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Jornalismo

Aprendi com as colegas

Receber apoio de quem está há mais tempo na escola é fundamental para os iniciantes

PorAnderson Moço

01/11/2011

Poucas épocas são tão difíceis para quem acabou de terminar a faculdade de Pedagogia ou uma licenciatura quanto os primeiros meses em sala de aula. Todo ano, cerca de 70 mil pessoas se formam nesses cursos e precisam deixar de ser alunos para se transformar em professores. Qual a forma correta de planejar as aulas? Será que domino os conteúdos suficientemente? De que forma controlar a turma e evitar a indisciplina? Qual estratégia utilizar nas primeiras aulas? Não é exagero dizer que a insegurança é uma marca desse período.

Parte do problema é que nos currículos das faculdades há pouco espaço para "o que" e o "como" ensinar. Segundo uma pesquisa realizada pela Fundação Carlos Chagas (FCC) para NOVA ESCOLA, apenas 28% das disciplinas dos cursos ministrados em todo o país se referem à formação profissional específica - 20,5% a metodologias e práticas de ensino e 7,5% a conteúdos. Ou seja, a universidade nem sempre prepara para enfrentar a realidade escolar e o resultado é quase sempre o medo de não conseguir dar conta do recado. Uma das questões que hoje se coloca para a Educação é atender de forma adequada aos recém-chegados. "A escola precisa ajudar esses profissionais a se tranquilizar, deixando claro que errar nessa etapa faz parte do processo de aprendizagem", explica Sonia Penin, professora da Faculdade de Educação (FE) da Universidade de São Paulo (USP) e estudiosa sobre o tema.

Uma das formas de ajudar o novo docente é valorizar a integração dele com os que estão há mais tempo na escola. Afinal, ele não é o primeiro a passar por isso nem a assumir aquela turma. "Vários professores o antecederam e, ao contarem suas dificuldades e como superaram os desafios, podem ajudar muito", recomenda Sonia. Isso faz com que o iniciante se sinta mais seguro e encontre na equipe informações sobre os problemas do dia a dia, que ele sozinho não teria repertório para resolver. Outra boa dica é procurar diretores e coordenadores para discutir o ensino. "A atividade docente é complexa e demanda muita dedicação e tempo. Sem orientação, tudo fica ainda mais difícil", ressalta Sonia. Além disso, os mais experientes podem contar quem são os alunos, as características da comunidade, qual é o clima da sala de aula e, principalmente, como se organiza o ensino - informações fundamentais para quem está começando.

Nas próximas páginas, você encontra depoimentos de três jovens professoras sobre como os colegas mais experientes as ajudaram. Elas contam qual o conselho fundamental para que se adaptassem à sala de aula e conseguissem vencer a insegurança. Nenhuma tem dúvida em dizer: aprendi com as colegas.

A difícil tarefa de disciplinar os alunos
Ao chegar à sala de aula, é preciso conquistar a turma e garantir um ambiente propício à aprendizagem

 Foto: Pedro Motta

A professora Tatiana Lage de Castro, 25 anos, enfrentou o problema ao assumir as aulas de História e Geografia das séries iniciais da EM José Diogo Almeida Magalhães, em Belo Horizonte. "Os primeiros dias foram assustadores. Os meninos não faziam o que eu pedia. Eu só pensava em desistir", conta. Ela optou por começar um mestrado em Educação, logo após terminar a faculdade, para se preparar melhor. "As questões práticas não são o foco da graduação e o mestrado, em geral, é focado na pesquisa, o que não ajuda a resolver o problema", explica. Ela buscou apoio dos docentes mais experientes, principalmente da professora Sílvia Ulisses de Jesus. "As crianças são muito espertas e sensíveis. Sentem nossa insegurança no primeiro dia. As coisas ficam mais fáceis com o tempo, quando percebem que não podem nos intimidar. Postura e firmeza, sem agressividade, são primordiais. Além disso, recomendei que preparasse atividades desafiadoras que envolvessem os alunos. É preciso conquistá-los", conta Sílvia.

Avaliar para conhecer a turma
Muito além das notas de prova, é preciso acompanhar de perto o que os alunos aprenderam

 Foto: Edson Ruiz

Hoje muito se fala sobre maneiras eficientes de verificar o que os alunos aprenderam e com isso ajustar os ponteiros do ensino e da aprendizagem. Esse é um ganho e tanto para a Educação, mas traz desafios para os professores iniciantes, como conta Sheila de Santana Silva, 25 anos, que leciona para o 4º ano na Escola Lua Nova, em Salvador: "Fiz estágio e a minha maior dificuldade eram as questões avaliativas. Aprendi com a professora Nara Magalhães que avaliar é ajustar meu próprio trabalho às necessidades do momento. Essa ideia era totalmente contrária a tudo que vi na minha formação, quando o que valia era a nota". Nara mostrou a Sheila que o importante é checar as aprendizagens diárias. "Procurei ajudá-la a entender como respeitar o tempo de aprender dos estudantes. Para isso, é fundamental registrar a participação de cada um, apontando os problemas e os avanços, principalmente daqueles que têm mais dificuldade. Só assim é possível pensar em atividades específicas para cada um e não deixar ninguém para trás", conta.

Planejar traz foco e qualidade
Antes mesmo de conhecer os alunos, todo professor tem a missão de pensar no que e como ensinar

 Foto: Leo Caldas

Para alguém que está começando a lecionar, esse é um momento que traz muita insegurança. Afinal, o que um bom plano de trabalho precisa ter? Essa dúvida enchia a cabeça de Sandra Almeida da Silva, professora de Arte e Geografia das séries finais do Ensino Fundamental, quando assumiu sua primeira turma na EE Jarbas Passarinho, em Camaragibe, no Grande Recife. "No começo, achava que planejar era escrever os conteúdos que iria trabalhar e nada mais. Aprendi com a diretora pedagógica Aiza Arôxa que é preciso registrar tudo o que pretendo fazer, o que espero que os alunos aprendam e as estratégias de ensino e avaliação." Aiza tem uma prática para ajudar os novatos. "Possuímos um plano de curso. Com isso, os professores que chegam sabem o que precisam garantir para aquela série. Nós dividimos a equipe por áreas e assim os menos experientes nunca estão sozinhos. Além disso, envio por e-mail para cada um os registros do ano anterior e as versões atualizadas que vão chegando. Modelos de planejamento não podem faltar", conta Aiza.

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