Em dezembro de 2017, vivenciamos um momento histórico: a aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para todas as escolas do Brasil.
Em breve retrospectiva, podemos retomar o percurso que esta construção trilhou até então. Foram quatro versões, cerca de 12 milhões de contribuições na plataforma do MEC e nos Seminários Regionais, em que professores, gestores, organizações não governamentais e outros representantes da sociedade civil puderam analisar o material e opinar. A aprovação final foi feita pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) e a homologação realizada pelo MEC. Em seguida, as redes de ensino articularam-se para revisar ou construir seu currículo com base em todas as orientações que constam na BNCC.
São os gestores das escolas (diretores e coordenadores pedagógicos) que vão garantir e acompanhar o dia a dia desse processo para que, de fato, as mudanças cheguem à sala de aula.
Os desafios são muitos: o tempo escasso para discutir com os professores durante a jornada de trabalho, já que muitos deles trabalham em mais de uma escola, dificultando sua participação nas reuniões coletivas com o grupo ou, em alguns casos, a rede ainda não dispõe de horários de estudo coletivo dentro da jornada de trabalho; a falta de apropriação do material por parte dos professores, que nem sempre conseguem tempo fora da sala de aula para fazer essa leitura, o descrédito de alguns deles nesse projeto, por não se sentirem parte do processo, por causa da maneira com que a rede organiza essas discussões, ou por falta de disponibilidade do próprio professor para participar, até mesmo quando isso pode ser feito de maneira on-line.
É até possível que o próprio gestor se encontre pouco preparado para liderar o processo na escola, por não ter se apropriado de maneira aprofundada de todo o material. Para iniciar a conversa, coordenadores e diretores precisam estar apropriados do documento. Não é possível enfrentar o desafio de levar a discussão para a equipe de professores se não compreendermos o que é o material e como ele está constituído.
Então, caso ainda não tenham feito isso, é muito importante que se debrucem sobre a Base e procurem entender como ela está organizada:
- quais áreas compõem o documento?
- quais os componentes curriculares de cada área?
- como cada uma delas está organizada, incluindo as diferentes nomenclaturas?
- que habilidades estão definidas para cada ano?
- quais são as competências gerais e de que maneira se relacionam com as diferentes áreas?
- o que significam as siglas no início de cada parte do material?
A área de Linguagem, por exemplo, é formada por vários componentes curriculares: Educação Física, Língua Portuguesa, Arte e Língua Inglesa. Já a de Matemática, por um único componente curricular: a própria Matemática.
A equipe gestora pode criar momentos de estudo dentro da própria rotina de trabalho, para que todos possam estudar o material, discutir as dúvidas, buscar aprofundamento nos conceitos que despertarem maior dificuldade etc. Desse modo, poderá se fortalecer para iniciar as discussões com os professores, trazendo o documento para os momentos de estudo coletivo na escola.
A Base é um documento técnico e, portanto, não é um material simples. Uma ou duas reuniões não são suficientes para que todos se apropriem e possam implementá-la. É preciso organizar um plano de formação com uma sequência de encontros de estudo para que os professores possam analisar o material referente à sua área e entender conceitos específicos de cada uma delas. Minha orientação é: inicie os estudos pelas competências gerais, entendendo de que maneira elas se interrelacionam com os diversos componentes curriculares.
É igualmente importante planejar o foco de cada momento formativo sobre o tema na escola para pensar quantos encontros precisam ser desenvolvidos e quais estratégias serão utilizadas em cada um deles, de modo a engajar os professores na discussão e ajudá-los a se apropriar de um documento tão importante para garantir a equidade na Educação, com oportunidades para todos os alunos e de acordo com as suas necessidades. Esse guia destrincha os passos da gestão na implementação da Base e busca ser um apoio ao gestor. Só assim conseguiremos fazer com que a BNCC chegue a cada sala de aula do Brasil, promovendo a transformação que desejamos.
Silvana Tamassia é diretora da Elos Educacional, consultora de gestão escolar e formadora de professores.