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Jornalismo

Os alunos de Pedagogia e a escola do futuro

A geração que cresceu nos anos 2000 pode reformar profundamente as escolas brasileiras

PorLeandro Beguoci

27/04/2018

Ilustração: Adriana Komura

Todos os anos, milhares de pessoas decidem fazer Pedagogia ou cursos de licenciatura. Por que, mesmo cientes dos problemas da Educação no Brasil, elas se aventuram pelo mundo do ensino? Com essa pergunta na cabeça e muito trabalho pela frente, nos enveredamos pelas pesquisas mais recentes e falamos com quem quer aprender a ensinar. O resultado é fascinante.

Encontramos uma geração que mudou de vida graças à Educação. São sobretudo mulheres, a maior parte negras e pobres. Elas são as pioneiras da família a ingressar no Ensino Superior. São resultado tanto do esforço individual quanto de políticas públicas implantadas por diversos partidos ao longo dos últimos 30 anos. Elas mostram o que acontece quando a força das pessoas encontra um terreno fértil oferecido pelo país.

Ao mesmo tempo, essa geração sente profundamente os buracos da própria formação. Embora ainda esteja na universidade, já experimenta as dores de um curso que pouco dialoga com a prática e dos estágios pró-forma. A isso se somam as compreensíveis inseguranças com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Os professores do futuro não sabem quanto do que aprendem hoje valerá para o horizonte próximo, que a Base começa a desenhar. Afinal, o próximo desafio, depois do currículo, é a formação docente.

De todo modo, entre alegrias e inseguranças, há um aspecto positivo nessa geração. Ela vivenciou a universalização do acesso à Educação pública e experimentou políticas de acesso ao Ensino Superior. Não são estudantes de um mundo em que ir à escola era difícil, como há 25 anos. Nem se contentam em ter todo mundo na escola. Eles querem qualidade.

Sim, seria injusto dizer que querem algo diferente da geração que hoje está à frente das salas de aula. Muitos dos professores mais engajados com o aprendizado de alunos e alunas também têm essa preocupação. O ponto é que os professores atuantes hoje foram formados num país que mal conseguia garantir acesso (e muitos lugares ainda não conseguem fazer isso…).

Essa nova geração, que cresceu nos anos 2000, viveu uma realidade diferente, especialmente nas maiores cidades. A questão não era ter escola. A questão é qual escola, com qual sentido. Os estudantes com quem conversamos querem reformar profundamente as instituições e se mostram mais abertos a novas metodologias.

Há uma inquietação bonita tomando forma. Sei que ainda é cedo para dizer que esses candidatos a professores vão mudar radicalmente a Educação. Mas talvez valha apostar: mesmo sem a melhor das formações, e eles sabem disso, estão dispostos a enfrentar os desafios que o seu tempo lhes oferece. A nós, cabe apoiá-los e encorajá-los nessa jornada que ainda nem começou.

Concorda? Quer conversar? Me escreva: leandro@novaescola.org.br

Um abraço,

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