologias para ajudar os professores a superar medos e resistências. Afinal, o educador jamais será substituído pela máquina. Ao contrário, só com a mediação dele as ferramentas de informática podem ser utilizadas de maneira eficaz.
3 Facilitar a comunicação entre os professores.
Isso vale dentro de cada escola e em toda a rede - para fomentar a troca de experiências e o desenvolvimento de projetos em conjunto. Ferramentas como blog, MSN e Skype devem não apenas ser liberadas mas também incentivadas.
4 Ampliar as atividades em conjunto pelas escolas.
Projetos interdisciplinares e interescolas sobre temas de interesse pedagógico são comuns nas redes, certo? Por que não usar a tecnologia para facilitar a pesquisa e publicação dos resultados obtidos? Assim, estreita-se o relacionamento entre alunos, professores e gestores, ampliando o contato com a comunidade.
5 Valorizar os professores que utilizam bem as tecnologias.
As Secretarias podem oferecer incentivos (dinheiro, prêmios e oportunidades) a professores que desenvolvem projetos incorporando de forma inteligente as tecnologias ao ensino dos conteúdos.
6 Redefinir o papel do especialista em informática.
Toda escola deve ter pelo menos um professor especialista em informática por turno - em cada laboratório disponível. É fundamental fazer com que esse profissional atue como um formador dos colegas, ajudando-os a se familiarizar com as ferramentas tecnológicas.
7 Investir nos melhores alunos e transformá-los em monitores.
Esses monitores podem auxiliar os professores (no contraturno, por exemplo) a orientar as turmas a usar as máquinas.
8 Envolver a equipe gestora nas decisões.
Diretores e coordenadores pedagógicos também precisam se formar para aprender a usar bem as tecnologias, certo?
Assim a turma avança
Como a formação docente pode impulsionar o uso de computadores pelos alunos
Ilustração: Mario Kanno
Regina Scarpa é coordenadora pedagógica da Fundação Victor Civita e da revista NOVA ESCOLA
Como melhorar a formação dos professores para o uso das novas tecnologias?
Regina No mundo de hoje, não há mais espaço para quem não sabe trabalhar com o computador. Daí a importância de todos os professores se manterem atualizados. Nesse contexto, o professor responsável pelo laboratório de informática deveria se colocar no papel de formador dos colegas - em vez de ficar apenas "tomando conta" dos alunos, enquanto o professor de classe aproveita para corrigir provas, fazer planejamento ou participar de reuniões.
O que acontece quando o professor delega para o especialista em informática a responsabilidade de trabalhar com os computadores?
Regina O conhecimento sobre as novas tecnologias fica centralizado numa só pessoa e a equipe docente não se familiariza com as ferramentas. Fica impossível pensar em utilizá-las a serviço da aprendizagem dos conteúdos. Cada professor deve sempre pensar: como a tecnologia pode colaborar com o ensino da Matemática? E da produção de textos?
Mas ainda há muitos que resistem aos avanços por acharem complicado trabalhar com os computadores...
Regina Além de usar o especialista em informática como formador, o ideal seria incluir os usos das tecnologias nos programas de formação continuada das Secretarias de Educação - sempre atrelados aos conteúdos curriculares.
Os alunos que têm mais familiaridade com as novas tecnologias podem ajudar?
Regina Sem dúvida. Não há problema em pedir ajuda. Sobretudo porque essa autonomia dos alunos pode render boas situações-problema relacionadas aos conteúdos.
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