No desenvolvimento deste plano, propõe-se que os estudantes experimentem os elementos comuns dos esportes de marca que envolvem as habilidades motoras, correr, saltar, arremessar e lançar, e as capacidades físicas velocidade e potência muscular, no contexto dos esportes de marca.
Vivenciar as habilidades motoras de correr, saltar, lançar e arremessar e as capacidades físicas exigidas na experimentação de diferentes modalidades dos esportes de marca e de precisão.
Identificar as habilidades motoras de correr, saltar, lançar e arremessar em outras práticas corporais, bem como em atividades da vida diária.
Identificar as capacidades físicas exigidas nas atividades de esportes de marca, reconhecendo a sua presença em outras práticas corporais, bem como em atividades da vida diária.
Adaptar materiais recicláveis na construção dos equipamentos necessários para a prática das modalidades de lançamentos e arremessos.
Neste plano iremos retomar vivências dos elementos comuns dos esportes de marca, com foco nas provas de atletismo. Propomos a ênfase nas habilidades motoras fundamentais de correr, saltar, lançar e arremessar. Para isso, torna-se necessário recuperar alguns conceitos.
Na literatura das ciências do movimento humano, se observa diferentes nomenclaturas para o mesmo objeto de estudo. Alguns autores clássicos da área do comportamento motor, como Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), sugerem o termo habilidades motoras fundamentais para se referir aos movimentos que emergem, pela interação da criança, ao longo da primeira infância, com o ambiente. Identificando as suas individualidades biológicas e os desafios impostos pela tarefa, ainda nos primeiros meses, como o movimento de pinça, até posteriormente, observar a necessidade de emergir movimentos de locomoção (como correr, saltar), manipulação (como lançar, arremessar) e estabilização (como equilíbrio estático e dinâmico), para responder de forma coordenada a tarefas mais complexas, ao longo da vida. Por uma questão de tradução da língua inglesa, ou validação cultural, outros autores como Freire (2000) utilizam o termo habilidades motoras básicas para se referir às mesmas habilidades.
Quando utilizadas para fins de performance no esporte, os estudiosos sugerem que essas habilidades ganham um status de especializadas, porque exigem que os graus de liberdade sejam mais controlados. Para esses teóricos, “graus de liberdade” seria algo semelhante à forma de realizar o movimento, considerando a biomecânica e o controle do nível das capacidades físicas exigidas para atingir maior performance em sua execução. Dessa forma, então, eu deixo de ter um movimento mais natural, com mais liberdade, e passo a ter um movimento mais técnico, por vezes, desconsiderando individualidades biológicas e culturais.
É importante que você esteja atento a essas reflexões. A história da Educação Física escolar já foi conduzida por diversas tendências pedagógicas, dentre as quais, uma que defendia a experimentação e reprodução do gesto esportivo técnico, como obrigatória para o estudante. Contudo, essa proposição foi contrariada por evidências, que associam a falta de motivação dos estudantes para a aula de Educação Física à desvalorização do componente curricular Educação Física, dentre outros, a essa tendência pedagógica.
Portanto, considerando a proposta da Base Nacional Comum Curricular para a Educação Física, bem como as evidências atuais sobre a pedagogia do esporte e da Educação Física escolar, devemos possibilitar uma experiência de aprendizagem aos estudantes de modo que compreendam as práticas corporais como fenômeno cultural dinâmico, diversificado, pluridimensional, singular e contraditório. Desse modo, é possível assegurar-lhes a (re)construção de um conjunto de conhecimentos que permitam ampliar sua consciência a respeito de seus movimentos e dos recursos para o cuidado de si e dos outros, e desenvolver autonomia para apropriação e utilização da cultura corporal de movimento em diversas finalidades humanas, favorecendo sua participação de modo confiante e autoral na sociedade (BNCC, 2018).
Observados esses pontos, utilizaremos os conceitos das habilidades propostos por FREIRE (2000, p. 105-106) nessa sequência de aulas:
Correr: Surgindo a partir da habilidade andar, o correr é caracterizado por uma fase de apoio e uma fase aérea, ou sem apoio.
Saltar: O propósito do salto é impulsionar o corpo para a frente e/ou para o alto, por meio do movimento das pernas, conjuntamente com a ação efetiva dos braços. O corpo fica suspenso no ar por alguns instantes, cumprindo a função do salto, ultrapassando um objeto, fazendo um arremesso, ou alcançando outro objetivo qualquer. Em qualquer salto, pode-se distinguir três fases: a impulsão, a fase de voo e a aterrissagem.
