Plano de aula: Danças e interação social

A dança faz parte da cultura do ser humano desde a pré-história. Antes de desenvolver a linguagem oral, o homem já utilizava a linguagem gestual, o corpo como instrumento para se comunicar, se expressar, festejar e cultuar seus deuses por meio da dança. Com o passar do tempo, a dança foi ganhando outros sentidos.

Para Araújo (2009, p.22), “A compreensão do que é dança dá-se por meio de uma série de fatores culturais, que são construídos com o passar do tempo e refletem a especificidade de cada local. Sendo assim, a dança toma seu significado de acordo com o contexto histórico, político e social no qual se insere”.

- Danças regionais

As danças regionais representam as tradições, os hábitos, os costumes e a cultura local das diversas regiões do país. 

- Danças e os elementos constitutivos

As danças são constituídas por três elementos básicos: os gestos, o espaço e o ritmo.

Os gestos são os movimentos executados pelo corpo ou por alguma parte dele. O ritmo é a referência temporal e pode ser lento, moderado ou rápido. E o espaço refere-se ao limite de abrangência do movimento, que é medido pela extensão ou flexão dos membros superiores e inferiores, e ao local onde os movimentos acontecem.

- Importância das danças para seus praticantes

As danças regionais têm objetivos específicos em cada cultura. Elas são utilizadas como manifestação artística, possibilitando a comunicação e a expressão do praticante, além de dialogar com outras áreas de conhecimento.

- Importância dos espaços como ambiente físico e social para a prática das danças regionais

A dança é, por excelência, um espaço de interação social que é um dos princípios essenciais para o desenvolvimento cognitivo.

O ensino das danças regionais abrange o cotidiano social dos estudantes e entende que cada corpo possui seu próprio vocabulário de movimento, construído por meio das experiências vividas. Quando esses movimentos são colocados em contato com outros, acabam se transformando, pois quando tocamos alguém, somos tocados também, o toque é uma forma de comunicação e exige respeito, cuidado e empatia com o interlocutor.

Bibliografia

ARAÚJO, S. P. A dança na escola. 54 f. Monografia (Graduação) – Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009.

Materiais sugeridos

• Músicas características de danças do contexto regional.
• Equipamento para reproduzir música.
• Equipamento para reproduzir vídeos (opcional).
• Vídeos, imagens de danças características da sua região (opcional).
• Folhas de papel A4 (uma para cada grupo).
• Lápis de cor.

Aqui trazemos algumas sugestões de materiais. De acordo com a sua realidade, utilize materiais similares, alternativos ou adaptados para a prática.  

Conversa inicial

Organize os estudantes em roda e pergunte sobre as danças que conhecem. Incentive a participação de todos, oportunizando que se expressem e ouçam os outros colegas respeitosamente.

A partir das danças citadas, converse com a turma e reforce com eles quais são consideradas regionais, apontando suas características específicas (ritmo, gestos, vestimentas, espaços de execução). Saliente as interações pessoais decorrentes da execução dessas danças em diferentes situações, como, por exemplo: datas comemorativas (quadrilha junina), locais (zona rural - Catira), eventos (Festival de Parintins), faixa etária (crianças - rodas cantadas), classe trabalhadora (pescadores - puxada de rede), matrizes culturais (matrizes indígena e africana - Maculelê).

Trabalhe sempre a partir das potencialidades de seus estudantes, ou seja, do que são capazes de fazer e de aprender, e não a partir de suas eventuais dificuldades. Procure utilizar diferentes linguagens (oral, visual, tátil), apresente imagens, vídeos, se possível até uma vestimenta característica para que possam experimentar. Sente-se perto dos estudantes com alguma dificuldade, busque garantir que todos acompanhem a atividade.

