Trabalhar dois eixos temáticos, Matéria e Energia e Vida e Evolução, com uma atividade só. A professora Gizele Gasparrini, do Colégio Albert Sabin, de São Paulo, propôs aos seus alunos que pensassem em armadilhas para o mosquito da dengue, um problema de saúde pública. Nessa atividade, ela incentivou que os alunos pensassem nas soluções, pesquisassem sobre o mosquito e elencassem os materiais para construir as armadilhas.
Nas Ciências, a BNCC propõe que os professores promovam situações para que as crianças e jovens:
1. Desenvolvam a capacidade de observar, perguntar, analisar demandas e propor hipóteses.
2. Elaborem modelos e explicações.
3. Desenvolvam, divulguem e implementem soluções para resolver problemas cotidianos utilizando conhecimentos científicos.
Mas como levar esta perspectiva de abordagem investigativa para o planejamento das aulas?
Colocar o aluno como protagonista na construção dos conceitos é essencial. Para isso, um dos desafios do docente é lidar com a própria ansiedade. “Muitas vezes, a gente quer dar a resposta. Mas, ao invés disso, precisamos pensar em quais questões podemos fazer ao estudante para que ele mesmo encontre a resposta”, diz Gizele Gasparrini. Também é preciso estar atento ao caminho que o aluno está seguindo em sua investigação para garantir que os objetivos de aprendizagens foram cumpridos. A seguir, o passo a passo de um dos trabalhos desenvolvidos por Gizele com as turmas do 8º ano:
1. Escolha um contexto. Elabore um contexto significativo para o aprendizado e, assim aumentar as chances de garantir a atenção de crianças e jovens.
Para trabalhar o aprendizado sobre circuitos elétricos, Gizele, por exemplo, decidiu usar a disseminação da doença da dengue e propor aos alunos a construção de armadilhas para eliminar os mosquitos transmissores da doença. A escolha conversa com o contezto onde a escola está inserida, ja que é em uma região com muitas árvores e lagos e, portanto, propensa a ter insetos. Dessa maneira, a docente também contribuiu para ampliar o olhar dos estudantes para o que ocorre ao redor deles.
2. Apresente o problema e instigue uma solução. A professora levou informações sobre a doença: notícias sobre a dengue como problema de saúde pública com o aumento no número de casos nos últimos anos. Ela também fez uma série de perguntas para avaliar os conhecimentos prévios dos alunos, como:
1. Quem já ouviu falar sobre a doença?
2. Quem conhece alguém que foi infectado?
3. Como ela é transmitida?
Em meio a conversa, Gizele questionou como eles poderiam contribuir para diminuir o número de casos de dengue. Com o problema colocado, a discussão sobre como solucioná-lo foi encaminhada para que a resposta fosse: eliminar os mosquitos. Como? Construindo armadilhas.
3. Chegue a uma solução. A ideia de fazer protótipos para capturar os mosquitos logo despertou a curiosidade dos estudantes. Para ajuda-los a refletir sobre a proposta, novas perguntas foram colocadas:
1. O que é uma armadilha?
2. Para que elas servem?
3. Quem pode dar exemplos de armadilhas?
4. Como será que elas são feitas?
Aqui, o objetivo era que eles pensassem sobre a função de uma armadilha e chegassem à conclusão de que um bom protótipo é feito com base nas fragilidades do inseto. O que torna o mosquito da dengue frágil? A conversa terminou com essa pergunta no ar e um convite para que os alunos pesquisassem sobre o assunto.
4. Pesquise o tema e incentive o debate. Saber realizar pesquisas qualificadas é fundamental no processo investigativo. Ao professor cabe o papel de orientador, ajudando os estudantes a desenvolver a capacidade de identificar fontes confiáveis, comparar e avaliar informações. Trata-se de uma prática que pode ser utilizada em vários momentos da atividade.
Nesta proposta, divididos em grupos, os jovens recolheram informações e primeiro debateram entre si. “Em geral, rende mais quando a conversa é entre poucos. Eles ficam mais à vontade e todos falam e se entendem melhor”, conta Gizele. Depois, eles apresentam o que encontram para um debate coletivo.