Arremessar: O objetivo do arremesso é propulsionar um objeto o mais longe possível, ou em direção a algum alvo. É uma habilidade tipicamente humana, que utiliza principalmente o braço, mas que exige também uma participação efetiva de todos os segmentos do corpo. Pode-se utilizar uma ou as duas mãos para realizar o arremesso.
O lançar e o arremessar são considerados sinônimos em sua etimologia. De acordo com Gallahue & Ozmun (2003, p. 262), o lançar “envolve imprimir força a um objeto a uma direção desejada”. O arremesso é um movimento realizado com as mãos e “varia conforme a forma, a precisão e a distância” (GALLAHUE; OZMUN, 2003, p. 299).
Ambos os verbos são utilizados para definir provas de atletismo (arremesso de peso, lançamento de dardo, martelo e disco). Neste plano iremos utilizá-los como ações semelhantes e complementares.
Os objetivos de aprendizagem desta sequência de aulas sugerem a experimentação mais específica de modalidades esportivas atreladas aos esportes de marca e precisão. Muitas destas modalidades exigem a utilização de determinados equipamentos em sua prática, tais como: o dardo, o martelo, o disco, a vara, as barreiras. Para tanto, diante dos desafios de acesso a esses equipamentos no contexto escolar, quer seja pela sua existência, qualidade ou quantidade, sugere-se a utilização de materiais recicláveis para a confecção desses equipamentos. Sendo assim, é possível associar, de forma transdisciplinar, competências e objetivos da área de linguagens e suas tecnologias, com a área de ciências da natureza. O meio ambiente também é um tema transversal na BNCC, tendo como assunto a educação ambiental e a educação para o consumo. O projeto desenvolvido por Santos (2012), chamado “Sucata Divertida”, traz uma excelente referência de como implementar essa ponte. A proposta exige que o professor de Educação Física se instrumentalize de conhecimentos prévios, atrelados à Educação Ambiental, e, em campo mais prático, no reaproveitamento de materiais recicláveis e sucatas para a construção de equipamentos esportivos.
Para tanto, sugere-se o acesso a algumas tecnologias digitais de informação e comunicação, a seguir relacionadas:
Bibliografia
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.
DE JESUS MANOEL, E. A abordagem desenvolvimentista da educação física escolar–20 anos: uma visão pessoal. Journal of Physical Education, v. 19, n. 4, p. 473-488, 2008.
FREIRE, E. S. Habilidades motoras básicas na Educação Física Escolar. Integração (São Paulo), São Paulo, v. 6, n.21, p. 104-109, 2000.
GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor:bebês, crianças, adolescentes e adultos. Phorte Editora: São Paulo, 2013.
SANTOS, F. S. Projeto Sucata Divertida: Cultura Ambiental na Educação Física. In: IV Congresso Sudeste de Ciências do Esporte/XII Congresso Espírito Santense de Educação Física. 2012.
Aula
Materiais sugeridos
Materiais recicláveis.
Aqui trazemos algumas sugestões de materiais. De acordo com a sua realidade, utilize materiais similares, alternativos ou adaptados para a prática.
Conversa inicial
Para essa sequência de aulas, é necessário que, antecipadamente, se solicite junto aos estudantes que tragam materiais recicláveis, dentre os quais: garrafas pet, caixas de leite longa vida, caixas de papelão, folhas de jornal, e um item importante para a confecção de um dos modelos de dardo, os flutuadores de piscina, popularmente conhecidos como “macarrões de piscina”. Com um macarrão, é possível a confecção de até três dardos.
Inicie a aula em roda com os estudantes. Pergunte sobre os materiais recicláveis que os estudantes trouxeram. Questione se foi fácil ou difícil encontrá-los. Solicite-lhes para compartilhar onde encontraram (casa, casa de parentes, rua, lixo, etc.). Questione sobre o que são materiais recicláveis. Pergunte se a família separa o lixo em casa. Solicite que compartilhem como realizam essa separação.
Estimule para que eles observem se é possível reutilizar materiais recicláveis na construção dos equipamentos necessários para esportes de marca e precisão. Pergunte se já reutilizaram algum material reciclável para outras funções ou para construir algo novo. Comente que irão produzir equipamentos para a prática de esportes de marca e precisão utilizando os materiais recicláveis que trouxeram. Lembrem-se de viabilizar a participação efetiva de todas e todos no diálogo. Para tanto, não hesite em utilizar material concreto, imagens e demais recursos para que a comunicação aconteça. Se for necessário, pode recorrer à descrição de imagens, tato e Libras de maneira que ninguém fique de fora.