Atividade

Explorando as possibilidades das danças regionais

Ritmos e gestos (ampliação do repertório de movimentos)

Peça aos estudantes que andem livremente e explorem todo o espaço. Utilize músicas de danças do seu contexto regional, com diferentes ritmos, e proponha a brincadeira “Siga o mestre”. Nessa brincadeira, um dos estudantes é o mestre e qualquer movimento que ele faça todos devem imitar. Após a sugestão de três movimentos, troca-se de mestre. O objetivo é que todos da turma sejam, pelo menos uma vez, mestre. Sugira um desafio motor nos quais os estudantes experimentem:

1- Diferentes tipos de movimentos: estender, flexionar, andar, correr, rolar, saltitar, saltar, girar.

2- Com várias partes do corpo: braços, pernas, mãos e pés, cabeça, ombro e tronco.

3- Por todo o espaço que o corpo alcança: frente, trás, em cima, embaixo, laterais e diagonais.

Onde e com quem se movimenta (importância das interações sociais)

Utilize músicas características de uma dança do seu contexto regional e peça aos estudantes para se locomoverem livremente pelo espaço da aula. Ao seu sinal, solicite que eles cumprimentem o colega que está mais próximo. Repita de 3 a 5 vezes para que os estudantes tenham chance de cumprimentar vários colegas.

Proponha que continuem locomovendo-se ao som da música e, ao seu sinal, reúnam-se em grupos de três estudantes. De mãos dadas, sem poder soltar-se, devem continuar a atividade e, a cada sinal, somam-se a outros três colegas até que toda a turma esteja reunida em um só grupo.

Então, desafie-os: Todos devem locomover-se pelo espaço, seguindo o ritmo da música, sem soltar as mãos. Explore movimentos e gestos em diferentes sentidos e direções: esquerda e direita, frente e trás, perto e longe, reto, angular e curvo, plano alto, médio e baixo.  

Fique atento à turma, verifique se é preciso propor alguma alteração específica, adaptação da proposta, para garantir o acesso e a participação de todos.

Ressalte a importância do autoconhecimento corporal e o respeito às singularidades de cada corpo, sabendo que cada corpo é único e se movimenta a sua maneira, por isso não existe movimento certo ou errado, movimento é expressão.

Momento da reflexao

Após a experimentação, reflita com a turma sobre a vivência.

Como se sentiram realizando os diversos movimentos ao som de músicas características das danças regionais de seu contexto?

Todas as danças regionais utilizam o mesmo tipo de música, com o mesmo ritmo? Quem consegue diferenciar o ritmo das danças regionais?

Quais movimentos característicos das danças regionais foram experimentados?

Eles são realizados no plano alto, médio e baixo?

Como vocês se locomoveram pelo espaço?

Em qual espaço costumam ser realizadas essas danças?

Sobre a dança e a interação social, pergunte aos estudantes:

Como as danças regionais que estão aprendendo são executadas? Individualmente? Em duplas ou em grupos?

Em que momentos da nossa vida a dança está presente? Nesses momentos estamos sozinhos ou com a família e os amigos?

Quem dança essas ou outras danças regionais com os familiares?

Como foi realizar as atividades em duplas e em grupos?

Converse sobre as situações que surgirem, alguns estudantes podem apresentar dificuldades para estabelecer contato. O toque físico, por sua vez, mesmo que cauteloso, pode machucar o outro ou mesmo provocar certo constrangimento.

É importante que entendam que a proposta é fazer junto, que estar entre amigos é muito saudável e gostoso e que é preciso respeito com o outro e cuidado para que todos possam participar.

Converse com a turma sobre alterações na atividade, caso seja necessário, para que todos os colegas possam dançar. Podemos encontrar maneiras bem legais e divertidas para que todos participem juntos, os próprios estudantes podem sugerir e ajudar nas adaptações.

Sistematizacao do conhecimento

Faça um fechamento, abordando o que foi aprendido na aula, conceitos, procedimentos e atitudes. Reforce as competências trabalhadas: a valorização dos conhecimentos historicamente construídos pelo homem, a empatia e a cooperação com os colegas durante as atividades em grupo, e a importância de agir coletivamente de maneira respeitosa e inclusiva.

