Quando o conflito se torna oportunidade de aprendizagem
Quando o projeto pedagógico se orienta para o bem comum, a convivência melhora
29/04/2019
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Jornalismo
29/04/2019
Episódios trágicos como o de estudantes que matam em massa seus colegas dentro das escolas trazem à tona o medo, o que estimula, muitas vezes, propostas de incremento dos aparatos de controle, que são certamente ineficazes. De fato, a única medida que evitaria tragédias deste tipo seria o rigoroso controle do acesso às armas. Casos assim também revelam o clima doentio que domina certos ambientes escolares, nos quais alguns estudantes se sentem tão humilhados, isolados e menosprezados que desenvolvem ódio por seus colegas e professores.
Nas escolas cujos projetos pedagógicos são orientados exclusivamente para resultados acadêmicos, o tempo e o espaço são organizados para maximizar estas metas. Nesta estrutura, tudo o que não se refere ao conteúdo programado é visto como distração. Assim, quando ocorre um desentendimento entre os estudantes, eles são retirados da sala e levados à diretoria. A direção, em regra, trata o problema a partir da distração provocada, o mau comportamento de não prestar atenção na aula. O conflito que motivou a distração não tem lugar ali também. Os alunos deverão tratar das suas diferenças no intervalo ou fora da escola, espaços não mediados por educadores.
Já nas escolas cujos projetos pedagógicos se orientam para a constituição de uma comunidade que se reconhece como corresponsável pelo bem comum, organizam-se para possibilitar o diálogo, o aprendizado com a diferença, o acolhimento. Assim, estruturam-se dispositivos e instâncias capazes de lidar com os conflitos como oportunidades de aprendizagem. Podem ser comissões mediadoras de estudantes, funcionários, professores e gestores que se voluntariam para a função por períodos determinados. Quando os conflitos acontecem, são levados a essas comissões, que escutam todos os envolvidos e buscam juntos a melhor forma de restaurar a relação de convivência saudável, contando, inclusive, com o apoio da comunidade para isso. Se o conflito envolve atitudes discriminatórias, isso pode motivar novas ações e debates que permitam a reflexão coletiva sobre o assunto e a superação dos preconceitos que as motivaram.
Helena Singer é doutora em Sociologia e líder da Estratégia de Juventude para a América Latina na Ashoka. Foi assessora especial do MEC
Foto: Tomás Arthuzzi/NOVA ESCOLA
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