Os alunos, na turma de Gizelem descobriram que quem pica os seres humanos é a fêmea do mosquito e, portanto, é preciso atraí-las para a armadilha. A professora instigou que eles pensassem em todos os fatores que poderiam ajudar na construção do protótipo:
1. Como o mosquito é atraído? Pela água, pela luz e pelo suor do mamífero.
2. Do que ele se alimenta? A fêmea não se alimenta de sangue e é herbívora, come néctar de frutas, por exemplo.
3. Quando o sangue humano entra na equação? Na hora de maturar os ovos.
Depois, Gizele colocou como tarefa pensar em como utilizar todos os dados reunidos para montar as armadilhas. O único pedido foi para eles fossem criativos e irem além do uso de garrafa pet, tule e água, como os protótipos encontrados facilmente na internet. “A percepção que tenho é de que a discussão coletiva é importante para instigá-los. Em geral, eles se dão conta que todos têm informações parecidas e, portanto, a chance de fazerem algo igual é grande. O desafio se torna maior porque, para se diferenciarem, precisam pensar em algo diferente”, diz a docente.
5. Planeje. O docente acompanha e orienta a elaboração das estratégias.
Gizele sugeriu aos alunos listar todas as fragilidades do mosquito para que a armadilha funcionasse. Por exemplo: o melhor é atrair a fêmea quando ela quiser comer ou no momento em que vai por os ovos? Com uma estratégia inicial escolhida, os grupos começaram a planejar como construir os protótipos.
Eles deveriam:
1. Fazer um desenho da armadilha
2. Indicar o objetivo da armadilha
3. Levantar os materiais necessários.
6. Construa o conhecimento. O desenvolvimento e teste das soluções é o momento central da atividade e permite que o docente trabalhe os conteúdos previstos. No caso das armadilhas, a professora pôde abordar com os alunos alguns dos conteúdos que estão nas unidades Matéria e Energia e Vida e Evolução da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Assim, ela foi apresentando e discutindo os conhecimentos que eles precisavam para executar o que haviam planejado.
A ideia de utilizar circuitos elétricos surgiu naturalmente em vários grupos. Gizele, então, debateu sobre o que é circuito elétrico, o que é um circuito aberto e um fechado, quais os componentes do circuito, como montá-los e quais materiais conduzem eletricidade.
Um grupo, por exemplo, utilizou luz de led para atrair o mosquito e optou por colocar uma redinha, confeccionada com arame, ligada a um circuito baseado em choque. Outro resolveu recriar adesivos encontrados no mercado, fizeram uma versão com fita dupla face que atrai o inseto pela cor e faz com que ele grude. Como a pesquisa feita pelos estudantes havia mostrado que, além da cor, o mosquito pode ser atraído pelo odor de mel, eles colocaram uma solução com este material embaixo do adesivo.
Os materiais podem ser adaptados para a realidade de cada instituição. Dá para utilizar sucata e materiais reciclados, fazer rodízio para o uso de pilhas etc.
7. Apresente os resultados e debata sobre eles. Concluídas as armadilhas, os grupos foram convidados a mostrar e explicar aos colegas o que construíram, compartilhando os conhecimentos adquiridos.
8. Faça a avaliação. Durante todas as etapas da atividade, a professora avaliou a aprendizagem dos alunos – tanto individualmente quanto no grupo. Ela verificou os conhecimentos sobre circuitos obtidos durante o percurso para planejar e montar as armadilhas e também comprometimento, inovação e execução da proposta. Todas essas informações foram utilizadas para planejar os conteúdos que precisam ser retomados ou confirmar em quais pontos é possível avançar. “Nós refletimos a cada aula sobre o que precisa ser melhorado com as turmas”, conclui Gizele.
Habilidades e competências desenvolvidas
(EF08CI02) Construir circuitos elétricos com pilha/bateria, fios e lâmpada ou outros dispositivos e compará-los a circuitos elétricos residenciais.
Competências gerais: Pensamento científico, crítico e criativo; empatia e cooperação e comunicação.