Explique que as danças regionais são executadas ao som de diferentes ritmos musicais, e cada uma delas tem seus movimentos específicos, que, muitas vezes, representam a vida cotidiana de seus praticantes.

Destaque que o corpo se move no espaço por meio dos diferentes planos (alto, médio e baixo) e que existem variadas formas de locomoção e exploração do espaço, um dos elementos constitutivos da dança.

Com relação à organização das danças de seu contexto regional, evidencie como são executadas: individualmente, em duplas ou em grupos, em datas e locais especiais, e promovendo a interação entre as pessoas.

Registro e avaliacao

Registro

Separe a turma em pequenos grupos, distribua a cada grupo uma folha de papel A4, alguns lápis de cor e peça para que registrem em um desenho coletivo o que aprenderam na aula (danças regionais, principais gestos, vestimentas, locais onde são executadas e organização - são executadas individualmente, em duplas ou em grupos). Observe se outros produtos podem ser feitos, como trabalhos manuais utilizando palitos ou bonecos de materiais recicláveis.

Avaliação

Após terminar os desenhos, solicite a cada grupo que apresente e explique para toda turma o trabalho realizado, assim será possível avaliar a aprendizagem dos estudantes.

Observe os estudantes durante a produção coletiva dos desenhos, como interagem com os colegas frente a uma tarefa coletiva. São empáticos? Cooperam? Apresentam dificuldade de trabalhar em grupo?

Durante a apresentação, observe a desenvoltura de cada estudante, a oralidade e a argumentação.

Devolutiva

Assim que todos os grupos apresentarem suas produções, ofereça uma devolutiva à turma. Pontue os pontos positivos observados e aqueles que podem ser melhorados.

Barreiras

Barreiras

• Limitar as experiências dos estudantes na exploração do elemento espaço.
• Exigir movimentos coreografados específicos das danças regionais.
• Limitar as trocas e discussões a poucos estudantes nos momentos de fala.

Sugestões para eliminar ou reduzir as barreiras

• Possibilitar adaptações aos movimentos das danças.
• Propor meios para pessoas com baixa audição sentirem a música por meio da vibração.
• Propor estratégias para que todos os estudantes possam verbalizar as suas sensações e participar das discussões.

Desdobramentos

Para os desdobramentos, explore o ritmo de outras danças regionais. Investigue as danças características do contexto familiar e social dos estudantes e, a partir delas, organize-os em dois grupos e solicite que se organizem em duas filas, uma de frente para a outra. A atividade inicia com uma turma fazendo o ritmo (turma A) para que a outra (turma B) execute os movimentos.  1- A turma A marca o ritmo com as mãos, batendo palmas, e a turma B faz movimentos com os braços. 2- A turma A marca o ritmo com os pés, batendo os pés no chão, e a turma B faz movimentos com as pernas.  3- A turma A marca o ritmo com as mãos e os pés, e a turma B coordena movimentos com os braços e as pernas. Inverta as ações, a turma B agora marca o ritmo e a Turma A realiza os movimentos. Aproveite novamente para ampliar as possibilidades de exploração do elemento espaço com combinações de movimentos e gestos em diferentes sentidos e direções: esquerda e direita, frente e trás, perto e longe, reto, angular e curvo, plano alto, médio e baixo.

A partir dessa experimentação, proponha a realização de movimentos em duplas, trios ou grupos. Os próprios estudantes devem criar os movimentos e gestos. Posteriormente, peça a cada grupo para mostrar os movimentos que criaram e solicite aos demais estudantes da turma para experimentar a sua execução.

Priorize em todos os momentos o desenvolvimento da empatia, do cuidado e do respeito com o outro, aprimorando as relações interpessoais, além de produzir conhecimento a partir da experiência.