
Cena do filme “O Escaravelho do Diabo”, de Carlo Milani
É isso mesmo que você acabou de ler. O Escaravelho do Diabo, de Lúcia Machado de Almeida (192 págs., ed. Ática, tel.: 11/4003-3061, 43 reais) ganhou uma adaptação cinematográfica que estreia hoje, 14 de abril. Aqui na redação várias pessoas comentaram sobre isso comigo, desde que a notícia foi divulgada. Mas, eu estou entre as poucas pessoas que não leu esse livro na adolescência. Então, fiquei pensando em como eu poderia falar sobre ele com vocês, já que foi tão importante na vida de tanta gente. Vi que não poderia.
Porém, nada está perdido porque me lembrei que o designer e meu amigo Victor Malta não só leu , como também diagramou a última edição publicada pela editora Ática. Pedi para ele contar um pouquinho de sua relação com o título e, claro, já negociei um empréstimo para eu finalmente lê-lo. Confira abaixo tudo o que ele escreveu pra gente!
Alguns garotos sonham em ser jogadores de futebol, outros, astronautas. Meu sonho era mais original: queria ser detetive particular. Não, não policial ou bombeiro – nunca fui fã de correr riscos. Eu queria ser aquele indivíduo capaz de reunir todos os suspeitos de um crime em uma sala, e revelar com minúcias o plano do bandido. Ou seja, mostrar que era mais esperto que todo mundo.
Mas esse sonho não surgiu do nada. Eu tinha a plena convicção de que reunia todas as habilidades necessárias para seguir nessa carreira: era atento aos detalhes, não me deixava enganar pelas aparências e sempre adivinhava quem era o bandido no fim dos romances policiais – isso mesmo, no fim. Geralmente, no momento em que o personagem dizia: “Foi o Fulano!”. E eu pensava comigo mesmo: “Eu já sabia… estava claro desde o começo”, ainda que não fosse verdade -. Um talento que eu aprimorava com muita leitura.
Boa parte desses livros haviam sido recomendados pelas minhas professoras do Ensino Fundamental. Eu tinha 10 anos quando li meu primeiro livro da Coleção Vagalume e descobri o romance policial. Voltada para o público infanto juvenil, publicada desde a década de 70 pela editora Ática, ela reúne títulos de variados gêneros e é e adotada por diversas escolas. Tanto que vários livros que eu li da mesma coleção pertenciam a uma tia minha de sua época de escola.
Um dos livros que mais me marcou foi O Escaravelho do Diabo. Ele sempre esteve disponível nessa biblioteca familiar, mas demorei um pouco para começar a lê-lo. Eu imaginava que era um livro de terror por causa do título e o besouro vermelho na capa – ambos me assustavam, confesso. Mas chegou um momento em que não tinha nenhuma outra opção e tive que encará-lo. E foi muito surpreendente!
O “detetive” da história é o estudante de medicina Alberto, que se vê envolvido em uma série de assassinatos após a morte de seu irmão mais novo, Hugo. O assassino, que só escolhe atacar pessoas ruivas, manda por correio para suas vítimas um besouro dias antes do crime. Alberto, com a ajuda do delegado Pimentel, tem que correr contra o tempo para evitar que mais mortes aconteçam. Esse era exatamente o tipo de enredo que eu procurava nas minhas leituras!
Fiquei bem curioso quando descobri que a história ia ser adaptada para o cinema e um sentimento de nostalgia vai me levar a assistir o filme, com certeza. Pelo trailer já é possível ver que foram feitas algumas adaptações na história: Alberto não é mais um estudante universitário, mas um adolescente e Hugo é seu irmão mais velho. Isso provavelmente foi feito para aproximar a história de um público mais jovem, o que é bastante compreensível. O Escaravelho do Diabo foi publicado primeiramente como um folhetim na revista O Cruzeiro na década de 50, portanto, para um público adulto. Mas ele só fez sucesso quando foi republicado em 1972 na Coleção Vagalume, para o público infanto-juvenil.
No fim eu não virei detetive, mas a paixão por literatura me fez querer trabalhar com livros. Em 2015, nessas coincidências da vida, fui convidado para participar do projeto de reedição da Coleção Vagalume, como diagramador. Foi muito emocionante reencontrar alguns títulos, incluindo O Escaravelho do Diabo, que fizeram parte da minha história de formação de leitor e de dezenas de milhares de outras pessoas.
Espero que tenham gostado do depoimento do Victor. Eu gostei bastante.
Dá uma olhada no trailer:
Você já leu o Escaravelho? Vai assistir o filme? Conte pra gente aqui nos comentários.
Até o próximo post!
Anna Rachel